sexta-feira, 22 de junho de 2018

Barefooting

Barefooting and dragging the third limb!... :)


© Algures na Net


Post scriptum: Tendo em conta os tão notórios quão evidentes plágios de diversas abordagens e ideias veiculadas aqui no Pedestris, deixamos mais uma sugestão sui generis para aplicação comercial na área das caminhadas. Dá-nos sempre um certo prazer contribuir para a inovação neste sector da indústria do “ar condicionado”. Bem-hajam!...

terça-feira, 19 de junho de 2018

Andar Bem



O Colectivo Zebra realizou, nos dias 15 a 17 de Junho, uma acção de formação e um brainstorm com vista à implementação em Portugal de uma iniciativa semelhante ao programa inglês Walking for Health.  Para tal, contou com a presença do Rob Wallis, o responsável pelo programa levado a efeito pela associação The Ramblers, e um diversificado conjunto de colaboradores da iniciativa agora lançada em Portugal. O programa que, no nosso país, terá a designação Andar Bem, comporta a importante inovação de incluir a participação de técnicos especializados na área da saúde: médicos, enfermeiros, fisiologistas do exercício, fisioterapeutas, etc.. O projecto piloto, que se iniciou na Unidade de Saúde Familiar de Monte da Lua, já conta com um percurso devidamente delineado e uma motivada equipa de colaboradores.



segunda-feira, 18 de junho de 2018

No Céu

No Céu, com os pés na Terra…

M. C. Escher © 

Nota: um dia após o nascimento do artista holandês Maurits Cornelis Escher (17 de Junho de 1898).

Marcha Nórdica


O Centro de Formação da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP) vai realizar, no próximo dia 28 de Junho, uma acção de formação sobre marcha nórdica na óptica do desporto para todos. Uma iniciativa a não perder não só pela temática em causa como também pela qualidade do palestrante que é, sem dúvida, um dos maiores especialistas da modalidade no nosso país.

A marcha nórdica é uma interessantíssima forma de praticar actividade física e de treinar, com enormes potencialidades e benefícios para a saúde, o desempenho e o bem-estar dos praticantes. Esta iniciativa, organizada no âmbito das acções de formação mensais Palestras da Montanha, é validada pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) para atribuição de Unidades de Crédito com vista à revalidação do Título Profissional de Treinador de Desporto em Pedestrianismo e/ou Montanhismo de Graus I, II e III.

Para mais informações, consulte o site da FCMP.



De provisório a permanente



O Título Profissional de Treinador/a de Desporto (TPTD) é o documento oficial que habilita o exercício das funções de treinador/a em Portugal, no âmbito da aplicação do Programa Nacional de Formação de Treinadores (PNFT), decorrente da Lei 40/2012, de 28 de Agosto.
A emissão do TPTD é da competência exclusiva do Instituto Português do Desporto e Juventude, I.P. (IPDJ, IP) e, numa fase inicial, correspondente ao designado “Regime Transitório”, os detentores de diplomas comprovativos de formação de treinador emitidos, por Federação de Utilidade Pública Desportiva (UPD), tiveram a oportunidade de solicitar essa titulação no portal ProDesporto: TPTD de Graus I, II e III, respectivamente.
Devido a diversas circunstâncias, o Regime Transitório foi reaberto por um novo período de tempo e, após o seu término, aqueles que não solicitaram a respectiva equivalência viram essa possibilidade interditada novamente. Agora, que se aproxima a data de renovação de muitos dos TPTD (cuja validade é de cinco anos), o Regime Transitório foi tornado permanente e, neste contexto, volta a ser possível solicitar o TPTD no portal ProDesporto… Portanto, todos aqueles que foram credenciados, por uma Federação UPD, como treinadores e que, por qualquer motivo, não solicitaram a equivalência ao respectivo TPTD voltam a ter a oportunidade de o fazer.
Para mais informações, consulte o IPDJ através do telefone 210 470 000 ou do email td@ipdj.pt.



