sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

To the...

My religion is «all the paths that lead to the light.»


See the light

All Night Long

When the night is closing
Eyes are running wild
Then I hear you humming
All night long

The sign I see it
Tell me am I true
All I need from you is
All I see

This city’s paved with cold
Playboys buying fun
Seems there is no hunter left
Without his hunting gun

Can you feel the light
The air is wild open
Oh you see the light it´s coming through
It’s there in the distance
Always offered to me
Always coming over a hill

Oh your see-saw smile
Lasts me all night long
Like siren’s curl
When the night is long

Now come hold my hand
No bad vibe hearts
Hold my hand you know
This journey could be long

Yeah the seasons come in
All the nights we’ll see them through
Ah no hundred men now
Would dare cut into us
We’ll go on and see it through

Belle,
Une rose qui a joue son role
Mon Miroir,
Mon clef d’or
Mon cheval
Et mon gant sont les cinq secrets de ma puissance

Je voulais livrer
Ils vous suffira de mettre ce gant
A votre main droite
Ils vous transportera ou vous desirex l’etre

When the night has come in
Your eyes are running wild
Then I hear you humming
All night long

Yeah the sign I see it
Yeah the times I see it
All I need to know from you
Is all I see

Can you feel the light
The air is wild, open
Oh you see the light,
It’s coming through
It’s there in the distance
Always offered to me
Always coming over a hill
Yeah the seasons come in
All the nights are woven
All the nights we’ll see them through
Ahh no hundred men now
Would dare cut into us
We’ll go on and see it through

Written by Becky Hobbs, Mark Sherrill
Copyright Ó Sony/ATV Music Publishing LLC, Universal Music Publishing Group

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Noites(s) Longa(s)

Agora que termina o Outono, relembramos um texto, que publicámos há sete anos, para saudar o Solstício de Inverno e a entrada do Sol em Capricórnio amanhã…

Cláudia Krasmann © Rocha da Pena (Algarve, 20/12/2010)

«Um abrigo sob rocha usado desde o Paleolítico: um spot fabuloso. Uma das mais longas noites do ano e uma Lua quasi Cheia: um céu fantástico
Mais de doze horas a sentir a magia do sensível: os arbustos de porte arbóreo a bailarem ao vento, o denso nevoeiro, a sonoridade das gotas de água na sua queda, os intensos clarões dos relâmpagos e o longínquo rugido dos trovões, o contraste da escura rocha sob o negro esbranquiçado do céu... E, depois, o luar no seu esplendor magnífico e as amplas vistas a abrirem a sul... E sonhos numinosos :)
 Por fim, a luminosidade laranja da aurora…»
Rocha da Pena (Algarve), 20 de Dezembro de 2010

Pedro Cuiça © Rocha da Pena (Algarve, 20/12/2010)

E eu caminhava sozinho
Sob as estrelas serenas, e nessa altura
Sentia todo o poder que há no som…
E ficava ali,
No meio da noite enegrecida pelo aproximar da tempestade,
Debaixo de uma pedra, escutando as notas que são
A linguagem espectral da terra antiga
Ou que vivem obscuras nos ventos distantes.
E foi aí que bebi o poder visionário.
(William Wodsworth: O Prelúdio)


Amendoeira em flor (Vicent Van Gogh, 1890)

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Caminhos (dos) Simples

Pedro Cuiça © Caminhos Simples (Serra de Sintra, 17/12/2017)

«Entre essas provas condenatórias, pesarão especialmente as que acusarem os homens levianos e imprudentes de ter corrido atrás dos prodígios e casos maravilhosos, sem inquirir a sua origem; mais para satisfazer a sua curiosidade ignorante, do que para buscar a sabedoria, a qual segue os caminhos mais simples*. A verdadeira ciência é que tem a chave das maravilhas eternas e naturais; ora essa chave só se encontra na luz da inteligência; e a luz da inteligência só se encontra nas humildes e vivificantes virtudes da alma. Assim como a luz que a lâmpada de azeite nos eferece só é assim tão pura e brilhante porque o azeite é a substância mais doce e benfazeja que há na terra. A este feliz destino é que tudo nos deveria conduzir. Mas, enquanto os homens prudentes procuram a sabedoria, os outros, e são a maioria, só procuram o brilho artificial das coisas. É isso que leva a verdade a usar todos estes meios sensíveis, como os que utilizo; os quais, sem isso, seriam inúteis, pois os caminhos simples seriam suficientes para aperfeiçoar a primitiva natureza do homem[SAINT-MARTIN, 2016: 185]

