sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

IN-verno

A Natureza no Inverno são noites longas e misteriosas, ora pontilhadas por miríades de estrelas ora carregadas de profunda escuridão entrecortada por clarões trovejantes; dias de fria e contrastante luminosidade, de amplas panorâmicas, intercalados de cinzentas jornadas de limitados horizontes; tempestuosos aguaceiros, o som da chuva e o cheiro a terra; o despontar de cogumelos, migrações e hibernações; o verde da vegetação e a brancura da neve ou das amendoeiras em flor. Uma expectante e prometedora dormência parturiente de nova vida.


Amendoeira em flor (Vicent Van Gogh, 1890)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Em nós caminha

"Caminhamos acariciando e beijando a terra com as plantas dos nossos pés e a atenção plena que ela nos merece. Caminhamos numa oferenda do movimento a todos os seres e ao universo, irradiando para o bem de todos a serena energia do caminhar consciente. (...)
Começamos agora a tomar consciência de todas as sensações que ao caminhar se estendem de cada pé a toda a musculatura de cada perna e a todo o corpo. Sentimos que cada passo é dado com todo o corpo e sentimos o seu lento deslocar no espaço, como se soprado por uma brisa ligeira. Sentimos como cada pé é inseparável do solo, tal como o corpo é inseparável do espaço. Sentimos que não somos nós que caminhamos no mundo, mas sim o mundo que em nós caminha."

Paulo Borges (2014): O Coração da Vida - Guia Prático de Meditação; Edições Mahatma, p. 129


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

GR Europeus


Descobri hoje casualmente na Internet uma palestra que apresentei numa Sessão de Debate “O Tejo a Pé” que decorreu, no dia 6 de Maio de 2011, no Centro Náutico de Constância. Tendo em conta que a generalidade da apresentação ainda se encontra perfeitamente actual, aqui fica o link para Grandes Rotas - Um Património Cultural Europeu
A história da prática de pedestrianismo e da balizagem de percursos pedestres na Europa ainda se encontra por fazer, sendo que existe muita informação dispersa e versões diferentes acerca do assunto. Neste contexto, alertamos, desde logo, para o facto de nesta pequena palestra ter sido apresentada assumidamente uma visão francófona da "coisa" pedestre a nível europeu...



On...


Mountain Protection Commission...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Celebrating Mountains




Dia Internacional das Montanhas*

«Suspeito agora que, exactamente como uma manada de veados vive no temor mortal dos lobos, assim vive a montanha no temor mortal dos veados. E talvez com mais razão, pois que enquanto um veado abatido pelos lobos pode ser substituído em dois ou três anos, uma cordilheira desarborizada por um excesso de veados não consegue reconstituir-se em tantas outras décadas.»
Aldo LEOPOLD (2008)

«As montanhas são necessárias! As montanhas são necessárias para que os rios possam fluir delas até mim!»
Vladimir ANTONOV (2008)