No LABoratório


Pedro Cuiça © Centro Desportivo Nacional do Jamor (17 de Junho de 2018)

Mais um domingo no LABoratório… O projecto Ande pela Sua Saúde e pela Saúde do Planeta passo a passo, no Centro Desportivo Nacional do Jamor (CDNJ), numa nova fase de desenvolvimento: no terreno, gratuito e aberto a todos; pela promoção e implementação de boas práticas de actividade física regular e integrada no dia-a-dia dos cidadãos em geral.


sábado, 16 de junho de 2018

Desatenção

Desatenção plena ou distracção plena, no caminhar:

Não estou nem aí! 
- Onde? 
- Sei lá!...



quinta-feira, 14 de junho de 2018

Uma Safe Talk



Na próxima quarta-feira (dia 20 de Junho) irei apresentar uma Safe Talk sobre Leitura e Interpretação da Paisagem em Actividades de Montanha: conceitos, metodologias e aplicações. A iniciativa terá lugar, pelas 20.00, na sede do SAFE – Aventuras Verticais e é de entrada livre, bastando efectuar a inscrição por forma a que possa ser feita uma adequada gestão do número de lugares.
«O ambiente em montanha apresenta-nos diversos desafios e está em constante mudança, pelo que se torna fundamental saber interpretar o que nos rodeia e minimizar os riscos que qualquer actividade outdoor apresenta.» Não basta olhar o que nos “rodeia” é preciso ver, interpretar e tirar as devidas ilações, designadamente para tomar decisões consentâneas.


O Silêncio do Andar


Luísa Sousa © Albergaria Rincon del Peregrino (Camino Sanabrés)

«De novo sozinha, o sentimento era outro. Os dias que tinha caminhado só, desde que tinha deixado o Pedro, o Emílio e o Doriano e antes de encontrar o Yves, deram-me confiança. Demonstraram-me que eu era capaz e, acima de tudo, que estava bem comigo própria. Conseguia passar horas e horas em silêncio, comigo, sem me entediar. Aliás, cada vez mais, apreciava o silêncio e raramente me sentia só. Estar só não era sinónimo de solidão. Encontrava-me de novo sozinha, mas já nada era igual!»
[SOUSA, 2016: 73]

«Naquele dia, caminhámos os dois, lado a lado, por muito tempo, quase sempre em silêncio. Há silêncios incomodativos ou ensurdecedores, aquele era confortável. Sabia bem partilhar o silêncio
[SOUSA, 2016: 148]

«Comparativamente com outros Caminhos, a Via de la Plata é (ainda) um caminho despido de adornos: poucas estátuas, pinturas, grafittis, painéis e afins, relacionados com Santiago e o “mundo peregrino”. Esta “aridez” de incentivos e lembranças, ao provocar menos distracções, faz-nos viajar ainda mais para dentro de nós. Por vezes, passamos dias sem ver a contagem decrescente dos quilómetros, acabamos por nos abstrair de tudo isso e a viver apenas o dia-a-dia.
(…) As povoações ainda estão direccionadas para quem lá vive e não apenas para os peregrinos e o comércio que os rodeia; há espaço para estar só, em silêncio e paz, aliada à oportunidade de espírito de comunidade com os outros peregrinos e de criar laços fortes com os mesmos pela escassez de outras ofertas e distracções.
Para todos os que se queixam do rumo que o Caminho Francês leva, este pode ser encarado como um regresso às origens!»
[SOUSA, 2016: 254-255]



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SOUSA, Luísa. Um Caminho para Todos – Diário de uma peregrina no Caminho de Santiago. Columbia (USA): CreateSpace, 2016, pp. 268. ISBN 978-1523804795


quarta-feira, 13 de junho de 2018

Caminhar/Caminho




Qualquer caminho leva a toda a parte.
Qualquer ponto é o centro do infinito.
E por isso, qualquer que seja a arte
De ir ou ficar, do nosso corpo ou espírito,
Tudo é estático e morto. Só ilusão
Tem passado e futuro, e nela erramos.
Não há estrada senão na sensação
É só através de nós que caminhamos.