O pôr-do-sol a leste [Pedro Cuiça © Monge (Serra de Sintra, 17/12/2017)]


*Ao bom estilo do princípio da Navalha de Ockham, atribuído ao frade franciscano William de Ockham (séc. XIII): entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade). Ockham defende a intuição como ponto de partida para o conhecimento do Universo e o princípio de que os processos naturais optam invariavelmente pelo caminho mais simples.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SAINT-MARTIN, Louis-Claude de. O Crocodilo ou a Guerra do Bem e do Mal. Sintra: Zéfiro, 2016, pp. 316. ISBN 978-989-677-142-3

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

D'a Sacralidade da Montanha

Pedro Silva © Montanha (Pico, 2017)

«To climb and even more importantly to descend a mountain means an holy experience since all the mountains are sacred places. They are sacred in the extent that they give the man the magic of the place where it is allowed to feel and profit from the fact of being alive but constantly confronting death. Moutaineering has been, and still is, a big gamer where it is necessary and wise the players to know and dominate the rules.»
Pit Schubert
in Guia de Montanha (CUIÇA, 2010: 6)

«Subir, e tão ou mais importante, descer uma montanha constitui muitas vezes uma experiência transcendente pois todas as montanhas são sagradas. São locais mágicos onde é permitido ao Homem sentir, sem rodeios, a verdade de estar vivo ou a dura realidade de enfrentar a morte. O montanhismo foi e continua a ser um grande jogo mas para o jogar é sensato conhecer e dominar as regras do Jogo.»
Pit Schubert
in Guia de Montanha (CUIÇA, 2010: 7)




REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CUIÇA, Pedro. Guia de Montanha – Manual Técnico de Montanhismo I. Lisboa: Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal/Campo Base, 2010, pp. 224. ISBN 978-989-96647-1-5

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Num outro andar

Na net? ©


12/12 [2017]

Era noite. A minha sombra também levava bastões e movia-se compassadamente ao mesmo ritmo que eu. O ritmo elevado manteve-se numa cadência de quatro passadas/quatro braçadas e duas inalações/uma soprada e ruidosa expiração.
À semelhança da meditação imóvel, aqui a mente também tem o hábito de divagar sob a forma de mil e um pensamentos. E tal como nessa prática estática basta regressar ao foco, se assim se desejar, para contrariar a distracção que naturalmente surge nestas circunstâncias. Mas, ao invés, aqui estamos no domínio do concreto e para nos focarmos basta concentrar-nos no chão que passa rapidamente na nossa direcção, em sentido oposto ao movimento, ademais se desfocarmos o olhar… Nesta prática não nos focamos em objectos imaginários. E se dúvidas houvesse entre o que é o concreto e o imaginário bastaria um tropeção, seguido de queda, para o comprovarmos através do corpinho de encontro ao chão.
Aqui a prática é móvel e bem real, por vezes dolorosamente real. No entanto, esta não se trata de uma caminhada holotrópica, ao diferenciar-se notoriamente do conjunto de especificidades que a caracterizam, apesar de ambas, numa primeira fase, se (con)centrarem no concreto. Aqui estamos noutra espécie de caminhada, num outro andar. Já agora, a concentração no chão que passa é favorecida pelo desfocar do olhar, tal como afirmámos, e por um ângulo de visão de cerca de 45º. E mais não dizemos… «Vão e vejam.»

Pedro Cuiça © Oeiras (12/12/2017)

P.S.: Hoje cheguei de manhã bem cedo ao hospital. Carreguei no botão da senha para o atendimento e saiu-me o E6. Pouco depois ouviu-se um sinal sonoro a indicar o guiché número 6 onde fui atendido. O exame médico seguiu-se na sala 6. E tem isto algum significado? Tem: quer dizer que o atendimento foi rápido, eficaz e correu tudo em boa ordem.

P.P.S.: Não ignoramos, nem olvidamos, a importância da imaginação e da operatividade de base imaginativa… imagética ou imaginal?

