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terça-feira, 20 de junho de 2023

Ética e Montanha

 

© PC


Amanhã irá decorrer, das 20:00 às 23:00, mais uma edição da rúbrica Palestras da Montanha, sobre o tema “Ética e Deontologia em Desportos de Montanha”. Mais uma acção de formação, organizada pelo Centro de Formação da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal/Escola Nacional de Montanhismo (FCMP/ENM), desta feita através da plataforma Zoom e gratuita; validada pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e contando, por isso, para a atribuição de Unidades de Crédito com vista à revalidação de Títulos Profissionais de Treinador de Desporto (TPTD).

A Ética e a Deontologia surgem como componentes de importância e interesse crescentes no contexto da prática e desenvolvimento dos Desportos de Montanha, designadamente no âmbito da gestão e liderança de praticantes com elevados níveis de qualidade e exigência, na linha do Programa Nacional de Ética no Desporto (PNED). A formação continua na área da Ética e da Deontologia revela-se, pois, de fundamental importância como garante de eficiência e de eficácia no desempenho das funções dos Treinadores em Desportos de Montanha. É nesse contexto que o Centro de Formação da FCMP/ENM volta a promover esta palestra, lançada em 2016, numa versão revista e actualizada, com os objectivos de enquadrar e destacar a importância da ética na condução de actividades e no treino em Desportos de Montanha, designadamente nas suas múltiplas vertentes: desportiva, ambiental, turística, etc.. Neste contexto, merece um especial realce a importância que é dada, nesta palestra, à ética ambiental no contexto das actividades de ar livre, em geral, e das actividades de montanha, em particular.

 



Conteúdos programáticos:

· ENQUADRAMENTO

            - Desportos de Montanha

            - Áreas de abrangência: Desporto, Ambiente, Turismo, etc.

            - Tutela

            - Implicações éticas

· ÉTICA NORMATIVA

            - Valor não instrumental e estatuto ético

            - Valor intrínseco e valor extrínseco

            - Dever ético e agentes éticos

            - Meta-ética

            - Correntes éticas normativas: ética deontológica; ética utilitarista; ética das virtudes; ética da lei natural

· ÉTICA AMBIENTAL

            - Ética ambiental antropocêntrica

            - Ética ambiental não antropocêntrica: sencientismo; biocentrismo; ecocentrismo

            - Desportos de Montanha e Ética Ambiental: Romantismo; Transcendentalismo de Concord; Preservação da Natureza; Ética da Terra; Ecologia Profunda/Ecosofia; Ecologia Reverencial; Cidadania Ambiental

· ÉTICA DESPORTIVA

            - Ética do Desporto: violência e corrupção; dopagem; assédio sexual/homofobia/estereótipos de género; jogo justo, jogo limpo, desportivismo

            - Desportos de Montanha: “Como fazer?” e “Como ser?”

        - A verdade desportiva: aventura e pseudo-aventura; obsessão pela segurança; “vender gato por lebre”; legislação, condicionalismos e proibições

            - Códigos deontológicos: UIAA, ERA, etc.

· CONCLUSÕES

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Saúde em Movimento

PC © Estónia (2007)

Na próxima sexta-feira (dia 7 de Outubro) terei o grato prazer de apresentar a palestra Caminhada, Bem-estar e Conexão à Natureza, na Câmara Municipal de Lagos, no âmbito do lançamento da iniciativa Saúde em Movimento. O evento, de entrada livre, começa às 10:00 a.m. e realiza-se no Auditório do edifício Paços do Concelho Século XXI. 

A conexão dos seres humanos com a natureza tornou-se uma matéria de crescente interesse no âmbito da investigação científica, designadamente no que concerne a saúde e o bem-estar. De acordo com a Hipótese da Biofilia, os seres humanos foram moldados cognitiva e emocionalmente, no decurso da sua evolução, para uma predisposição inata à conexão com a natureza. O processo evolutivo dos hominídeos transformou-os em caminhantes, adaptados a percorrer extensas distâncias a pé.