Tenhamos pra nós mesmos a verdade
De aceitar a ilusão como real
Sem dar crédito à sua realidade.
E, eternos viajantes, sem ideal
Salvo nunca parar, dentro de nós,
Consigamos a viagem sempre nada
Outros eternamente, e sempre sós;
Nossa própria viagem é viajante e estrada.

Que importa que a verdade da nossa alma
Seja ainda mentira, e nada seja
A sensação, e essa certeza calma
De nada haver, em nós ou fora, seja
Inutilmente a nossa consciência?
Faça-se a absurda viagem sem razão.
Porque a única verdade é a consciência
E a consciência é ainda uma ilusão.

E se há nisto um segredo e uma verdade
Ou deuses ou destinos que a demonstrem
Do outro lado da realidade,
Ou nunca a mostrem, se nada há que mostrem.
O caminho é de âmbito maior
Que a aparência visível do que está fora,
Excede de todos nós o exterior
Não para como as coisas, nem tem hora.

Ciência? Consciência? Pó que a estrada deixa
E é a própria estrada, sem estrada ser.
É absurda a oração, absurda a queixa.
Resignar(-se) é tão falso como ter.
Coexistir? Com quem. Se estamos sós?
Quem sabe? Sabe [] que são?
Quantos cabemos dentro de nós?
Ir é ser. Não parar é ter razão.

Fernando Pessoa (11/10/1919)



segunda-feira, 11 de junho de 2018

Adéu i bona sort


Em van preguntar si podia presentar la Sílvia Vidal dins del Cicle de Muntanya de la Diputació de Tarragona. Ella aquest any há estat una de les conferenciants del Cicle amb la seva projecció Un pas més, dedicada a la ruta que ha obert a la cara oest del pic Xanadu, als Arrigetch Peaks d’Alaska (A4/A4+, 6a, 530 m). Evidentment amb un estil marca Sívia Vidal: sola i totalment incomunicada durant els cinquanta-tres dies que va durar l'av’ntura.
Estar incomunicada avui en dia és un concepte impracticable. Sense anar més lluny, justament la mateixa setmana del Cicle de Tarragona es va celebrar a Barcelona el famós Mobile World Congress. Mentre uns es tornaven bojos buscant l’últim avenç de telèfons mòbils, altres ens quedàvem amb la veueta de la Sílvia explicant com negociava amb els ossos per poder anar a escalar. Un pilot d’un hidroavió la deixa al mig d’un llac d’una vall perduda d’Alaska i li diu: «D’aqui a 53 dies vinc a buscar-te. En aquest mateix punt. Adéu i bona sort.» La Sílvia pretén arribar, ella i els 150 quilos de material i menjar, a una paret que es troba a 27 quilòmetres en línia recta, sense GPS ni cap mitjá de navegació modern. Ha de realitzar el camí vint vegades per poder transportar el material. En total, 36 dies caminant per fer 540 km i 17 dies d’escalada per obrir 530 metres de via.
(…) Quan preguntes a la Sílvia per què no porta telèfon a les expedicions, la seva resposta és que si portés, potser cometria l’error d’utilizar-lo.
(…)
Ester Sabadell in Vèrtex (2018: 9)

© Algures na Net


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SABADELL, Ester. Aventura en solitari, lluny del Mobile World Congress. Barcelona: Federació d’Entitats Excursionistes de Catalunya, revista Vèrtex, nº 277, Mar./Abr. 2018, pp. 98. ISSN 0042-4420



sexta-feira, 8 de junho de 2018

Companheirismo


DR ©

O pedestrianismo iniciou-se e desenvolveu-se, durante décadas, exclusivamente no seio do associativismo. Essa actividade começa a ser praticada em Portugal, no final do século XIX, entre amigos e pouco depois, no começo do século XX, no seio de clubes. Os pioneiros desse desporto pedestre foram os movimentos escotista e campista que se dedicaram de forma afincada, desde a sua origem, aos raids e às marchas.1
(…)

