Jackie Morris © Magpie – do livro The
Lost Words (2017) |
«Our
minds are all threaded together, and all the world is mind», palavras proféticas
da jovem escritora Virginia Woolf, proferidas no seu diário, no dealbar do
século XX. Só meio milénio depois de Descartes ter separado a consciência do
corpo é que se começou a esboçar a crescente compreensão de que a consciência é
um fenómeno de corpo inteiro, talvez até um fenómeno para além do corpo. Em The
Extended Mind: The Power of Thinking Outside the Brain (2021), Annie
Murphy Paul explora precisamente as fronteiras liminares dessa crescente compreensão,
fundindo um século de estudos no âmbito das neuro-ciências com milénios de
experiência de pensadores de diversos ramos do saber. Desafiando a herança
cultural de pensar que o pensamento ocorre apenas dentro do cérebro, Paul
revela inúmeras maneiras pelas quais «usamos o mundo para pensar». Somos seres moldados
pelo ambiente onde vivemos e pelas nossas interacções com outros seres, como foi
referido por Rachel Carson: «existe em nós uma resposta profundamente enraizada
no universo natural, que faz parte da nossa humanidade». Nós podemos
estender-nos e entrelaçar o mundo com os nossos pensamentos, tal como o mundo
pode envolver-nos e provocar pensamentos em nós. Um
aspecto importante dessa mente expandida é a nossa capacidade de interocepção:
sensações internas do corpo que nos dão um tipo de conhecimento não consciente,
que podemos chamar de intuição e que está enraizado na experiência
corporificada concreta. Podemos não detectar esses “sinais” conscientemente,
mas reagimos aos seus estímulos.
No livro The Extended Mind, Paul explora a compreensão crescente da intrigante relação biunívoca corpo/mente e ambiente sob três perspectivas distintas:
1) cognição incorporada, a contraparte empírica da observação do dramaturgo e poeta austríaco Thomas Bernhard de que «não há nada mais revelador do que ver uma pessoa que pensa andando, assim como não há nada mais revelador do que ver uma pessoa que anda pensando»;
2) cognição situada, a contraparte empírica da observação da montanhista e poeta escocesa Nan Shepherd de que «lugar e mente podem interpenetrar-se até que a natureza de ambos seja alterada»;
3) e cognição distribuída, o eco empírico da visão de Virginia Woolf de que «todo o mundo é mente».
Perspectivas que confirmam a declaração surpreendente e surpreendentemente fundamentada do pioneiro da física quântica Erwin Schrödinger de que «o número total de mentes é apenas uma».
Passados exactamente 117 anos da data de nascimento de Agostinho da Silva, lembramos, hoje (13/02/2023), um trecho revelador do pensamento desse saudoso filósofo e poeta:
«Não
tenho a certeza de ser autor daquilo que escrevi. Não tenho a certeza de que as
ideias de alguém nasçam da cabeça desse alguém.»
Sem comentários:
Enviar um comentário