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Ainda à Ordem

«Não sou do ortodoxo nem do heterodoxo; cada um deles só exprime metade da vida, sou do paradoxo que a contém no total.»
Agostinho da Silva in Pensamento à Solta (1999: 145)


«O mais interessante acerca do ritmo é o encontro com ele. Diante do crepitar do fogo, enquanto o torso do azinho expele a energia recolhida do sol e propaga fragâncias em ondas de calor, é o fenómeno polirrítmico que se activa também em nós; entre o indefinido e infinito, entre microcósmico e macrocósmico, ritma-se aí o exponencial imaginante dilatado pelo bailado das chamas. Mais do que vivência, é o ritmo convivência. E é sobretudo quando o homem está ciente do ritmo cósmico que o atravessa; então é que o ritmo pode ser criador: então o caminho, o caminhar e o caminheiro, convergem, porventura, em extremoso ritmo novo.
Se uma singular dinâmica intuitiva vivifica a noção de ritmo, não é só porque seja ele multidimensional arquétipo, estruturante e renovador, ou paradigma polivalente para as ciências e as artes do movimento, mas porque o ritmo é criador. O ritmo futuriza o passado num presente novo. A visita ao templo é um acontecimento rítmico e tão mais completo quanto culmine na experiência excelsa do puro acto da imobilidade. Eis, sumariamente, o que distingue, na crista da onda do tempo e do espaço, a filosofia do ritmo portuguesa das demais. Português é também o ritmo concordante, conciliador de conceito e imagem, absoluto e relativo, operador da síntese activa na atenção singular; enfim, para quem o paradoxal não é estrangeiro nem língua morta a resoluta contradição. Digamo-lo de novo: português é o ritmo da concórdia.» [CUNHA, 2010: 11-12]

Pedro Cuiça © d'o ritmo da Queimada (Serra dos Candeeiros, 2009)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, Rodrigo Sobral. Filosofia do Ritmo Portuguesa. Sintra: Zéfiro, 2010, pp. 124. ISBN 978-989-677-041-9
SILVA, Agostinho da. Textos e Ensaios Filosóficos II. Lisboa: Âncora Editora, 1999, pp. 384. ISBN 978-972-780-020-9

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Campos

D'os campos... subliminares


(…)
Essa experiência é comum?
Conecto-a ao meu senso direcional, que todos os alpinistas e viajantes que estiveram comigo admitem ser absolutamente excepcional.
Caso eu deixe minha tenda ou cabana por uma porta voltada, por assim dizer, para Sudoeste, durante todo o dia, por sobre todos os tipos de solos, através de qualquer selva que se possa imaginar, em todos os tipos de climas, nevoeiro, nevasca, geada, de noite ou de dia, percebo até 5º (normalmente 2º) de variação na direção à qual estou voltado em relação a quando saí daquela tenda ou cabana. Caso aconteça de observar isso em uma bússola, obviamente que posso deduzir onde fica o Norte por mero julgamento de ângulo, no que sou muito preciso.
Indo além, mantenho um registro mental, totalmente inconsciente, do tempo gasto em marcha, de modo que sempre posso dizer seu tempo sem consultar o relógio, com precisão de cinco minutos.
E mais: tenho outro memorizador automático que mapeia distância e direção. Suponha que eu saia de Scott’s e caminhe (ou vá de carro, para mim é a mesma coisa) para Haggerston Town Hall (onde quer que Haggerston fique, mas digamos que seja NE) e dali eu saia para Maida Vale. De Maida Vale poderia ir diretamente a Picadilly de novo e não sairia de meu caminho por mais de cinco minutos, exceto se entrasse em becos sem saída, etc., e saberia quando estivesse novamente próximo ao Scott’s antes de reconhecer qualquer um dos seus arredores.
Sempre achei que eu, intuitivamente, tinha a direção e a distância de uma linha reta A (o caminho mais curto de Scott’s a Haggerston; mas faria pouca diferença caso fosse pela via Poplar, a despeito de qualquer volta a mais), outra intuição a respeito da linha B (de Haggerston até Maida Vale), e obtinha minha linha C (de volta para o Scott’s) por “trigonometria subliminar”.
Nesse exemplo, parto do princípio de que nunca estive em Londres antes. Certamente, fiz esforços similares em uma dúzia de cidades estranhas e até mesmo em confusos bairros populosos e pobres de Tanger ou do Cairo. Estou pior em Paris do que em qualquer outro lugar; penso, porque as ruas principais têm muita iluminação e isso me confunde. Também tal poder não se adapta à vida civilizada; definha-se enquanto vivo em cidades e renova-se quando retorno à boa terra de Deus. Uma tenda de sete pés e a luz das estrelas – quem poderia querer mais? [Crowley in WASSERMAN, 2009: 97]


Pedro Cuiça © Messner Mountain Museum Firmian (Tirol do Sul, 14/ Out. 2016)


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
WASSERMAN, James. Aleister Crowley e a Prática do Diário Mágico. São Paulo: Madras Editora, 2009, pp. 240. ISBN 978-85-370-0462-3

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

De Ambulando

Pedro Cuiça © Caminho de Santiago (Espanha, Agosto 2016)

