sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

TODOS OS DIAS

Porque hoje é Dia Internacional da Montanha, transcrevo, na integra, o texto publicado no site da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP):


Dia Internacional da Montanha

Todos os dias: hoje e sempre

Desde 2003 que se comemora, a 11 de dezembro, o Dia Internacional das Montanhas e esse dia é hoje! Este ano sob o lema: “A biodiversidade das montanhas é importante – Protejamos o nosso futuro”. As montanhas constituem das paisagens mais espetaculares da geografia terrestre e o grandioso terreno de jogo onde se praticam os Desportos de Montanha, que são a razão de ser e alvo de prática de inúmeras federações a nível mundial, de entre as quais se inclui a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP). Só por isso, e já é muito, a nossa Federação não poderia ficar indiferente à celebração desta importante iniciativa das Nações Unidas, solidarizando-se com as federações nacionais congéneres, tal como com a EUMA – União Europeia de Associações de Montanhismo e a UIAA – Federação Internacional de Montanhismo e Escalada. Todavia estamos perfeitamente cientes de que a importância dos meios montanhosos extravasa muitíssimo os aspetos meramente paisagísticos e desportivos, sendo, na sua enormemente mais vasta multiplicidade, essenciais para o futuro do planeta. Essas topografias de altitude, espalhadas pelas mais variadas latitudes e longitudes, influenciam o clima global e geram microclimas únicos, promovem a formação de aquíferos e geram diferenciadas culturas humanas, ímpares nas suas diferentes expressões designadamente através da agricultura e da pastorícia. As características peculiares das montanhas são também, e antes de mais, promotoras de uma notável biodiversidade, expressa sob a forma de diferentes ecossistemas e de espécies únicas, mormente endemismos de montanha. Todavia, as alterações climáticas, a deflorestação, a mineração, a caça furtiva, práticas agrícolas intensivas, entre outras atividades antrópicas, têm vindo a pôr em causa a biodiversidade que constitui o garante da sustentabilidade não só da natureza como também dos povos, culturas e tradições de montanha.

Os montanhistas devem amar e respeitar as montanhas e, por isso, neste que será igualmente o seu dia, devem também refletir sobre os impactes que a prática das suas atividades de montanha provocam nesses tão imponentes quanto frágeis e excecionais meios. Qual a sua pegada ecológica? Reflexão que a FCMP lançou há vários anos e que se deve substanciar em ações concretas com vista a uma prática sustentável. Porque a proteção das montanhas não se deve limitar ao Dia Internacional das Montanhas, mas sim a todos os dias: hoje e sempre. Porque as montanhas importam, protejamos o futuro das montanhas. Protejamos o nosso futuro.

 

Pedro Cuiça

Diretor Técnico de Montanha FCMP







sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Caminhadas Higiénicas (II)

 

7:00

Mal sabia eu que estaria numa espécie de “semi-clausura”, desde março, e agora confinado em casa num estrito isolamento profiláctico de 14 dias!... Na próxima terça-feira, quando finalizar a “quarentena”, já poderei ir "APANHAR AR", dizem as autoridades: num passeio pedonal e higiénico de curta duração e perto de casa. Também poderia ir passear o cão, se o tivesse, mas já me basta eu! E eu, com a vontade que ando de andar, andaria até ao fim do mundo em BUSCA DE VASTOS ESPAÇOS DE AR LIVRE. É nestas circunstâncias que damos MAIS VALOR À LIBERDADE?

 

Pedro Cuiça (4 de Março de 2020) © Lisboa

11:00

Para minha surpresa, deram-me hoje alta e poderei finalmente sair do lazareto em que se transformou a minha casa… Há exactamente cinco anos escrevi o seguinte post no Facebook: «Há quem leve o cão a passear mas, no meu caso, fui eu que me levei hoje a passear pela multifacetada e cosmopolita Lisboa. Deve ter sido porque me estava a sentir algo engaiolado [no trabalho], como um animal doméstico (mais precisamente aquilo que os anglo-saxónicos chamam “pet”)! Agora, depois de uns bons quilómetros de caminhada, estou pleno de mundo e de fantástica luz invernal… apesar do jardim que me surpreendeu em Al-fama se encontrar à sombra.»


 Pedro Cuiça (27 de Novembro de 2015) © Jardim das Pichas Murchas (Lisboa) 

19:00

Faz hoje também exactamente cinco anos que publiquei no Face um poético hino de Miguel Torga ao poder da… liberdade?

 

«MENIR

Salve, falo sagrado,

Erecto na planura

Ajoelhada!

Quente e alada

Tesura

De granito,

Que, da terra emprenhada,

Emprenhas o infinito!»