O Dia Internacional das Montanhas, que se comemora a 11 de Dezembro, vem recordar-nos mais uma vez a necessidade premente de proteger esses frágeis e importantes ecossistemas, sujeitos a uma destruição e degradação que tem vindo a aumentar devido a uma crescente pressão humana, directa e indirecta, designadamente através do aquecimento global e das alterações climáticas associadas.
A implementação de medidas conducentes a um desenvolvimento sustentável nas áreas de montanha começa por acções de âmbito geral e de aplicação no dia-a-dia, como a diminuição da pegada ecológica de cada um de nós, mas também na forma como individualmente e em grupo encaramos e praticamos actividades de ar livre em meio montanhoso.
Os locais de difícil acesso eram tradicionalmente pouco frequentados pelo Homem. No entanto, o significativo incremento da prática de actividades de ar livre, que se verificou nas últimas décadas, começa a reflectir-se na qualidade desses sítios, de grande riqueza natural: hoje em dia, “não deixar mais que pegadas e não tirar mais que fotografias” é insuficiente face aos problemas locais de massificação das actividades outdoor e, mais ainda, face a problemas globais... Nesse contexto, exigem-se medidas concretas, fundamentadas e eficientes que resolvam o paradoxo de como proteger os ambientes de montanha e simultaneamente promover a prática de actividades de montanha. Torna-se evidente que essas actividades terão de passar por uma ponderação, na perspectiva do que se entende por desenvolvimento sustentável, em que o diálogo entre os diversos intervenientes contribua para uma gestão coerente e equilibrada do património natural.
Actualmente chega-se à conclusão de que cada um de nós desempenha um papel, mais ou menos importante, nas alterações que se processam constantemente no meio: apesar das contribuições individuais serem pequenas ou mesmo insignificantes a sua soma poderá atingir grandes proporções. A massificação dos “terrenos de aventura” pode originar diversos impactes ambientais: pisoteio, incremento da erosão, ruído, destruição de vegetação, perturbação da fauna, detritos, risco de incêndio, etc.. Por outro lado, a multiplicidade de “actividades de montanha” é estonteante: desportos motorizados, caça e pesca, hidrospeed, canyonig, rafting, parapente, bicicleta de montanha, marcha e/ou corrida de orientação, espeleologia, escalada, montanhismo, pedestrianismo, percursos equestres, esqui, escutismo, etc.. Haverá um largo consenso em torno do exposto, no tocante aos (eventuais) impactes ambientais da prática de actividades de ar livre, tal como haverá no que concerne há necessidade de diferenciar as diversas actividades, caracterizar os respectivos impactes, monitorizar, quantificar, etc.. E, nesse pressuposto, efectuar uma gestão particularizada, diferenciadora e ajustada às especificidades em jogo.
Respeitar o meio ambiente será uma garantia não só da qualidade do mesmo, como do futuro da própria prática de actividades de ar livre. No entanto, de uns anos a esta parte, constata-se a implementação de inúmeros condicionalismos e proibições da prática dessas actividades, sobretudo nas áreas protegidas. É importante que os praticantes possuam uma conduta irrepreensível no que concerne à conservação da natureza, mas também é certo que os decisores devem ter em conta as especificidades de cada modalidade e, sobretudo, diferenciá-las. Só assim se poderá tentar qualificar e quantificar cada uma das actividades de montanha e seus impactes para, depois, decidir sobre as medidas a implementar. Estas actividades carecem de uma gestão adequada e não de proibições avulsas!
PC
*artigo escrito para a revista Flor de Lis (Dezembro 2014)

Referências bibliográficas
CUIÇA, Pedro (2010): Guia de Montanha – Manual Técnico de Montanha. Lisboa: Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, pp. 224. ISBN 978-989-96647-1-5
LEOPOLD, Aldo (2008) [1949]: Pensar Como Uma Montanha. Águas Santas: Edições Sempre em Pé, pp. 220. ISBN 978-9-728-87010-2

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Caminhadas em Atenção Plena


14 de Dezembro – 15-18h – Monsanto

O Círculo do Entre-Ser, associação filosófica e ética, lançou no âmbito de uma nova série de actividades as Caminhadas em Atenção Plena, que visam reconectar-nos com a natureza e com a experiência da energia vital e sagrada que a impregna.

A próxima caminhada será no dia 14 de Dezembro, com encontro pelas 15 horas no parque de estacionamento do Espaço Monsanto, e terá a duração aproximada de 3 horas. Trata-se de um percurso muito acessível a todos, durante o qual caminharemos em atenção plena, por vezes em silêncio, alternando com períodos de meditação sentada na floresta, sempre numa total abertura da consciência e dos sentidos no contacto com a terra, as árvores, as pedras, os animais e toda a natureza envolvente.

A floresta de Monsanto, um lugar sagrado desde a Antiguidade, é um espaço ideal para redescobrirmos que somos inseparáveis do mundo natural e dos seres que o habitam.

As inscrições processam-se na União Budista Portuguesa através do e-mail: sede@uniaobudista.pt

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Yá'át'ééh... (III)

Não fossem os compromissos profissionais e não teria parado!... O Arizona é uma terra fantástica para andar: paisagens grandiosas, horizontes vastíssimos e pessoas encantadoras. Gostaria de lá voltar para verdadeiras andanças de vários dias e respectivas noites sob as estrelas. De resto, não deixei de dar o meu “pezinho de dança", designadamente nas florestas dos arredores de Flagstaff, nas terras áridas da Navajo Nation ou no Bright Angel Trail (Grand Canyon)... 



