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«O ritmo é a substância das cousas.» (p. 42)
«(…), o Poeta é um milagre; contradiz a Natureza, como uma pedra que voasse…
O poeta é um enviado. Vem ao Mundo afirmar as superiores Potestades que misteriosamente presidem ao drama da Vida e lhe dão um sobrenatural sentido. Vem sublimar o vulgar, revelar o grande que as pequenas coisas escondem, converter o ruído em harmonia e a harmonia em melodia. Só ele deu uma alma divina ao corpo bruto da Natura, completando a obra de Jeóva… Claro que me refiro aos poetas verdadeiros, integrados no seu primitivo significado. Poeta quer dizer profeta. Não devemos confundir os artistas do verso com os criadores da Poesia. Os primeiros interessam apenas à Literatura, ao passo que os segundos têm um interesse vital e universal, como as flores e as estrelas.» (pp. 44-45)
«Os poetas lusíadas, em virtude da sua força de saudade, são poetas
religiosos, mas num sentido vago e longínquo. Partem da criatura para o
Criador. Se o ponto de partida toma corpo concreto e definido, o ponto de
chegada perde-se em nebulosidades obscuras. Deus não é todas as cousas, como
pretendem os outros panteístas. Deus é uma sombra espiritualizada da Natureza,
o seu fantasma inatingível, vivendo, para além dela, num silêncio misterioso e
remoto. Deus é o mistério e o medo, e a sombra, o ermo e o silêncio, as suas
três pessoas.
É assim que ele aparece, ao luar da nossa inspiração, nesta ocidental praia magoada, onde gemem a sua dor tenebrosa todos os sóis que morreram… É assim o velho Deus da nossa terra, o velho Deus dos medos nocturnos, das fantasmagorias da lua, às horas mortas, quando a voz do vento e a voz do mar perpassam, como revelações agoirentas do Mistério…» (p. 110)
~ PASCOAES, Teixeira de. 1987. Os Poetas Lusíadas. Lisboa: Assírio
& Alvim.
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“A
paixão causada pelo grandioso e sublime na natureza… é o Assombro; e o assombro
é esse estado da alma no qual todos os seus movimentos estão suspensos, com
algum grau de horror”
“A infinidade tem uma tendência para encher a mente com a espécie de delicioso horror que é o mais genuíno efeito e o mais verdadeiro teste do sublime” (p. 73)
~ Edmund BURKE. 1978. A Philosophical Enquiry into
the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful [1757]. London:
Routledge and Kegan Paul.
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