Miguel Torga in Diário XIV, Coimbra, 1995, p. 1461 (Outeiro – Monsaraz, 31 de Maio de 1986)


OBOD © Menir do Outeiro (Monsaraz - Alentejo) 


Caminhadas Higiénicas

 



Quando publiquei o post Cuidem-se e cuidem, a 16 de Março, no começo da pandemia de Covid-19, destaquei a importância de «implementar uma alimentação adequada, exercício físico moderado e as necessárias horas de sono, usufruir de ar livre e radiação solar» para fortalecer o sistema imunitário e enfrentar os tempos que aí vinham. Nesse contexto, destaquei o artigo Coronavirus and the Sun: A lesson from the 1918 Influenza Pandemic, de Richard Hobbay, no qual é dada uma especial relevância ao ar livre e à radiação solar no combate a pandemias virais: «A combination of fresh air and sunlight seems to have prevented deaths among patients; and infections among medical staff. There is scientific support for this. Research shows that outdoor air is a natural disinfectant. Fresh air can kill the flu vírus and other harmful germs. Equally, sunlight is germicidal and there is now evidence it can kill the flu vírus.»

Foi, pois, com particular alegria que constatei, no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a alusão a um artigo científico, da autoria de portugueses, que demonstra o potencial da radiação UV na inactivação do SARS-CoV-2: Potential of Solar UV Radiation for Inactivation of Coronavirus Family Estimated from Satellite. Neste contexto, tomamos a liberdade de transcrever, na íntegra, a notícia publicada, no dia 23 de Novembro, no site do IPMA:

 

«O IPMA informa que foi recentemente publicado na revista internacional “Photochemistry and Photobiology”, um artigo científico que demonstra o potencial da radiação UV na inativação do SARS-CoV-2 (Covid-19): Potential of Solar UV Radiation for Inactivation of Coronaviridae Family Estimated from Satellite.

Trata-se do primeiro trabalho publicado numa revista científica internacional sobre a relação do SARS-CoV-2 (Covid-19) e um elemento meteorológico, neste caso a radiação solar. A investigação que arrancou durante o confinamento, de Março e Abril, resultou da cooperação entre o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto (CINTESIS), Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC) e a Universidade de Medicina Veterinária de Viena (Áustria). Pretende contribuir para orientação de políticas públicas no combate à propagação do vírus.

Estes resultados mostram que a radiação solar UV tem um elevado potencial para inativar esses vírus, dependendo fortemente da localização geográfica e da estação do ano. Nas regiões tropicais e subtropicais (ex.: São Paulo, 23,5°S), a fração diária de sobrevivência do vírus é inferior a 0,01 % durante todo o ano, enquanto que em latitudes mais elevadas (ex.: Reiquiavique, 64°N) essa fração apenas pode ser encontrada em junho e julho.

Por exemplo, em Lisboa e no período de março, seriam necessárias entre 3 a 10 horas para o vírus ser eliminado pela radiação UV; por outro lado, no Inverno temos tempos para esterilização superiores a 20 horas, ou seja, um dia não chega para esterilizar superfícies no exterior.

Com este estudo - e todos os trabalhos feitos sobre a influência dos fatores meteorológicos sobre o novo coronavírus – prova-se ser a radiação UV efetiva na inativação do vírus.

Estes dados têm importantes implicações potenciais práticas, em termos de recomendações de Saúde Pública, de forma a minimizar o potencial de contágio através de diferentes superfícies e mesmo no potencial de contagiosidade do SARS-CoV-2.
É ainda argumento para potencial recomendação à população para poder usufruir de exposição solar nesta época de Outono, Inverno e até início da Primavera, altura em que os níveis do Índice UV raramente são maiores que 5, pelo que não são nocivos para a pele ou de risco significativo para aumento de números de Cancros da Pele, nomeadamente para exposições em tempo moderado. Adicionalmente poderia haver recomendação para colocar o maior número de objetos, utensílios, roupas, entre outros, à exposição solar que possa ocorrer nestes meses. O estímulo de caminhadas ao ar livre, em particular em dias de Sol, é de incentivar pelos benefícios psicológicos e físicos, em particular neste tempo de Covid 19.

Adicionalmente a este artigo é de referir que, neste ano de 2020 os níveis do Índice UV foram muito elevados  durante todo o mês de Maio (8 a 10, numa escala de 0 a 11, na maioria das localidade de Portugal (Continente e Ilhas) altura em que se assistiu a forte redução do número de casos Covid 19 e redução da letalidade ao mesmo, mantendo-se estes níveis baixos ate meados de Setembro, altura em que os níveis de UV reduziram significativamente. Desde essa altura até esta data, os níveis de UV tiveram naturalmente uma redução significativa em cerca de 60%, período em que se assistiu ao recrudescimento do número de casos e taxa de mortalidade. Naturalmente que esta incidência tem a ver com múltiplos fatores, nomeadamente encerramento ou abertura de atividade económica, abertura de escolas, etc.