DR ©

O livre associativismo pedestre
Não será por acaso que os praticantes, no movimento associativo, se tratam por «companheiros», numa manifesta expressão do significado etimológico de partilha do pão. Mas, nesta actividade partilha-se muito mais do que o pão (mesmo no seu sentido simbólico), vivenciam-se experiências que só as longas horas ao ar livre e a verdade dos elementos naturais permitem. Dificilmente existirá outra actividade tão abrangente em termos etários e tão democrática no tocante à sua capacidade agregadora de indivíduos, independentemente do seu estrato social ou da sua capacidade económica, física e/ou mental. Por isso, esta actividade é amplamente inclusiva no que se refere a «públicos especiais»: crianças, idosos, grávidas, pessoas portadoras de deficiência, entre outros. Acresce ao referido que o pedestrianismo pode e deve ser praticado em grupos formais ou informais, de (des)conhecidos, de amigos e/ou familiares, (…) com manifestas mais-valias no que respeita à convivialidade e à sociabilidade, fortalecendo deste modo os laços de camaradagem e de companheirismo. De há décadas a esta parte que se vem falando da crise do associativismo, fenómeno que mais não será do que a expressão da própria crise de valores em que a sociedade se vê emersa. Nesse contexto, será importante equacionar qual o actual e o futuro papel do associativismo na prática de pedestrianismo. Quais os desafios que o século XXI apresenta?
[CUIÇA, 2015: 43-45]

© Algures na Net

NOTAS
1- A Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP), fundada em 1913, e, posteriormente, o Corpo Nacional de Escutas (CNE), em 1923, contribuíram significativamente para a implementação do campismo desportivo no país, destacando-se entre as suas actividades as caminhadas. Os primeiros grupos de campistas surgiram na década de 1920 e a Federação Portuguesa de Campismo (FPC) foi fundada em 1945. Esta federação e os clubes seus filiados também se dedicaram à prática de marcha. A actual Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), por via da Utilidade Pública Desportiva (UPD), é a entidade que tutela a prática de pedestrianismo e a homologação de percursos pedestres GR® [Grande Rota®e PR® [Pequena Rota®]. [CUIÇA, 2015: 299]

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CUIÇA, Pedro. Passo a Passo – Manual de Caminhada e Trekking. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015, pp. 312. ISBN 978-989-626-721-6



quinta-feira, 7 de junho de 2018

Em defesa do silêncio


© Algures na Net

Perché solo i poeti e gli scrittori i suoni della natura? Forse perché il loro compito è ricordarci che i suoni naturali migliorano la vita. Non della natura, badate bene. Ma naturali. Niente fabbriche, niente macchinari, niente auto, niente trafico. Nessun martello che batte o ferro che stride, bensì suoni naturali come il cigolìo di un legno, il fruscìo delle foglie solleticate dal vento, il richiamo ciclico e musicale di un uccellino. Purtroppo oggi c’é chi interpreta questi segnali come la banalità stereotipata del bello. Eppure è a quella musica naturale che è stato abituato il nostro orecchio. Non alla meccanica, al caos, ai decibel sempre un po’sopra la media.
(…) Por ci sono persone come Gordon Hampton. Lui, ecologo americano, è un cercatore di suoni naturali e di silenzi. Da 35 anni gira il mondo e com microfono alla mano e registra i “suoni dell’esistenza” minacciati dai rumori. Dice di aver trovato solo una cinquantina di luoghi non infestati da rumori prodotti dall’uomo. Nell’Olympic National Park (Washington) c’è uno degli ultimi luoghi silenziosi della terra. Lì, nel 2005, Hampton há creato un santuario del silenzio, segnalato da una pietra rossa su un tronco di muschio. Anche noi abbiamo a cuore il suono del silenzio e continuiamo a pensare che le montagne – così come la nostra esistenza – devono essere protette dal rumore aggressivo della frenesia meccanica. Faccio mie le parole di Franco Michieli: “La durata al di fuori della fretta del mondo lascia spazio al silenzio; l’ascolto dell’impercettibile permette il rivelarsi del profondo” (Andare per silenzi, Sperling & Kupfer, 2018). Un profondo che ciascuno di noi trova tra lo scricchiolìo del fogliame secco sotto lo scarpone, il ciottolìo dei sassi, il mormorio dell’acqua dei torrenti o rivolgendo lo sguardo al silenzio luminoso di una stellata in una notte in quota.
[CALZOLARI, 2018: 3]



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CALZOLARI, Luca. Difendere il silenzio. Montagne360 – La rivista del Club Alpino Italiano, nº 69, Jun. 2018, pp. 68.