O benefícios para a saúde, decorrentes da prática de caminhada, estão amplamente descritos, revelando que os praticantes desse exercício físico apresentam um menor risco de contraírem doenças crónicas, como a diabetes (tipo 2), hipertensão, doenças coronárias, dores lombares, miopia, défice de atenção, ansiedade, depressão, etc.. Salienta-se igualmente a importância da caminhada desde as crianças e jovens aos idosos, mormente no que concerne a mitigação de situações de sarcopenia, de fragilidade e quedas associadas. 

A caminhada em meio florestal ou, na expressão de Wohlleben (2019), onde se «crie a ilusão de floresta», merece um particular destaque no que concerne a conexão à natureza e os inúmeros benefícios para a saúde e o bem-estar dos praticantes. O contacto com a natureza pode não ser, todavia, suficiente per se, exigindo o envolvimento psicológico, intencional, com vista a uma mais efetiva conexão ao mundo natural. Conexão que não pode estar alheada do corpo, mais precisamente do corpo-mente enquanto entidade inseparável e indivisível. Estas e outras temáticas serão abordadas na palestra Caminhada, Bem-estar e Conexão à Natureza e constituirão o ponto de partida para a troca de pontos de vista e de experiências entre o palestrante e os participantes.

PC © Pirenéus (2004)

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Foi extremamente gratificante ter uma sala cheia de idosos, altamente motivados pelos benefícios que a prática regular de caminhada proporciona, não só em termos de saúde, mas também de bem-estar, designadamente resultante da socialização e do convívio…


© DR




© DR


quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Caminhada e Saúde

 


No próximo domingo (25 de Setembro) irei apresentar na Fnac de Faro (Fórum Algarve), das 16 às 17 horas, uma palestra sob o tema Caminhada, Bem-estar e Conexão à Natureza. A palestra, moderada por José Paulo Sousa, do Clube Desportivo Faro XXI, é de acesso livre e está inserida no programa Faro Ativo.

A conexão dos seres humanos com a natureza tornou-se uma matéria de crescente interesse no âmbito da investigação científica, designadamente no que concerne a saúde e o bem-estar. De acordo com a Hipótese da Biofilia, os seres humanos foram moldados cognitiva e emocionalmente, no decurso da sua evolução, para uma predisposição inata à conexão com a natureza. O processo evolutivo dos hominídeos transformou-os em caminhantes, adaptados a percorrer extensas distâncias a pé.

O benefícios para a saúde, decorrentes da prática de caminhada, estão amplamente descritos, revelando que os praticantes desse exercício físico apresentam um menor risco de contraírem doenças crónicas, como a diabetes (tipo 2), hipertensão, doenças coronárias, dores lombares, miopia, défice de atenção, ansiedade, depressão, etc.Salienta-se igualmente a importância da caminhada desde as crianças e jovens aos idosos, mormente no que concerne a mitigação de situações de sarcopenia, de fragilidade e quedas associadas. 

A caminhada em meio florestal ou, na expressão de Wohlleben (2019), onde se «crie a ilusão de floresta», merece um particular destaque no que concerne a conexão à natureza e os inúmeros benefícios para a saúde e o bem-estar dos praticantes. O contacto com a natureza pode não ser, todavia, suficiente per se, exigindo o envolvimento psicológico, intencional, com vista a uma mais efetiva conexão ao mundo natural. Conexão que não pode estar alheada do corpo, mais precisamente do corpo-mente enquanto entidade inseparável e indivisível. Estas e outras temáticas serão abordadas na palestra Caminhada, Bem-estar e Conexão à Natureza e constituirão o ponto de partida para a troca de pontos de vista e de experiências entre o palestrante e os participantes.

O Faro Ativo 2022 está a decorrer, de 3 de Setembro a 15 de Outubro, traduzindo-se em mais de um mês de promoção da prática desportiva e do exercício físico para todos. Este evento é organizado pela Câmara Municipal de Faro, envolve a colaboração de mais de meia centena de entidades e de intervenientes individuais, e irá certamente contar, à semelhança das edições anteriores, com a presença de milhares de participantes. 