Os autores do estudo foram: Fernanda Carvalho (IPMA), Diamantino Henriques (IPMA), Osvaldo Correia (Dermatologista, Presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo, Professor Afiliado da Faculdade de Medicina do Porto; Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto – CINTESIS) e Alois Schmalwieser (Universidade de Medicina Veterinária de Viena, Áustria).»



NOTA: o destaque a negrito de algumas palavras é da nossa "autoria".

sábado, 24 de outubro de 2020

Strong legs

 «Strong legs, good health.» Cansam-se as pernas e descansa-se a mente. Continuamos a pôr quilometragem (e desnível) nas pernas, através de treino desportivo de marcha com bastões…


Pedro Cuiça (24/10/2020) © Algures entre os concelhos de Oeiras, Amadora e Lisboa

Saúde Ambiental

Usar máscara/etiqueta respiratória, distância sanitária, higienização das mãos: uma questão de ética e cidadania ambiental. Ir para a "natureza": uma questão de estética e saúde mental.




sexta-feira, 23 de outubro de 2020

D'A ESTRANHEZA (II)

Por vezes lanço uma espécie de balões atmosféricos (virtuais, entenda-se) como que para estudar não as massas de ar mas O QUE ANDA dans l'aire du temps e os resultados conseguem ser, algumas vezes, bastante decepcionantes. Nada de surpreendente face ao que se constata NUMA MERA VOLTA no Face-bocas, mas invariavelmente perturbador...

[Publicado no Facebook a 23/10/2020]



segunda-feira, 24 de agosto de 2020

D'A ESTRANHEZA

 D'O ESTRANHO MUNDO EM QUE VIVEMOS


Gripe Espanhola © N.A. (1918)

Quando em Março publiquei o post Cuidem-se e cuidem, sobre a importância de fortalecer o sistema imunitário no contexto da covid-19, referi que não era ocasião para críticas ou prognósticos mas que teríamos oportunamente, num futuro mais ou menos próximo (ou afastado), a possibilidade de reflectir (e consequentemente de opinar) sobre a pandemia. Na altura remeti essa possibilidade para uma origem divina – “se Deus quisesse” – mas hoje talvez seja mais sensato dizer “se a censura o permitir”!!!

Passou a Primavera e o Verão vai avançado: continuamos a “achar” que não é o momento de tecer considerandos sobre os “fenómenos pandémicos” (na verdade, não nos apetece)… Apenas damos nota de dois “episódios pontuais” que consideramos, neste âmbito, significativos e dignos de menção: (1) as inusitadas e injustificadas “censuras”, que ocorreram no Facebook, do post referido acima (posteriormente corrigidas!) e (2) a concretização da previsão, também publicada no Facebook, da proibição daí a dias da prática de caminhadas no Parque Florestal de Monsanto. Felizmente, ao contrário do que se passou na França, foi possível efectuar caminhadas diárias, “à porta de casa”, desde que de curta duração e extensão: as designadas "caminhadas higiénicas! Nesta matéria, recomendamos vivamente a leitura d’Este Vírus Que Nos Enlouquece, publicado recentemente pela Guerra e Paz (Julho de 2020), da autoria de Bernard-Henry Lévy, de que destacamos uma pequena citação e dois trechos, do encerramento do livro, para abrir o apetite ou aguçar a curiosidade, como queiram.

 

Ou o (im)perfeito anormal?

O passeio do animal de companhia e, a partir de 11 de Abril, a sua adopção foram integradas na lista de deslocações autorizadas enquanto continuavam interditos os passeios solitários ou a dois, em percursos pedestres ou em praias. 

[LÉVY, 2020: 73]


O mundo, no Gaffiot, esse dicionário de latim no qual os jovens outrora aprendiam a pensar em francês, era mundus – e usava-se em dois sentidos.

O verdadeiro mundo. Aquele onde os homens penam, choram, morrem e desejam. Aquele que, no século XX, por duas vezes desmoronou, na verdade três com a longa ruína do comunismo – mas que os seus habitantes estão todas as vezes, prontos para reconstruir. Aquele onde nos sabemos herdeiros de um passado criminoso que engoliu, como uma jibóia, e que ainda engolirá, todas as antigas filosofias, mas onde nunca resolvemos, apesar disso, deixar de pensar e sobretudo de agir. Aquele, em suma, de uma geração, a minha, que foi educada com a convicção de que já não se trata de ver os comboios passar nem de repetir, como um disco riscado, «isto nunca mais» – mas que é preciso fazer tudo, tudo, politicamente, praticamente, activamente, quase manualmente, para conter um pouco esse «isto»…

(…)