Experiências cognitivas



Le transcendantalisme prône la méditation, l’observation et la contemplation afin de parvenir à une conscience plus grande de la «réalité ultime», appelée par [Ralph Waldo] Emerson da «Surâme» et par [Henry David] Thoreau la «sympathie avec l’intelligence». Il se démarquait des movements évangéliques qui se référaient toujours aux Écritures. Selon la doctrine transcendantalisme, il faut chercher dans la Nature une vérité et une perfection épiphanique. «L’immanence de Dieu dans la Nature rend possible l’expérience directe du sacré, écrit Michel Granget, dans la contemplation de ses productions multiples, et comme il existe des correspondances sous-jacentes entre l’âme humaine et la Nature, entre le microcosme de l’esprit et la Surâme, l’observation des phénomènes naturels permet d’accéder à une compréhension supérieure des lois qui régissent l’homme. Des nombreux transcendantalistes font ce qu’ils appelaient des «appréhensions intuitives» du réel, en fait d’ordre mystique, au sens épistémologique du terme : elles étaient avant tout, comme l’explique Sherman Paul, «une expérience cognitive».
[Thierry Gillyboeuf in THOREAU, 2011: 80-82]


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
THOREAU, Henry David. Résister – à la tentation du laissez-faire, au réformisme, à l’esprit commercial des temps modernes. Paris: Librairie Arthème Fayard, 2011, pp. 96. ISBN 978-2-75550-623-5


quarta-feira, 6 de junho de 2018

Andar Saudável


A Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP) realiza, aos domingos de manhã, das 9.30 às 11.30/12.00, caminhadas gratuitas e abertas ao público em geral, no Centro Desportivo Nacional do Jamor (CDNJ). Essas actividades inserem-se no Ande pela Sua Saúde e pela Saúde do Planeta, um programa que tem vindo a ser implementado, desde 2008, pela FCMP, incentivador de boas práticas ambientais, de saúde e bem-estar, com base no andar a pé.
As actividades semanais serão enquadradas por detentores do Título Profissional de Treinador de Desporto em Pedestrianismo de Graus I, II e/ou III. O ponto de encontro dos participantes é na Estrutura Artificial de Escalada da FCMP, situada no Parque Urbano do Jamor (coordenadas UTM 29S 477682 4284222).
Para mais informações, consulte a FCMP (218 126 890) ou o CDNJ (214 144 030).


Foca-te



Os psicólogos estão, desde há muito, fascinados pelo conceito da atenção, embora ele tenha adquirido outro fôlego nesta nossa era da distração, ou, como Paul Atchley a designou, nesta «economia da atenção».
A atenção é a nossa moeda de troca, e é preciosa. O filósofo William James, pioneiro da psicologia experimental e irmão de Henry James, dedicou um capítulo inteiro do seu clássico The Principles of Psychology, publicado em 1890, à atenção. Nele, o autor afirma o seguinte: «Todos sabem o que é a atenção. É a tomada de posse pela mente []» e «A minha experiência é aquilo a que me convém atender [] Sem interesses seletivos, a experiência é o caos total». James dividiu a atenção em dois tipos fundamentais que continuam a definir a maneira como pensamos sobre ela: atenção voluntária e ativa (quando, por exemplo, desempenhamos tarefas) e atenção involuntária ou reflexiva (quando algo exige o nosso foco, como um ruído, um som, um jogo de luz ou mesmo um pensamento errático). Décadas antes do surgimento das mensagens de texto, os filósofos estavam preocupados com o que James descrevia como sendo «um estado de confusão, desorientação e dispersão a que os franceses chamam distração». (Antes de deixarmos William James, não posso deixar de mencionar que ele sofria de depressão e que viveu uma experiência transformadora ao percorrer as montanhas Adirondack em 1898. Tal como descreveu à sua mulher, ficou «num estado de abertura espiritual com os mais vitais contornos». Emerson era seu padrinho e, talvez por isso, tenha sido preparado para aderir voluntariamente a esta possibilidade.)
James sabia que permanecer concentrado numa tarefa era um trabalho muito difícil e que, sem esta capacidade, como [Clifford] Nass veio a confirmar, nos tornamos mais estúpidos, pelo menos de acordo com certos padrões (segundo outros, as distracções da era digital podem ser uma troca razoável por aquilo que os nossos cérebros ganham com o acesso a mais informação e a maior armazenamento de memória). Curiosamente, contudo, também ficamos limitados na nossa capacidade de captar o meio envolvente porque, de outra forma, os nossos cérebros ficariam sobrecarregados de estímulos. O nosso campo visual torna-se bastante reduzido, a nossa audição também sai prejudicada e não conseguimos sequer processar a maior parte do que ouvimos e «vemos». Só conseguimos prosperar no mundo porque os nossos cérebros são muito bons a fazer triagens automáticas.
[WILLIAMS, 2018: 52-53]