Esta oportunidade de apresentar uma palestra sobre a promoção da prática de exercício físico para todos é triplamente gratificante tendo em conta que (1) ocorre em Faro - a minha terra natal -, (2) no âmbito do Faro Ativo e (3) coincidente com a Semana Europeia do Desporto 2022 (23 a 30 setembro): #BeActive.


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Na sequência da palestra Caminhada, Bem-estar e Conexão à Natureza que se realizou, no dia 25 de Setembro, no Fórum Algarve (Faro), gostaria de agradecer, publicamente:
1) o convite para apresentar esta temática e a moderação por parte do José Paulo Sousa Gordinho do Clube Faro XXI;
2) a aceitação da realização de uma palestra, pela primeira vez no Faro Ativo, por parte de Vitor Filipe (Chefe de Divisão) e de Jorge Candeias (Chefe de Unidade) da Divisão de Desporto e Juventude da Câmara Municipal de Faro;
3) o apoio, a atenção e a simpatia inexcedíveis por parte de Ana Narciso (Directora de Comunicação da Fnac Algarve) e de Ana Margarida (Estagiária da Fnac do Fórum Algarve), que proporcionaram todas as condições para a realização da palestra e tiveram a amabilidade de disponibilizarem diversos exemplares do Passo a Passo - Manual de Caminhada e Trekking para o evento. Bem-hajam.

27 de Setembro de 2022



sábado, 30 de janeiro de 2021

WILD CHILD

 

May we raise children

who love the unloved

things – the dandelion, the

worms & spiderlings.

Children who sense

the rose needs the thorn

& run into rainswept days

the same way they

turn towards sun...

And when they're grown &

someone has to speak for those

who have no voice

may they draw upon that

wilder bond, those days of

tending tender things

and be the ones.

 

Nicolette Sowder

[wilderchild.com]


Ó Lucy Campbell

 

«O mundo da criança é cheio de frescura, de novidade, de beleza, povoado de maravilhas e entusiasmo. É pena que, para a maioria de nós, essa visão de olhar límpido, esse verdadeiro instinto que inclina ao belo e inspira temor e respeito, se esbata e mesmo perca antes de chegar à idade adulta. Se eu tivesse alguma influência sobre a fada boa que se julga presidir ao batismo de todas as crianças, pediria que o seu presente para qualquer criança que viesse ao mundo fosse uma capacidade de maravilhamento tão indestrutível que duraria toda a vida, como antídoto infalível contra o aborrecimento e o desencanto da idade adulta, as preocupações estéreis como as coisas artificiais, o alheamento que nos afasta das fontes da nossa força.» [CARSON, 2012: 41]

 


«A análise que temos vindo a fazer ao longo de 48 anos de investigação permitiu-nos chegar a uma conclusão alarmante: por os adultos não lhes permitirem brincar e brincar em liberdade, as nossas crianças estão a tornar-se totós, verdadeiros analfabetos a nível motor. Impedidas de se movimentarem livremente na Natureza e em espaços abertos, em contacto com o ar livre e os elementos naturais, sem lugar para a imaginação e a criatividade, as crianças de hoje estão cada vez mais tolhidas e presas por uma iliteracia motora gritante. (…)

As crianças do nosso tempo vivem prisioneiras no espaço e no tempo e sujeitas a dinâmicas impostas por modelos de gestão familiar, escolar, laboral, social e cultural. Há crianças sem infância, que não vivenciam as experiências próprias da sua idade e, deste modo, veem comprometida a aquisição de competências fundamentais ao sucesso na vida adulta. A infância só se vive uma vez.