Mas mundus também quer dizer aquilo que é nítido e limpo. Sem nódoas e imaculado. Asséptico. Higienizado. Em grego, quer dizer cosmos. Em francês, cosmética. E é o nome de um outro mundo, indiferente ao seu lado maldito, esquecido de que o imundo existe e de que faz parte do nosso ofício humano afronta-lo – é o nome de um mundo demasiado belo, onde é suposto escondermos essa miséria, esse mal, essa Medusa, cuja visão não suportaríamos… Nesse mundo, velhos como o mundo a quem o coronavírus renova a fama, os homens que apanham um avião para reportar o que se passa no golfo de Bengala são [considerados] assassinos do planeta.  Os internacionalistas que partem para as regiões onde brilham, em vez dos nomes e dos lugares, os ceifeiros da morte, que se metem onde não devem para depois serem chamados à atenção. E, quando regressam, que encontram? Um mundo onde reinam os técnicos da ventilação, os vigilantes gerais do estado de emergência, os delegados da agonia. Um mundo onde, em vez do mundo que faz demasiado mal, temos o álcool-gel, as varandas onde nos auto-elogiamos, cães para passear duas vezes ao dia munidos de atestados covid e cidades expurgadas da multidão humana, como uma sala de operações, das infecções mesocomiais. Um mundo de donos de cães, quer dizer , de donos que são cães e se comportam como cães, uma humanidade que só tem direito a ladrar quando lhe lembram que é feita de homens, a gemer quando apanha um vírus e a latir quando o senhor Corona, nosso rei, lhe vier dar uma lição como se dá a ração ou uma tareia. O mundo foi feito para se encolher, diz o rei Corona. Foi feito para que nos deitássemos. E se o sono tarda a vir, é preciso contar carneiros e dinheiros, se os tivermos, e, portanto, também de vírus.

Não é bela a vida?

Não temos tudo aquilo de que precisamos (os bens de primeira necessidade, mas também, no final de contas, o sexo, a imaginação, a morte) à distância de cliques e Netflixes? Olha! Cá está essa «net», que é o outro sentido de mundus

Esta é a lição do vírus.

Esta é a razão da minha fúria.

E é ainda a razão pela qual era preciso resistir, custasse o que custasse, a esse vento de loucura que sopra sobre o mundo.

[LÉVY, 2020: 99-102]

 



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LÉVY, Bernard-Henri. Este vírus que nos enlouquece. Lisboa: Guerra e Paz, Editores, 2020, pp. 104. ISBN 978-989-702-563-1


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

CRUX

"My feeling is that August promises to be a challenging month. PROTECTION IS CRUCIAL. Pray, even when you cannot feel the Presence. Pray, even when you doubt in Benevolence. Pray, even when all is hopeless. Pray - and listen - and act upon those prayers."

Amanda Mariamne Radcliffe (August 3, 2020)


Pedro Cuiça (August 2019) © Holy Mountain of Bugarach (Occitania - France) )

terça-feira, 21 de julho de 2020

Ribat



Bem sabem de que trato e de que vivo
Com que folgo, que busco e que pretendo,
De cuja natureza me cativo.
A causa que perguntas não defendo:
Faça quem mais puder melhor fato,
Que isso não me descose o meu remendo.
Cem mil virtudes têm as ervas do mato
Para curar cem mil enfermidades;
Uma não podem só de um peito ingrato.
Frei Agostinho da Cruz

Pedro Cuiça © Arrábida (10 de Junho de 2020)


segunda-feira, 20 de julho de 2020

To The Presence...


Keep your own flight path

“In the Native American tradition, one member of the tribe assumes the role of "Faithkeeper." This person's role is to remain at peace, centered in spiritual vision, no matter what events befall the tribe. Even if everyone else in the tribe slips into pain, fear, or dissension, the Faithkeeper is the one person the tribe can rely on as a lifeline to the Presence. This is our role now.”
Robin Youngblood


David K. Joohn (Navajo Artist) © Arisona (USA)

E não só


"LAPSOS" DE LINGUAGEM, E NÃO SÓ
Nos dias que correm é preciso SER muito prudente, observador e sensitivo para separar o ESSENCIAL do acessório, aparente e ilusório... E combater – com obediência estrita (numa espécie de vida militar assente na não violência!) a valores como a simplicidade, a renúncia ou a liberdade (desde logo de não ser possuído por outros ou possesso de si próprio!) – fanatismos e fundamentalismos (enfeitados tantas vezes de "boas intenções"), "lavagens ao cérebro" ou outros doentios "estados de alma". Combater os perigosíssimos "salvadores" vestidos de peles de ovelha e todos os outros que, com múltiplas outras roupagens, não passam de charlatões e vendilhões do templo. Para tal é preciso dar uma especial atenção a tiques, trejeitos, obsessões e "lapsos" de linguagem: por exemplo, tolerância não é respeito e muito menos amor ao próximo. A superficialidade, a banalidade e a falsidade não ajudam, claro está, (n)estes processos de LIBERTAÇÃO. Porque inocência é diferente de superficialidade, pureza não é banalidade e o que é falso não é verdadeiro...