PC©

Yá'át'ééh... (II)

"Ainsi, plutôt que de tendre les mains au ciel pour implorer la grâce des divinités célestes, l'Indien d'Amérique préfere marcher pieds nus sur la Terre. (...) La terre était douce sous la peau et ils aimaient à ôter leurs mocassins et à marcher pieds nus sur la terre sacrée."
Frédéric GROS: Marcher, une philosophie (2009: 146-147)

Allen Bahe - pintor Navajo (Arizona - USA)

Yá'át'ééh...

Allen Bahe - pintor Navajo (Arizona - USA)

"Dizemos que os rostos das gerações vindouras estão a olhar-nos de debaixo da terra. Portanto, quando pousares os pés no chão, pousa-os muito cuidadosamente - porque são gerações a suceder-se uma após a outra. Se pensares nestes termos, então caminharás muito mais cuidadosamente, serás mais respeitador desta terra."
Lyons in JAMIENSON et al.: Manual de Filosofia do Ambiente (2005: 23)

Allen Bahe - pintor Navajo (Arizona - USA)

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

...em Atenção Plena


8 de Novembro – 15-18h – Monsanto

"O Círculo do Entre-Ser, associação filosófica e ética, tem a alegria de anunciar a primeira de uma nova série de actividades, as Caminhadas em Atenção Plena, que visam reconectar-nos com a natureza e com a experiência da energia vital e sagrada que a impregna.

Será no dia 8 de Novembro, com encontro pelas 15 horas no parque de estacionamento do Espaço Monsanto, e terá a duração aproximada de 3 horas. É um percurso muito acessível a todos, durante o qual caminharemos em atenção plena, por vezes em silêncio, alternando com períodos de meditação sentada na floresta, sempre numa total abertura da consciência e dos sentidos no contacto com a terra, as árvores, as pedras, os animais e toda a natureza envolvente.

A floresta de Monsanto, um lugar sagrado desde a Antiguidade, é um espaço ideal para redescobrirmos que somos inseparáveis do mundo natural e dos seres que o habitam."

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

domingo, 5 de outubro de 2014

ECO-psychology

"British and American scientists have published new research showing that group nature walks help us combat stress while boosting mental well-being. Researchers from the University of Michigan and Edge Hill University in England evaluated 1,991 participants in England’s Walking for Health program, which hosts nearly 3,000 walks per week for more than 70,000 regular participants. They found that the nature walks were associated with significantly less depression in addition to mitigating the negative effects of stressful life events and perceived stress. The findings were published in the September issue of Ecopsychology."

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ande pela sua saúde e...


Os benefícios da caminhada no que concerne à saúde dos praticantes são cada vez mais conhecidos, tendo essa temática já sido abordada sumariamente num anterior post publicado aqui no PedestrisAnde pela sua Saúde. A promoção da caminhada por razões de saúde é alvo de diversas e interessantíssimas estratégias e iniciativas levadas a cabo noutras "paragens" com forte tradição e implementação do pedestrianismo, designadamente na Alemanha, na Inglaterra ou na França. Nesse âmbito, merecem um especial destaque os programas Lets’s go – jeder Schritt hältfit, promovido pela Deutsches Wanderabzeichen, o Walking for Health, da Ramblers Association, ou a Rando Santé, da Fédération Française de la Randonnée Pedestre (FFRP).
A ligação da saúde ao ambiente (e vice-versa) é que se revela, curiosamente, algo pouco ou nada explorado além fronteiras sendo, nesse contexto, o projecto desenvolvido no nosso país, pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), inovador em diversos aspectos, desde logo por se revelar uma abordagem holística mas também por apostar na autonomia e livre recreação dos praticantes. Andar pela sua saúde e pela saúde do planeta revela-se um passo "muito há frente"...


terça-feira, 30 de setembro de 2014

Les chemins...