Esta é a era de crianças prisioneiras que não brincam, já deixaram de brincar ou já não sabem brincar, porque têm o tempo todo organizado, passado na escola, em casa ou no carro, a preparar-se para um futuro incerto que não tem em conta o seu presente.» [NETO, 2020: 17-18]

 


Vivemos um período excepcional, devido à pandemia da Covid-19, que está a confrontar de forma inaudita a sociedade, em geral, e os indivíduos, em particular, com a prisão na qual as nossas vidas se transformaram por via do cercear de liberdades básicas (tidas como garantidas) como a designada “livre circulação”. Um período que pode (ou poderia?) surgir como o despertar para um novo estado – de liberdade – não fosse o obsessivo anseio do regresso à pretensa “normalidade”. Será que a Covid-19 não tornou evidente que a “normose” (uma espécie de doença da normalidade) mais não era/foi do que uma alienada/alienante prisão? A Liberdade terá de passar necessariamente por novos horizontes que não deverão estar alheados da Responsabilidade, na senda de um Agostinho da Silva e outros inspirados pensadores operativos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARSON; Rachel. Maravilhar-se – Reaproximar a Criança da Natureza. Porto: Associação Campo Aberto/Edições Sempre-em-Pé, 2012, pp. 104. ISBN 978-972-8870-36-2

NETO, Carlos. Libertem as Crianças – A urgência de brincar e ser ativo. Lisboa: Contraponto Editores, 2020, pp. 240. ISBN 978-989-666-239-4

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Treino Desportivo

Técnicas de intervenção pedagógica para Treinadores de Desportos de Montanha – Grau I: feedback e questionamento num estádio de iniciação

Os feedbacks intrínsecos e extrínsecos são essenciais nos processos de aprendizagens motoras, i.e. de aquisição de habilidades mais ou menos complexas e intencionais, envolvendo um conjunto de mecanismos sensoriais. O feedback constitui uma das principais componentes do processo de ensino-aprendizagem, nomeadamente por se tratar de uma variável que pode e deve ser manipulada pelos treinadores.
O feedback intrínseco (ou inerente) é aquele que o praticante apreende através do seu sistema sensorial (visão, audição, cinestesia, etc.), durante ou após o movimento, permitindo a detecção de certos aspectos do desempenho de uma determinada habilidade ou conjunto de habilidades. O feedback extrínseco (ou aumentado) corresponde à informação que o praticante recebe de uma fonte externa – normalmente da parte de um treinador – relativa a aspectos relevantes da execução de uma determinada habilidade ou conjunto de habilidades. Este tipo de feedback irá, portanto, e desde logo, salientar a diferença entre o padrão do movimento executado e o padrão considerado ideal. Neste contexto, o feedback extrínseco distingue-se do intrínseco por possibilitar a monitorização, avaliação e manipulação de variáveis durante o processo de treino.
O feedback intrínseco é inerente e indissociável dos processos de treino mas deve ser (re)orientado e/ou robustecido (aumentado) pelo feedback extrínseco, nomeadamente por este comportar um destacado papel motivador e de melhoria da execução de habilidades motoras. O contributo externo é insubstituível na identificação e correcção de erros. Saliente-se também que o feedback extrínseco possibilita um mais assertivo, ajustado e, por isso, adequado conhecimento dos resultados e dos desempenhos.

DR © Serra da Estrela (2017)