Noutra



"They're busy saving the world?
Do mais básico antropocentrismo: as árvores não são "pets" (nem as pessoas deviam ser)! Chama-lhe 'presopopeia' ou não saias dessa que vais longe... AS ÁRVORES ESTÃO NOUTRA.

A(l)titude...



É a "REVOLUÇÃO" (de 'revolare’: voltar a voar) que dá asas para os voos de ver reiteradamente mais além... ainda que seja com base (ou um substancial contributo) no an-dar a pé e/ou a escalar. Porque atitude é altitude.



P.S.: Por um animismo de grande ângulo ou largo espectro (como queiram), verdadeiramente inclusivo, porque integrador, longe de parolos antropocentrismos, piores animalismos e castrantes unanimismos pretensa ou supostamente "politicamente correctos", salientamos uma singela mas profunda quadra "além-tejana" para oportuna e atempada reflexão:

«Eu ei-de amar uma pedra,
Deixar o teu coração,
Uma pedra sempre é mais firme,
Tu és falsa e sem razão.»


sexta-feira, 19 de junho de 2020

The the

Pedro Cuiça © PICO – Ilha do Pico, Açores (2016)

Stable as a Mountain,
free as the Wind.
empty as the Blue Sky.

Hogên Yamahata


Pedro Silva © Gruta das Torres – Ilha do Pico, Açores (2020)

domingo, 7 de junho de 2020

Our Way...

ORBIT

One foot on the pavement and one foot in the milky way
And I'm soaring
Soaring
My branches scrape the sea of stars
My roots dig deep into this world of ours
And I'm grounded
Grounded
My reality is what I perceive
What I attract into my orbit
Worries fade into the haze
The air feels different this time 'round
Different this time 'round
Let's set sail
Start a fire
Learn to live a little higher
Let's pick the lock
Grab the reigns
Forget there ever were chains
'Cause there never were chains
Days move on and times they change
In a blink of an eye things rearrange
We're moving
Moving
We're sucked in and we're spat out
On the other side of the rabbit hole
But we find our way
Find our way
Do you want to be just a machine in this crazy society?
Pick the lock
Grab the reigns
Forget there ever were chains
'Cause there never were chains

Alice Phoebe Lou




D'o Espírito


Na sequência de dois posts anteriores, publico na integra a segunda parte – D’o  Espírito – da palestra Espírito Santo: O Tempo dos Lírios, que apresentei, a 31 de Maio – Domingo de Pentecostes –, no webinar O Espírito e a Terra, organizado pelo colectivo Irmânia. Hoje, precisamente passados sete dias, neste que é o Domingo da Santíssima Trindade...



Pedro Cuiça © FOGO – Floresta Negra, Alemanha (2019)

«O vento sopra onde quer;
ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai.
Assim é todo aquele que nasceu do Espírito.»

São João in Novo Testamento
(Jo. 3-8) [AA.VV., 1975: 331]