A expressão Solvitur ambulando, atribuída ao filósofo grego Diógenes numa situação particular, foi e é recorrentemente apropriada por vários autores em diversos contextos. Diógenes (séc. IV a.C.), segundo consta, face a questão que lhe foi colocada sobre “se o movimento é real” ter-se-á simplesmente levantado, andado e exclamado “está resolvido ao caminhar”! No entanto, a multiplicidade de problemáticas que se podem resolver através do singelo acto de andar a pé não se esgota, de todo, nessa aparentemente lapalissada resposta e menos ainda na questão que a suscitou.
Como facilmente se poderá constatar existem muitas outras questões, problemas e paradoxos cujas respostas se encontrarão ou resultarão no/do caminhar. Andar a pé não se cinge tão somente a essa característica peculiar de propiciar respostas, vai bem mais além ao constituir um acto catalisador do pensar, uma inspiradora e criativa prática a que muitos recorreram e continuam a recorrer: ao estilo de um Friedrich Nietzche ou de um  Antero de Quental. A expressão foi utilizada, por exemplo, em Walking (1861) de Henry David Thoreau ou em textos de Aleister Crowley e, não deixa de ser curioso, Solvitur ambulando ser o lema da Royal Air Forces Escaping Society.

Tendo em conta a diversidade de motivos e motivações pedestres associadas a Solvitur ambulando, gostaríamos contudo de salientar o Caminhar/Caminho como meio de conhecer-se, descobrir-se, enfim resolver-se a si mesmo através do andar... No sentido, portanto, de Solvitur ambulando como “resolve-se pela prática” ou “ser resolvido pela prática”. E, claro, em caminhos balizados ou não... de-ambulando no mais perfeito "ao Deus dará".

Pedro Cuiça © Caminho de Santiago (Portugal, Março 2016)

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Acompanho o trilho

Pedro Cuiça © Oásis (Xiraz - Irão, 20/10/2017)


Ah! Maravilha! Um jardim no meio do fogo!
O meu coração tornou-se capaz de todas as formas:
É pastagem para a gazela e cenóbio para o eremita,
Templo para os ídolos e Caaba para o peregrino,
Tábuas da Tora e livro do Alcorão
Apenas sigo a religião do Amor
Da sua caravana acompanho o trilho
Pois só o Amor tenho por fé e religião.

Ibn Arabi 
adaptado de SINDE (2013: 22-23) e VICENTE (2010: 51)

Pedro Cuiça © Monte Chamran (Xiraz - Irão, 21/10/2017)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SINDE, Pedro. Sete Sábios Portugueses. Chaves: Tartaruga, 2013, pp. 232. ISBN 978-989-8057-39-6
VICENTE, António Balcão. O Templário d’El-Rei. Lisboa: Ésquilo, 2010, pp. 432. ISBN 978-989-8092-88-5

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Atalhando

Pedro Cuiça © Fojo (Arrábida, 6/10/2017)

«Por meio dos rochedos semeadas
Verei dependurar silvestres plantas
Verdes, em pedras duras sustentadas.
(...)
O que nos largos campos se passea,
Subindo nesta Serra, se caminha
Atalhando o que neles se rodea.»

Frei Agostinho da Cruz

Pedro Cuiça © Portinho (Arrábida, 12/11/2011)

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

D'a Razão de Ser

Pedro Cuiça © Urdax (Navarra, 2017)

Nos compêndios de geografia diz-se: «Este país é rico, porque tem petróleo, ou carvão, ou ferro.» Um dia depois do ciclo extractivo, se dirá: «Este país era rico, porque tinha petróleo, ou carvão, ou ferro.» A indústria não é uma riqueza; é a maneira de gastar a riqueza. Riqueza só é a economia criadora, que gera bens necessários. A indústria não é uma economia criadora, mas transformadora. Gasta o que há, transformando-o em supérfluos. O homem não passa sem o bem nascido da terra; mas pode viver sem os bens provenientes da indústria. Assim: precisa de proteínas, mas passa bem sem conservas. A regra particular aplica-se a tudo o mais. O homem precisa de se deslocar, mas passa muito bem sem automóvel. Quando dizemos homem sabemos o que dizemos, e nele não incluímos o ser urbano, que, esse, julga que precisa de carro a gasolina, sem saber a razão de ser homem.
(GOMES, 1985: 16-17)