Feedback pedagógico e questionamento
De entre os comportamentos que estão relacionados com a eficácia da actuação dos treinadores salienta-se a utilização, mais ou menos frequente, do feedback, tendo como principais objectivos a correcção e a motivação dos praticantes (Côté & Sedgwick, 2003 in RODRIGUES & SEQUEIRA, 2017: 174). O feedback extrínseco constitui uma das principais componentes do processo de ensino-aprendizagem, designadamente porque possibilita a correcção, por parte do treinador, de aspectos relevantes da execução de determinado exercício. Essa técnica de intervenção pedagógica permite não só identificar aquilo que está a ser executado de forma errada ou menos bem, mas também salientar aquilo que melhorou ou, inclusivamente, a excelência do desempenho, com notórios efeitos positivos a nível motivacional. Allen e Howe (1998) referem que a satisfação dos praticantes com o seu treinador está relacionada com uma maior frequência de feedbacks positivos por parte deste (RODRIGUES & SEQUEIRA, 2017: 174); no entanto, essa “metodologia” deve ser ponderada tendo em conta que se as “mensagens” não forem ancoradas em resultados realmente positivos os atletas ir-se-ão aperceber da falsidade das mesmas e o processo de treino será desacreditado.
A eficácia do feedback extrínseco está dependente da capacidade do treinador diagnosticar erros e prescrever soluções (ROSADO, 2017: 4). Se o feedback extrínseco não está a obter resultados satisfatórios talvez seja porque o treinador não esteja a identificar correctamente os erros e/ou a transmitir adequadamente as supostas soluções. O treinador, nestas circunstâncias, deverá recorrer ao questionamento do praticante para indagar sobre o que este pensa ser(em) o(s) entrave(s) à melhoria do desempenho; ademais caso já tenha aplicado intervenções pedagógicas, consideradas necessárias e suficientes, ao nível da informação, da demonstração e, claro está, do feedback extrínseco. Saliente-se, contudo, que este tipo de questionamento mais não será, afinal, do que apelar ao feedback intrínseco do praticante para, deste modo, o treinador tentar diagnosticar adequadamente o porquê dos erros e quais as eventuais soluções a aplicar. Neste contexto, o feedback extrínseco, com o intuito de melhorar o desempenho do atleta, pode evidenciar não só cariz negativo e/ou positivo, como também assumir diferentes matizes: feedback descritivo, prescritivo, avaliativo ou, até (como realçámos), interrogativo. A maior utilização do feedback descritivo, prescritivo e avaliativo numa sessão de treino, em detrimento do interrogativo, denotará a maior importância que geralmente os treinadores atribuem ao seu papel na detecção e correcção de erros cometidos pelos praticantes, em detrimento do feedback intrínseco da parte destes. No entanto, uma verdadeira retroacção treinador-praticante não deverá ignorar os sentimentos do praticante mas sim integrar esse “sentir” no processo de treino, ademais no contexto do treino desportivo numa fase de iniciação de jovens praticantes.
Quando abordamos as quatro técnicas de intervenção pedagógica dos treinadores – informação, demonstração, feedback e questionamento – facilmente constatamos que estas não são estanques e que existem notórias sobreposições, por vezes difíceis de destrinçar, entre elas. O feedback verbal pode assumir a faceta de informação; uma demonstração pode adoptar características de feedback visual ou, caso envolva contacto e/ou manipulação corporal, de feedback sinestésico; já uma informação oral acompanhada de uma demonstração poderá ser considerada um feedback audiovisual; e, como já referimos, um questionamento pode ser entendido como uma forma de feedback interrogativo. Neste contexto, torna-se de certo modo difícil elencar as (grandes) diferenças entre a utilização do questionamento e do feedback pedagógico na correcção de jovens atletas. Pese embora essa dificuldade, pensamos ser importante diferenciar, na medida do possível, as quatro técnicas de intervenção pedagógica dos treinadores, nomeadamente no que concerne o feedback e o questionamento, com vista à optimização do processo de treino.
O questionamento a que fizemos alusão e que poderá, de certo modo, considerar-se como uma forma de feedback interrogativo, envolve em regra perguntas de análise, síntese e/ou avaliação de desempenho de determinado exercício/tarefa. Já o questionamento que envolve perguntas para testar conhecimentos, a compreensão ou a transferência para novas situações será aquele que se poderá considerar questionamento stricto sensu. Esta forma de questionamento pode desempenhar uma importante função pedagógica no final de uma unidade de treino, como forma de fazer um balanço do que foi feito e também de auscultar o grau de satisfação dos praticantes (COELHO, 2016: 16). Note-se que as questões de análise, síntese e/ou avaliação também podem e devem ser colocadas no final de uma unidade de treino, todavia parece-nos que aqui residirá uma das grandes diferenças entre a utilização do feedback pedagógico e do questionamento s.s. na correcção de jovens atletas: o primeiro será utilizado, em regra, no decurso de uma unidade de treino e o segundo no final da mesma. O feedback mais como acção directa correctiva, o questionamento como balanço ou apelo à reflexão do praticante e, portanto, como correcção de certo modo indirecta. Essa forma de recorrer ao feedback e ao questionamento não impede nem desaconselha, contudo, a sua alternância durante a realização de uma sessão/unidade de treino. Coelho (2016: 18) salienta, aliás, a importância de alternar a informação de retorno (feedback pedagógico) com o questionamento, designadamente por facilitar a compreensão da tarefa e promover a comunicação entre o treinador e o praticante. Destaque-se também a importância do questionamento como forma abrangente de resolução de problemas e/ou tomada de decisões (RESENDE et al., 2017: 44).
Será igualmente de assinalar, no tocante às diferenças entre feedback e questionamento, que o uso do primeiro será mais adequado numa fase de iniciação a uma modalidade – correspondente a estádios de incompetência inconsciente e, posteriormente, consciente – e que o questionamento se tornará mais pertinente à medida que os praticantes evoluem para níveis de aperfeiçoamento ou avançados – caracterizados por competência  consciente e, seguidamente, inconsciente, mormente no âmbito dos Desportos de Montanha (AYORA, 2008: 130-131). Só depois dos praticantes tomarem consciência da sua incompetência poderão avançar satisfatoriamente no processo de aprendizagem (SEGURA, 2017: 61) e para que essa evolução se possa concretizar é fundamental fazer um uso adequado, i.e. gradativo, do feedback pedagógico e do questionamento.

