Serra da Estrela
Um santuário de montanha
Com uma altitude de 1993 metros, a
Serra da Estrela, “uma paisagem de tipo alpino encravada no coração de Portugal”,
apresenta-se bastante isolada no contexto nacional. As terras de altitude
superior a 1200 metros ocupam somente 0.5% da superfície do País, dos quais
cerca de metade pertencem a essa serra.
O Parque Natural da Serra da Estrela
(PNSE) situa-se na Beira Baixa, a pouco mais de 200 km do Porto e a 300 km de
Lisboa. Propomos uma forma diferente de visitar esse “santuário de montanha”
percorrendo a pé uma das suas zonas mais pitorescas.
O Covão d’Ametade está equipado para
se fazer aí “campismo de passagem” e será a nossa base de partida para diversos
percursos possíveis. A época ideal para os percursos pedestres é de Maio a
Outubro, pois nos restantes meses o maciço central da será está frequentemente
coberto de neve, dificultando, ou mesmo tornando perigosas as caminhadas.
O Covão d’Ametade é um enorme
anfiteatro, antigo circo glaciário que alimentava o glaciar do Zêzere, rodeado
por relevos imponentes: Cântaro Raso (1916 m), Cântaro Magro (1928 m), Cântaro
Gordo (1877 m) e Múmias (1604 m). Os fenómenos de erosão glaciária do Würm
foram particularmente intensos na região dos Cântaros, devido à instalação dos
glaciares do Zêzere e do Alforfa.
Volte as costas ao vale do Zêzere e
siga em direcção ao mais alto desses relevos, o Cântaro Magro, torre granítica
com mais de 300 m de desnível. Suba até ao Covão Cimeiro (a cerca de 1750 m),
situado entre os Cântaros Magro e Gordo. Recupere o fôlego, abrandando a marcha
ou parando, para apreciar a beleza dessa grande depressão sulcada de diversos
cursos de água e pequenas lagoas. Daí, seguindo para oeste, apanhe o Corredor
do Inferno que desemboca no planalto da Torre, atravesse a EN339 e siga em
direcção ao vértice geodésico (v.g.) Estrela (1993 m), ponto mais alto de
Portugal continental. Desse local, conhecido por Torre, em dias de boa visibilidade
poder-se-ão distinguir, a grande distância, os pontos culminantes da Serra da
Boa Viagem (em Buarcos), Serra de Gredos (em Espanha), Serra do Marão (em
Trás-os-Montes) ou Serra de Portalegre (no Alentejo).
A partir da Torre poderá optar por
diversos percursos: dirigindo-se para norte até ao v.g. Cume (1858 m) e daí, em
direcção à Lagoa Escura, atingir a Lagoa Comprida, com regresso pela EN339 (via
Torre-Nave de Santo António), ou seguir até ao Cume e daí para o v.g. Piornal
(1755 m) atingir, através de descida algo difícil, o Vale da Candeeira, Vale do
Zêzere e Covão d’Ametade. O Cume foi o local onde acampou a expedição da
Sociedade Geográfica de Lisboa, em 1881. As lagoas referidas são de origem
glaciar, bem como o vale da Candeeira, onde repousa a Lagoa da Paixão, antigo
circo glaciário suspenso sobre o vale do Zêzere. Outro percurso alternativo
poderá ser em direcção ao Corredor dos Mercadores, sulco profundamente
encaixado entre os Cântaros Magro e Raso resultante da erosão de filão. A
descida da “Rua dos Mercadores”, sem ser difícil, exige uma progressão
cuidadosa devido aos inúmeros blocos soltos que aí se encontram; no entanto, é
a via mais curta e rápida para atingir o Covão d’Ametade.
Tenha-se em atenção que, no Inverno,
o início do corredor, devido aos ventos de oeste, costuma estar coberto de
gelo, desaconselhando-se a sua descida. Se o desnível e inclinação do corredor
o impressionarem a ponto de achar a descida complicada, regresse até à EN339 e
siga, com segurança, pela estrada até à Nave de Santo António, superfície
coberta por sedimentos finos e marginada pelas moreias dos glaciares do Zêzere
e Alforfa.
Por último, alertamos para o facto de
as condições de segurança na Serra da Estrela serem deficientes (nomeadamente
no que concerne a evacuação em caso de acidente), portanto todo o cuidado é
pouco; devendo-se respeitar, no Inverno, as indicações do Centro de Limpeza de
Neve. Boas caminhadas!
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