NOTA
A atenção/concentração é algo que pode e deve ser treinado e, nesse contexto, as caminhadas constituem uma prática privilegiada para o desenvolvimento dessa capacidade. Fizemos interessantes experiências nesse âmbito, a nível da atenção plena, de elevados níveis de atenção e da atenção com fins terapêuticos tendo obtido invariavelmente interessantíssimos resultados. A prática regular de meditação, e a própria integração dessa prática nas caminhadas, incrementa substancialmente a capacidade de "foco"...
  
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
WILLIAMS, Florence. A Natureza Cura. Lisboa: Bertrand Editora, 2018, pp. 304. ISBN 978-972-25-3475-8

terça-feira, 5 de junho de 2018

Dizem que é...

Dizem que é Dia do Ambiente!

«Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo.»
Álvaro de Campos (1916)

«O meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.»
Álvaro de Campos (1934)

«Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…»
Alberto Caeiro (1946)

Bill Anders © Nascer da Terra (Apollo 8, Dezembro de 1968)

Hoje que se comemora o Dia Mundial do Ambiente será uma ocasião auspiciosa para abordar “novas” perspectivas de (re)ligação à Terra1, na sequência não só de diversas intervenções da nossa parte sobre o andar a pé – de que se destaca a palestra Caminhada Holotrópica (2017) – como também, e ademais, sobre formas holísticas de estar/ser (n)o mundo. É sobre esta última abordagem que gostaríamos de nos focar tendo em conta, no nosso entender, a sua pertinência. Foi, aliás, neste contexto que sentimos a premência de apresentar um Pedisfesto Ecológico (2018), uma espécie de manifesto às avessas, aparentemente paradoxal e antinómico, com o objectivo de alertar para a necessidade de adoptar perspectivas diversas e essencialmente inclusivas, com vista a (tentar) resolver a vigente situação de “desastre ambiental”.
Ao contrário do que é usual, neste dia, não iremos falar sobre o choque perante a destruição da biodiversidade (a 6ª extinção em massa), a lixeira em que estamos a transformar o planeta Terra, o envenenamento da Biosfera ou as tão propaladas alterações climáticas, entre outras calamidades. Interessa-nos mais o maravilhamento face à imensidão do espaço-tempo e à pluralidade de interrelações entre os seres bióticos e abióticos ou o bem-estar estético de fazer parte de uma paisagem.  E isto porque consideramos que a origem e a resolução desses e de outros problemas, ditos “ambientais” (!), está nos modos de pensar/agir e não em paliativos “mais do mesmo”. A revolução terá inevitavelmente de passar pela transformação dos padrões psicológicos e comportamentais vulgares, designadamente através de uma crescente sensibilidade e sensibilização a nível da ecoliteracia, ecopsicologia e eco-espiritualidade que se traduza numa ecologia activa (engaged ecology). E é nesse contexto de transição que toma uma especial relevância a convivência de aparentes opostos e o respeito pela diferença.