DR © Penedo da Amizade - Sintra (2017)

Técnicas de intervenção pedagógica: exemplo do rapel
Abordemos, a título de exemplo, a tarefa/exercício de descida em rapel, efectuada no âmbito das modalidades de alpinismo, montanhismo e escalada, de acordo com o modelo do movimento OBSERVAÇÃO-DECISÃO-EMISSÃO DO FEEDBACK.
A OBSERVAÇÃO da execução de uma descida em rapel deverá centrar-se, numa primeira fase, apenas num conjunto limitado de princípios basilares do posicionamento corporal, tendo em conta que esta tarefa/exercício comporta inúmeros aspectos técnicos a ter em consideração e, por uma razão de gestão da quantidade de informação passada nas mensagens, é fundamental compartimentar os gestos técnicos de modo a incidir sequencialmente no seu enfoque. Neste contexto, começamos por identificar as diferenças entre a prestação real (a execução) e o padrão de posicionamento/desempenho considerado ideal, incidindo a nossa atenção num conjunto de erros tipificados que ocorrem com frequência e que é fundamental corrigir, desde logo, no processo de treino dessa tarefa/exercício, sob pena de determinados “vícios posturais” adquirirem um carácter “inato” e, portanto, (mais) difícil de corrigir. Comecemos, pois, por dar atenção a três aspectos basilares daquilo que se considera o padrão ideal: (1) tronco verticalizado; (2) pernas ligeiramente flectidas, fazendo um ângulo de cerca de 45º com a vertical e pés afastados à largura dos ombros ou um pouco superior a esta; (3) a mão que controla a descida posicionada lateralmente ao nível da anca e a outra mão, que mantém o equilíbrio corporal, colocada (na corda tencionada) ao nível do plexo solar ou ligeiramente superior a este (CUIÇA, 2010: 162)
Nesta primeira fase, a interpretação da observação, perante a constatação da ocorrência de desvios ao padrão ideal, deve dar origem invariavelmente à tomada da DECISÃO de reagir, tendo em conta que é fundamental identificar e corrigir as posturas de base, referidas acima, desde logo e as vezes que for necessário até atingir os resultados pretendidos; i.e., uma correcção, rumo à excelência (ou transcendência?), da execução que traduza uma adequada competência consciente ou, posteriormente, uma competência inconsciente. No início de qualquer processo de aprendizagem de uma tarefa/exercício com as características do rapel, os praticantes estão numa fase de ignorância inconsciente (são inconscientemente incompetentes), sendo necessário identificar e transmitir as incorrecções existentes de modo a que estes possam passar a uma fase de incompetência consciente. Só depois dos praticantes tomarem consciência da sua incompetência poderão avançar satisfatoriamente no processo de aprendizagem e para que essa evolução se possa concretizar é fundamental fazer um uso adequado do FEEDBACK PEDAGÓGICO.
A questão que se coloca ao treinador será qual a melhor forma de administrar o feedback pedagógico no que concerne à aprendizagem do rapel? Nesse contexto, é necessário dar muita atenção à qualidade do feedback com vista a optimização do melhoramento da prestação motora do(s) praticante(s), sendo fundamental partir do simples (e só depois para o mais complexo), do fácil (para o difícil) e sempre através de mensagens curtas e concretas. De entre os factores que influenciam a capacidade de fornecer um bom feedback destacamos, na tarefa/exercício que estamos a analisar, a importância de manter uma concentração constante e o enfoque permanente no tipo de resposta motora esperada por parte do atleta durante todo o processo de treino. Se necessário for, poderemos trabalhar os três “aspectos basilares”, apontados acima, focando-nos apenas num de cada vez e, só depois, abordá-los em simultâneo. Sem nunca esquecer, contudo, que é fundamental dar um feedback (correctivo) sempre que se verifique um erro notório em qualquer um dos aspectos, mormente se esse “lapso” colocar o praticante em risco. Para atingir bons resultados é necessário, regra geral, dar uma importância especial ao reforço, sem esquecer a motivação. O reforço conduz o praticante à repetição do mesmo movimento (gesto técnico) inúmeras vezes, com vista ao aperfeiçoamento da sua execução. A motivação permite a manutenção ou até o incremento do interesse e do esforço por parte do praticante.
Subentende-se que antes do feedback, se procedeu à informação e à demonstração de como executar o exercício/tarefa antes de o praticante empreender essa execução. O feedback, o reforço e a motivação decorrem da execução por parte do praticante, das repetições da execução em causa e da motivação com vista à sua melhoria.
Só depois de dominados os três “aspectos basilares” se estará em condições de evoluir no processo de treino, dando atenção não só a outros aspectos/abordagens posturais, como também a outras variáveis, designadamente o perfeito domínio da técnica gestual, a velocidade de execução ou a excelência da operacionalização dos equipamentos utilizados, designadamente o descensor utilizado na manobra (tarefa/exercício). Neste contexto, será de assinalar o facto de nesta abordagem nos termos focado apenas num exemplo do treino da técnica gestual da descida em rapel e deliberadamente termos ignorado a adequada utilização dos Equipamentos de Protecção Individual (EPI) e/ou da técnica inerente à correcta montagem de um rapel e da sua operacionalização que, per si, também são alvo de processos de treino específicos.