As Festas do Divino Espírito Santo, que culminam no dia de Pentecostes, apresentam uma notável expressão, ainda hoje, nos Açores e noutras paragens da geografia mundial10. Aí celebra-se a libertação dos prisioneiros, o bodo gratuito e a coroação do Imperador-menino. Aí celebra-se, a liberdade, a partilha e a vida plena, «o princípio de toda a acção vital e verdadeiramente salvífica» (HENRIQUES, 1996: 16).
No dia de Pentecostes foi quando os Apóstolos de Jesus viram, nas palavras de João Evangelista, «aparecer umas línguas à maneira de fogo, que se iam dividindo e poisou uma sobre cada um deles» (Act. 2: 3) (AA.VV., 1975, 415). Fenómeno antecedido por «um som comparável ao de forte rajada de vento» (Act. 2: 2) (ibidem) e de que resultou terem eles ficado «cheios de Espírito Santo» e começarem «a falar outras línguas» (Act. 2: 4) (ibidem). Ficaram, certamente, inspirados…
Um episódio precedente, mas igualmente marcante, associado ao Paracleto, refere-se ao testemunho de João, desta feita o Baptista, responsável por «baptizar em água» Jesus, sobre a visão do «Espírito Santo a descer do Céu como uma pomba» (Jo. 1:32-34) (ibidem: 326). A associação do Espírito Santo ao vento e ao “dom da fala” (tal como à simbologia do fogo e da água) merece uma especial atenção11. Desde logo no que concerne a segunda frase da Bíblia, mais precisamente do Génesis, sobre a criação do mundo, que surge traduzida de duas formas aparentemente distintas consoante as edições: «o Espírito de Deus movia-se sobre as águas» (AA.VV., 1988: 25) ou «um vento impetuoso soprava sobre as águas» (AA.VV., 1996: 12).  Como tantas outras línguas antigas e tribais, o hebraico tem uma única palavra para designar “espírito” e “vento” – a palavra ruah – e é por isso que existem essas duas traduções (CRUZ, 2019: 65). Salienta-se igualmente, neste contexto, a notável similitude da narrativa dos ameríndios diné (vulgo navajo) acerca da criação do mundo: «O Vento existiu primeiro… e quando a Terra começou a sua existência, o Vento tomou conta dela» (ABRAM, 2007: 245).
Para a Nação Lakota, o aspecto mais sagrado do Grande Mistério (Wakan Tanka) (NEIHARDT, 2000: 21; EASTMAN, 2006: 28; ABRAM, 2007: 234) é Taku Škanš (o Céu envolvente) (ABRAM, 2007: 234). Conhecido dos Homens-Medicina simplesmente como Škan, é considerado como estando em toda a parte e é o responsável por dar a vida, movimento e pensamento a todas as coisas (ibidem). É esta divindade, apenas visível para nós como o azul do céu, que os lakota contemporâneos invocam amiudadas vezes, em inglês, como Great Spirit (Grande Espírito). Tah-dei – o Vento – é criado por Škan. Tah-dei e Škan (Vento e Céu) são, por vezes, referidos como a mesma entidade (ibidem). Ambos remetem para o ar enquanto arquétipo daquilo que é inefável, indizível e incognoscível, mas, mesmo que oculto, inegavelmente manifesto e até nominável: seja Grande Espírito, Espírito do Mundo ou Espírito Santo, entre outras designações.
Pelo exposto, é difícil evitar a conclusão de que, para as antigas culturas mediterrânicas o ar foi, não menos do que para os diné e os lakota, uma presença sagrada, sentida como aquilo que juntava invisivelmente todos os seres humanos e não-humanos: animais, plantas e até rios ou montanhas (ibidem: 244). O reconhecimento do ar, do vento e da respiração, como aspectos de um poder singularmente sagrado, esteve generalizado a muitos povos do mundo.
Destaca-se também a íntima relação entre a respiração e a fala. A “língua” não é uma gramática (de gramma techne: “rabiscos entrançados”), é um sopro de ar (SNYDER, 2018: 95). Distinção já assinalada pelo linguístico suíço Ferdinand de Saussure (no séc. XIX), e que tanto intrigou Merleau-Ponty, entre la parole (o acto concreto da fala) e la langue (enquanto sistema de regras terminológicas, sintácticas e semânticas) (ABRAM, 2007: 85). Embora os humanos sejam seres biológicos pautados pelas leis da natureza, a fala libertou-lhes a mente dos limites do seu cérebro material, permitindo-lhes transcender o tempo e o espaço para explorar o mundo imaterial dos pensamentos e das emoções (FANU, 2008: 74). O conceito diné de nilch’i (o Vento Sagrado), que envolve a “consciência do ar”, é disso exemplo ao remeter, numa abrangente concepção holística, para a intuição de que a psique não se trata de algo imaterial que reside apenas dentro de nós, mas que partilhamos com o meio invisível em que estamos mergulhados12. Concepção que nos lembra o inconsciente colectivo de Jung.
O enigma da evolução do Homo é saber como um conjunto de transformações evolutivas conduziram a um cérebro com poderes mentais tão poderosos como a capacidade de criar arte rupestre com mestria ou dominar uma complexa linguagem verbal. Será aqui que entra o Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade onde reside o domínio do inesperado e da plena liberdade? No começo do mundo «o Espírito de Deus movia-se sobre as águas» (Génesis 1) (AA.VV., 1988: 25) e «já existia o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deu(Jo. 1:1) (AA.VV., 1975, 322). E é este o verdadeiro enigma não visível – do sopro vital – e o verdadeiro mistério13 que permite que a vida viva. A presença sublime que se poderá traduzir, na expressão do teólogo alemão Rudolph Otto, como o «misterium tremedum et fascinans»: algo tremendamente espantoso e, simultaneamente, fascinante. «Tudo quanto é do domínio do mistério, não é possível mostrar sem ocultar» (TELMO, 2014: 16) e o Espírito Santo está nestas circunstâncias.



sábado, 6 de junho de 2020

Hózhó


Hózhó: The Beauty Way

Navajo Way
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Pedro Cuiça © TERRA - Grand Canyon, Arizona, USA (2015)

May the sun bring you new energy by day,
May the moon softly restore you by night,
May the rain wash away your worries,
May the breeze blow new strength into your being,
May you walk gently through the world
and know it’s beauty all the days of your life.

Apache Blessings


Pedro Cuiça © TERRA - Serra Algarvia, Portugal (2012)



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NOTA: A terra ou o pó surge como princípio de modelação, tanto dos seres humanos como dos não humanos, ligando todos os seres vivos numa identidade primeva. Destaca-se, nessa matéria, o parentesco linguístico do termo hebraico “adam” (Adão), que significa “homem”, e o termo “adamah”, que significa “terra”; equivalente ao que se verifica entre “humano” e o vocábulo latino “humus”: terra (VARANDAS, 2009: 18).

