Os psicólogos estão, desde há muito, fascinados pelo conceito da
atenção, embora ele tenha adquirido outro fôlego nesta nossa era da distração,
ou, como Paul Atchley a designou, nesta «economia da atenção».
A atenção é a nossa moeda de troca, e é preciosa. O filósofo
William James, pioneiro da psicologia experimental e irmão de Henry James,
dedicou um capítulo inteiro do seu clássico The
Principles of Psychology, publicado em 1890, à atenção. Nele, o autor afirma
o seguinte: «Todos sabem o que é a atenção. É a tomada de posse pela mente […]» e «A minha experiência é aquilo a que me convém atender […] Sem interesses seletivos, a experiência é o caos total». James
dividiu a atenção em dois tipos fundamentais que continuam a definir a maneira
como pensamos sobre ela: atenção voluntária e ativa (quando, por exemplo,
desempenhamos tarefas) e atenção involuntária ou reflexiva (quando algo exige o
nosso foco, como um ruído, um som, um jogo de luz ou mesmo um pensamento
errático). Décadas antes do surgimento das mensagens de texto, os filósofos
estavam preocupados com o que James descrevia como sendo «um estado de
confusão, desorientação e dispersão a que os franceses chamam distração».
(Antes de deixarmos William James, não posso deixar de mencionar que ele sofria
de depressão e que viveu uma experiência transformadora ao percorrer as
montanhas Adirondack em 1898. Tal como descreveu à sua mulher, ficou «num
estado de abertura espiritual com os mais vitais contornos». Emerson era seu
padrinho e, talvez por isso, tenha sido preparado para aderir voluntariamente a
esta possibilidade.)
James sabia que permanecer concentrado numa tarefa era um trabalho
muito difícil e que, sem esta capacidade, como [Clifford] Nass veio a
confirmar, nos tornamos mais estúpidos, pelo menos de acordo com certos padrões
(segundo outros, as distracções da era digital podem ser uma troca razoável por
aquilo que os nossos cérebros ganham com o acesso a mais informação e a maior
armazenamento de memória). Curiosamente, contudo, também ficamos limitados na
nossa capacidade de captar o meio envolvente porque, de outra forma, os nossos
cérebros ficariam sobrecarregados de estímulos. O nosso campo visual torna-se
bastante reduzido, a nossa audição também sai prejudicada e não conseguimos
sequer processar a maior parte do que ouvimos e «vemos». Só conseguimos
prosperar no mundo porque os nossos cérebros são muito bons a fazer triagens
automáticas.
[WILLIAMS, 2018:
52-53]
NOTA
A atenção/concentração é algo que pode e deve ser treinado e, nesse contexto, as caminhadas constituem uma prática privilegiada para o desenvolvimento dessa capacidade. Fizemos interessantes experiências nesse âmbito, a nível da atenção plena, de elevados níveis de atenção e da atenção com fins terapêuticos tendo obtido invariavelmente interessantíssimos resultados. A prática regular de meditação, e a própria integração dessa prática nas caminhadas, incrementa substancialmente a capacidade de "foco"...
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
WILLIAMS, Florence. A
Natureza Cura. Lisboa: Bertrand Editora, 2018, pp. 304. ISBN
978-972-25-3475-8
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