Pedro Cuiça

DR © Serra de Candeeiros (2017)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AYORA, Alberto. Gestión del Riesgo en montaña y en actividades al aire libre.  Madrid: Editorial Desnivel, 2008, pp. 256. ISBN 978-84-9829-142-1
COELHO, Olímpio. Didática do Desporto. Lisboa: Instituto do Desporto de Portugal, 2016, pp. 28. Disponível em http://www.idesporto.pt/ficheiros/file/Manuais/GrauI/GrauI-01_Didatica.pdf. [Consult. 04/06/2019]
CUIÇA, Pedro: Guia de Montanha – Manual Técnico de Montanhismo I; Lisboa: Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal/Campo Base, 2010, pp. 224. ISBN 978-989-96647-1-5
SEGURA, José Ignacio. Seguridad en Montaña – Los peligros ocultos. Madrid: Editorial Desnivel, 2017, pp. 318. ISBN 978-84-9829-392-0
RESENDE, Rui et al.. Exercício profissional do treinador desportivo: Do conhecimento a uma competência eficaz. Journal of Sport Pedagogy and Research, 2017, 3(1), pp. 42-58.
RODRIGUES, José & SEQUEIRA, Pedro. Contributos para a Formação de Treinadores de Sucesso. Lisboa: Visão e Contextos – Edições e Representações, 2017, pp. 254. ISBN 978-989-99399-9-8
ROSADO, António. Lidar com o Erro em Treino Desportivo. Lisboa: Comité Olímpico de Portugal/Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Desportivo, 2017, pp. 17. Disponível em

Jornadas Internacionais

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