Talvez seja esta uma das formas de expressar a diferença entre finança (de finar) e eco-nomia (de gerir a casa comum; que é, em última instância, o planeta Terra). Por (des)ventura será este um modo de diferenciar consumir (do latim consumere: destruir) de dominar (no sentido de boa governança: servir como Senhor), numa perspectiva passível de ser designada eco-lógica ou eco-sófica? Um recurso finito (como o petróleo) não é o mesmo do que um manancial renovável (como a água)…

Pedro Cuiça © Urdax (Navarra, 2017)


P.S.: Num contexto de seca, mais ou menos generalizada, no território de Portugal continental também se torna(rá) evidente que nem aquilo que é (supostamente) renovável é finito sem limites e menos ainda infinito.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GOMES, Pinharanda. A Teologia de Leonardo Coimbra. Lisboa: Guimarães Editores, 1985, pp. 200.

Pedro Cuiça © Urdax (Navarra, 2017)

terça-feira, 14 de novembro de 2017

À Ordem

Pedro Cuiça © Palácio Nacional de Sintra (Sintra, 2017)

«O Universo e a nossa própria vida têm por base o ritmo. Se a árvore ou os nossos pulmões suspenderem o ritmo respiratório, advém a morte. No pólo oposto da euritmia (o «bom ritmo»), a característica dominante dos homens da nossa época é a arritmia, ou perda de ritmo. Daí a destruição da Natureza e das Cidades, por infeliz exemplo. Só um regresso a ritmos saudáveis nos pode salvar. Trata-se de descobrir o ritmo bom, belo e verdadeiro, capaz de arrancar os homens às pulsões doentias, como as obsessões do dinheiro, do sexo ou da comida. Em contrapartida, valha-nos a lição de Henri David-Thoreau, seguida por Raul Lino, que faz suceder à Ordem dos Cavaleiros a antiquíssima Ordem dos Caminhantes

Rodrigo Sobral Cunha (2014)


Pedro Cuiça © Urdax (Navarra, 2017)


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

E ainda...

E ainda sobre o Silêncio.

Na net? © Earling Kagge (2016)


«DE TODOS, a Antártida é o lugar mais silencioso onde estive. Caminhei completamente só até ao Polo Sul, e nessa imensa e monótona paisagem, à parte os sons que eu próprio fazia, não se ouvia mais nenhum ruído humano. Absolutamente só, naquela imensidão gelada, imerso no grande nada branco, podia ouvir e sentir o silêncio. (…)
Tudo parecia completamente liso e branco, quilómetro após quilómetro, durante todo o caminho em direção ao horizonte, à medida que me dirigia para o Sul através do continente mais frio do planeta. (…)
A certa altura, nesse isolamento total, comecei a dar-me conta de que afinal nada era completamente liso. O gelo e a neve dispunham-se formando pequenas e grandes figuras abstratas. A brancura uniforme transformava-se em inumeráveis matizes de branco. Uma tonalidade azul emergia da neve, um tudo-nada avermelhada, esverdeada e vagamente rosada. A paisagem parecia mudar à medida que eu avançava, mas eu estava enganado. O que me rodeava mantinha-se constante; quem mudava era eu. No vigésimo segundo dia, escrevi no meu diário: «Em casa só aprecio “grandes garfadas”. Aqui aprendi a valorizar as alegrias mínimas. Os tons subtis da neve. O vento que começa a amainar. Formações de nuvens. Silêncio.»

Quando era criança, o facto de o caracol ser capaz de transportar a sua casa, para onde quer que fosse, causava-me um enorme fascínio. Durante a minha expedição à Antártida, esse fascínio pelo caracol aumentou. Coloquei num trenó toda a comida e combustível necessários para toda a viagem e nunca abri a boca para falar. Não tinha contacto via rádio, nem vi um único ser vivo durante 50 dias. Não fiz mais do que esquiar em direção ao Sul, dia após dia. Mesmo quando me irritava por causa de uma amarra partida ou porque quase escorregava para dentro de uma fenda, não praguejava. Quando nos irritamos, ficamos na mó de baixo, e isso agrava ainda mais a irritação. Portanto, nunca digo palavrões durante as minhas expedições.
Quando estou em casa, há sempre um carro que passa, um telefone que toca, ou faz ping ou zumbe, alguém fala, sussurra ou grita. Há tantos ruídos que mal os ouvimos todos. Aqui era diferente. A natureza falava comigo através do silêncio. Quanto mais silencioso eu ficava, mais ouvia
[KAGGE, 2017: 21-23]

Na net? © Earling Kagge (2016)


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
KEGGE, Erling. Silêncio na Era do Ruído. Lisboa: Quetzal, 2017, pp. 160. ISBN 978-989-722-385-3