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Full Moon

Today is a good day and a better night...


D'o Tempo



Na sequência do post anterior, publico na integra a terceira parte – D’o Tempo – da palestra Espírito Santo: O Tempo dos Lírios, que apresentei, a 31 de Maio – Domingo de Pentecostes –, no webinar O Espírito e a Terra, organizado pelo colectivo Irmânia.


Pedro Cuiça © ÁGUA – Colóquio Internacional Mãe Terra
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (15 de Maio de 2018)



«Ainda que as sombrias máquinas estejam a funcionar
Não se atemorize demasiado, amigo…
(…)
Quando os pedantes chamaram a nossa atenção
Para a fria mecânica com que os acontecimentos
Se viriam a desenrolar, as nossas almas disseram em surdina:
É possível, mas existem outras coisas…»

Prefácio ao Napoleão de Nothing Hill de Chesterton (1898) 
in O Despertar dos Mágicos
(PAUWELLS & BERGIER, 2008: 251)

Existe uma flor extremamente resiliente e bela que se chama Myosotis maritima: é endémica dos Açores e surge em comunidades costeiras esparsas, habitualmente nas arribas abaixo dos 50 metros de altitude. O seu nome vulgar é “Não-me-esqueças”. Habituei-me a ver qualquer coisa para além da sua singela aparência e das colorações contrastantes com as negras rochas onde se encontra. Não num simples olhar profano mas num esforço de ver o divinal, na poética do momento (multi)temporal, como que a querer arrancar-lhe os segredos da criação. Algo expresso de forma magistral no versejar de Frei Agostinho da Cruz: «Assi com cousas mudas conversando,/Com mais quietação delas aprendo/Que de outras que ensinar querem falando.» (LIMA, s/d.: 104)
A sensibilidade dos franciscanos, antecessores de Frei Agostinho da Cruz, promoveu, desde o século XIII, uma pioneira e revolucionária (de re-volare: voltar a voar) reintegração na natureza, a que não será estranha a importância dessa Ordem na difusão do pensamento de Joaquim de Flora14 (HENRIQUES, 1996: 17). A ideia profética do abade calabrês – tão cara a Luís Vaz de Camões, padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva – da Terceira Idade do Mundo ou do Império (quinto) do Espírito Santo15, deu azo a uma religiosidade vocacionada para a aceitação do mistério e não para os «catecismos ou credos» (GRAY, 2008: 275), aberta ao incompreensível, ao inesperado e ao maravilhoso. Designadamente ao maravilhamento face à natureza…
Para os portugueses, essa evocação da era do Espírito Santo acalentava a libertação e uma notória apetência para se impregnarem de/na natureza. O sentimento panteísta da natureza viva, de que tudo na natureza está animado, imbuído de uma fraternidade cósmica entre os seus componentes, reflexo profundo e primevo do inconsciente colectivo, revela a vocação mística dos portugueses que se traduziu até há bem pouco tempo (século XIX ou XX?) nas fontes santas, nos penedos da fertilidade ou nas mouras encantadas. É neste contexto que se torna manifesta, nesta actualidade pós-moderna, não só a premência da defesa das plantas e dos animais, dos rios e das pedras, mas também e sobretudo a promoção da vivência original (aquela que remonta às origens) do tempo mítico e do espaço sagrado. Dimensão psíquica da natureza ao estilo nilch’i (o Vento Sagrado) dos diné? Fernando Pessoa chamar-lhe-ia “transcendentalismo panteísta”, outros falariam de “panteísmo saudosista”, “naturalismo religioso” ou “religiosidade naturalista”.  Pouco importam as denominações, essa apetência crístico-pagã, bem mais antiga do que o franciscanismo, subsistiu até hoje, numa resiliência admirável e apesar de o Espírito Santo, que os joaquimitas aguardavam para breve, aparentemente não ter chegado!
Não há tempo, nem espaço, para abordarmos as importantes mudanças conceptuais que surgiram, mormente decorrentes do romantismo, do transcendentalismo de Concord, da ética da Terra – de Aldo Leopold – ou da ecologia profunda e da consequente ecosofia – de Arne Naess –, e que terão desembocado, curiosamente, na designada “Nova Era”. A New Age (termo cunhado nos anos 60 do século XX) (SANTOS, 2002: 151), esse caldeirão onde medra todo o tipo de abordagens ditas “holísticas”, “terapêuticas”, “espirituais”, “místicas”, “gnósticas” e/ou “esotéricas”, desde a mesa radiónica à meditação das rosas, do karma à leitura da aura, dos extraterrestres ao despertar galáctico, taças tibetanas, reiki, channeling, xamanismo de salão, biofeedback e geobiologia, entre outras extravagâncias. A extravagância, o insólito e o inesperado, o sincrético, o eclético e o heteróclito, que caracterizam esta Nova Idade, bem podem estar associados à anunciada Idade do Espírito Santo. Contudo, há que «não confundir a obra prima com a prima do mestre de obras»: a liberdade não é limitadora, a gratuitidade não é negócio (nas festas do Divino Espirito Santo “não há almoços grátis”, há banquetes), a simplicidade não é superficialidade kitsh, muito menos é trapaceira (trickster), e, muitíssimo importante, a natureza não é artificial (o sujeito não é objecto).