Terra e Lua © Algures na Net

A maior sofisticação será ir às origens com saudades do futuro. Por um lado, religar-se ao primevo, ir ao encontro da Natureza, que o mesmo é dizer da sua natureza enquanto ser humano – porque nós somos Natureza – através, por exemplo, de processos de rewilding: caminhadas ao ar livre, banhos de floresta, ordálios na natureza selvagem, etc.. Por outro, estar (pre)disposto a inovadoras formas de pensar/agir, mormente ser cidadão do mundo, respeitar a diversidade na unidade e acabar com os “tribalismos”: abolir o paradigma vulgar e grosseiro de “nós somos os bons e os outros são os maus”2! Nos tempos que vivemos aquilo de que precisamos não é tolerância mas sim respeito: ir ao encontro do outro e tentar/experimentar tantas aproximações quantas as que forem necessárias para compreender a(s) diferença(s), aprender com o que é diferente e… mudar para melhor. É fundamental usufruir as múltiplas cores do real, como um arco-íris pleno de possibilidades e de diversidade: a realidade não é a preto e branco; nem sequer é verde! E, muitíssimo importante, coisas simples, como andar a pé, têm a gigantesca capacidade de mudar o mundo.

«Não te esqueças de fazer o pino e, 
olhando os pés, ver as estrelas.»
As estrelas e as copas das árvores...

Pedro Cuiça © Lisbon Lunch Walk (5 de Junho de 2018)


NOTAS
1 · Nós somos Terra ou terráqueos, que é dizer o mesmo. O étimo de humano em latim é humus (terra) e será oportuno lembrar o parentesco entre a palavra hebraica adam (homem) e adamah (terra).
2 · Neste contexto, virá à colação um episódio que ocorreu durante uma visita que efectuei, no dia 22 de Outubro de 2015, ao Museu Nacional da Montanha, da Coreia do Sul, no âmbito na Assembleia-Geral da União Internacional das Associações de Alpinismo (UIAA). Nesse dia, tive também a grata oportunidade de assistir a uma interessantíssima palestra por parte do antropólogo e alpinista sul-coreano Young Hoon Oh, na altura doutorando na Universidade da Califónia, sob o título: History and Philosophy of Korean Mountaineering: from an East Asian Perspective. Essa encomiástica intervenção sobre as cosmologias coreanas – com base no confucionismo, no budismo e na denominada “geoecologia coreana” –, responsáveis designadamente por uma intimidade única com a paisagem montanhosa, contrastou com o “cenário” de conquista atribuído aos alpinistas ocidentais! No final da palestra interpelei Young Hoon e transmiti-lhe que essa sua perspectiva era compreensível e assaz “correcta” como generalização mas que eu, enquanto ocidental, me sentia algo “ofendido” tendo em conta que não me revia, de todo, nesse perfil de conquistador, insensível e apartado da Natureza. Na verdade sentia-me cidadão do mundo e a sensação com que fiquei foi mais de estupefacção do que propriamente de ressentimento.
Saliente-se que, no contexto da Assembleia-Geral da UIAA de 2015, foi lançado o programa Respect the Mountains e aprovada a Climate Change Declaration (Declaração das Alterações Climáticas), proposta conjuntamente pelo Club Alpino Italiano (CAI) e pela Nepal Mountaineering Association (NMA). O texto final dessa declaração expressou a preocupação pelos impactes ambientais negativos das alterações climáticas na Terra em geral e nas áreas montanhosas e suas comunidades em particular. Destaque-se igualmente a atribuição do UIAA Mountain Protection Award 2015 ao KTK-BELT (Koshi Tappu Kanchenjunga Biodiversity Education Livelihood Terastudio) pelo seu importante trabalho contra a desflorestação.
Os tempos devem ser de cooperação a nível internacional, nacional, regional e local. A Terra é o condomínio global de uma Humanidade policromática e diversificada que tem de conviver e coexistir da melhor forma...

 DR © Museu Nacional da Montanha (Coreia do Sul - Out. 2015)