quarta-feira, 15 de novembro de 2017

D'a Razão de Ser

Pedro Cuiça © Urdax (Navarra, 2017)

Nos compêndios de geografia diz-se: «Este país é rico, porque tem petróleo, ou carvão, ou ferro.» Um dia depois do ciclo extractivo, se dirá: «Este país era rico, porque tinha petróleo, ou carvão, ou ferro.» A indústria não é uma riqueza; é a maneira de gastar a riqueza. Riqueza só é a economia criadora, que gera bens necessários. A indústria não é uma economia criadora, mas transformadora. Gasta o que há, transformando-o em supérfluos. O homem não passa sem o bem nascido da terra; mas pode viver sem os bens provenientes da indústria. Assim: precisa de proteínas, mas passa bem sem conservas. A regra particular aplica-se a tudo o mais. O homem precisa de se deslocar, mas passa muito bem sem automóvel. Quando dizemos homem sabemos o que dizemos, e nele não incluímos o ser urbano, que, esse, julga que precisa de carro a gasolina, sem saber a razão de ser homem.
(GOMES, 1985: 16-17)

Talvez seja esta uma das formas de expressar a diferença entre finança (de finar) e eco-nomia (de gerir a casa comum; que é, em última instância, o planeta Terra). Por (des)ventura será este um modo de diferenciar consumir (do latim consumere: destruir) de dominar (no sentido de boa governança: servir como Senhor), numa perspectiva passível de ser designada eco-lógica ou eco-sófica? Um recurso finito (como o petróleo) não é o mesmo do que um manancial renovável (como a água)…

Pedro Cuiça © Urdax (Navarra, 2017)


P.S.: Num contexto de seca, mais ou menos generalizada, no território de Portugal continental também se torna(rá) evidente que nem aquilo que é (supostamente) renovável é finito sem limites e menos ainda infinito.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GOMES, Pinharanda. A Teologia de Leonardo Coimbra. Lisboa: Guimarães Editores, 1985, pp. 200.

Pedro Cuiça © Urdax (Navarra, 2017)

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