O misticismo pampsiquista e panteísta, antecipado por Antero de Quental, e particularmente e-vidente em poetas como Junqueiro e Pascoaes (SILVA, 2000: 94), (re)centra-nos no poético desiderato demandador do Espírito Santo através da natureza. Como referiu esse Grande Colosso que foi Agostinho da Silva: «estamos tão afastados do natural como do sobrenatural, quando estes deviam ser os pontos centrais da nossa existência: plenamente [sobre]vivemos no artificial» (SILVA, 1990: 69).  Para que o homem possa sair da abjecção em que se (des)encontra deve reatar a primordial e eterna aliança com a Mãe-Terra, através de um mergulho profundo na (sua) natureza e, se possível, numa imersão, à John Muir, nos lugares selvagens (wilderness) (DEVALL & SESSIONS, 2004: 135). Não se trata, todavia, este tropismo holístico, ao encontro da natureza, de um regresso, por recuo, mas de um avanço, por transcendência, a uma renaturalização (rewilding) futurista porque voltada para o futuro (MONBIOT, 2014: 10). Ademais, quando o pouco que se sabe ser o presente é já ele ser o futuro (PESSOA, 1986: 158). E o «futuro é sermos tudo» (ANES, 2004: 138).
Ainda existem locais que podem ser legitimamente denominados “ambientes naturais” (WILSON, 2007: 29), mas estão em vias de extinção! Bialowiezca Puszcza, entre as fronteiras da Polónia e da Bielorússia, contém o último fragmento que resta da floresta europeia primordial: “puszcza” significa “floresta primitiva” (WEISMAN, 2008: 21). A fragância que se escapa das folhas e ervas apodrecidas acumuladas durante milénios evoca as próprias origens da fertilidade (ibidem).  Mas ainda existem locais onde é possível descortinar um subtil odor a Paraíso, designadamente em áreas cuja convivência milenar entre o homem e o meio se fez sentir de forma harmoniosa, como é o caso do Convento dos (franciscanos) Capuchos em Sintra... Ou locais de esperança como Mon(te)santo, essa ilha florestada, rodeada pelo urbanismo da Grande Lisboa, que é a prova provada de que é possível renaturalizar.
Vivemos, sem dúvida, um tempo de transição e de excepção, sente-se dans l’aire du temps. É, sem dúvida, chegada a hora; talvez amanhã já seja tarde. É a hora de empreender a pacifista “guerra santa” do espírito (Lima de Freitas in DURAN, 1997: 15), do espírito do(s) lugar(es), do Grande Espírito, do Espírito Santo. É o tempo de evocações à Terra (DEVALL & SESSIONS, 2004: 118), de canções e danças de poder, de lançar a voz do tambor como oferenda ao Espírito do Mundo (NEIHARDT, 2000: 198). De ser poeta, de acção directa, como os diné, dizendo os nomes da terra, «porque esses nomes são bons de dizer» e, dessa forma, cavalgar no espírito (ABRAM, 2007: 159), pela paz e pelo bem de todos, humanos e não humanos, pela Mãe-Terra. É o tempo de meditar e de orar por Gaia16: a Terra viva e vivificante.
É também o tempo da coragem, da liberdade na renúncia e do sacrifício (o sacro ofício) de cada um se cumprir, ao exemplo de gigantes da cepa de Agostinho da Silva17 ou de Jaime Cortesão18. Lembremos que este, na sua intrépida maneira de viver e de morrer (faleceu em 1960), foi a enterrar, a seu pedido, descalço e com o hábito de irmão franciscano leigo, numa última expressão de amor a um ideal que sempre defendeu (SILVA, 2000: 35).
A tradição simbólica de Joaquim de Flora, e também de Jakob Böehme, vê no lírio a promessa da vinda do Lilienzeit, o Tempo dos Lírios, paraclético, que sucederá ao tempo crístico das rosas e ao tempo da “ira” paterna dos «espinhos e ervas daninhas» (DURAND, 2008: 94). O tempo dos lírios já chegou! Na verdade, sempre aqui esteve porque o Espírito Santo nunca nos abandonou. Nós é que temos de ir ao seu encontro. Tal como o singelo Myosotis, não o devemos esquecer.
Pedro Cuiça
Domingo de Pentecostes · 31 de Maio de 2020 · webinar Irmânia





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