Renoir (Chemin dans la forêt, 1875)

«Après la longue comédie des masques, les agitations fatigantes, viendra, (...), la première rupture. À nouveau, il emprunte, pour de longues marches méditatives, les chemins de forêt ou les sentiers du bord des lacs. Il se fait ours.»
Frédéric Gros: Marcher, une philosophie (Flammarion, 2011: p. 92)


PC©Floresta - 27/09/2014 (Schöneck – Alemanha)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Partir Pedra...


"La marche, si elle poursuit un but de spiritualité, est souvent semée d'obstacles volontaires pour le pèlerin qui se soucie moins d'accéder au terme du voyage que de susciter en lui une métamorphose intérieure."

David Le Breton: Marcher - Éloge des chemins et la lenteur (2012: 147)

Une forme de spiritualité


"Je n'ai pas de religion particulière ce matin. Mon dieu est le dieu des marcheurs. Si vous marchez assez longtemps, vous n'avez probablement besoin d'aucun autre dieu" (Chatwin, 1979, 54). Tout marcheur chemine avec ses dieux intérieurs. La marche est ce moment où la présence au monde redevient une forme de spiritualité. Elle conjure la séparation entre l'homme et le monde, et lui donne le sentiment d'appartenir enfin aux éléments, d'être porté non seulement par la terre ou son poids, mais aussi par sa force intérieure, nourrie de cette alliance. Elle nést pas un monothéisme car les impressions ressenties par le marcheur sont trop multiples et contradictoires, toujours changeantes. Elles ne se rangent pas sous une seule bannière, et elles appellent plutôt le plein vent du monde. La marche relève du polythéisme, elle est sous l'égide d'une pluralité de divinités. Il importe peu que le marcheur les reconnaisse ou non, car de toute façon les dieux marchent avec lui.

David Le Breton: Marcher - Éloge des chemins et de la lenteur (2012: 146-147)


terça-feira, 12 de agosto de 2014

A-via...


«A meta de cada caminhante está em relação com a via particular que percorreu: entre eles há aquele a quem a comunicação é feita na sua língua, e há aquele a quem a comunicação é feita numa língua diferente da sua. Todo aquele a quem a comunicação é feita numa língua, seja ela qual for, será herdeiro do Profeta dessa língua. Por isso é que ouves a gente desta via iniciática dizer: “Fulano é Mūsawī (do tipo de Moisés). Īsawī (do tipo de Jesus). Ibrāhīmī (do tipo de Abrão), ou Idrīsī (do tipo de Idrīs)”. De igual modo, entre eles, há aquele a quem a comunicação é feita em duas línguas, três ou quatro, ou mais. Mas o perfeito é aquele a quem a comunicação é feita na totalidade das línguas, e esse é exclusivamente o Muhammadī  (do tipo de Muhammad).»

Ibn Arabī (Epístola das Luzes – Dos Segredos Outorgados Àquele que Entra em Retiro. Estremoz: Al Barzakh, 2009: p. 119)

E há ainda aqueles que seguem a Via Láctea, perscrutam a Estrela da Manhã, interpretam paisagens, ouvem a língua dos pássaros ou escutam os rumores dos ventos/árvores...

© Vanda Rita

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Venho?!

© Vanda Rita

Fool Moon...

«Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu sei.
Bom dia, companheiro, te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho
É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um o seu vinho.
É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha de um calvário.
E queima como a areia!... Foi no entanto
Que choramos a dor de cada um…
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.

Fez-nos bem, muito bem, esta demora:
Enrijou a coragem fatigada…
Eis os nossos bordões de caminhada,
Vai já rompendo o sol: vamos embora
(…)»

Camilo Pessanha - Caminho in Clepsydra (1920)

Concepción (Ayamonte)
Concepción (Ayamonte)

quinta-feira, 10 de julho de 2014

quarta-feira, 9 de julho de 2014

...Wonder


Capacidade de amar

«RITMOS DE MARCHA
Enganados a um tempo pelo aspecto de paz exterior que tomou a civilização e, por outro, pela irrupção, de quando em quando, de crises daquilo a que vulgarmente chamamos guerra, temos em geral a ideia de que estamos desmobilizados, de que não vivemos sobre nenhum campo de batalha, de que gozamos, longe de qualquer espécie de frente, os benefícios de um verdadeiro apaziguamento. E a verdade, no entanto, é que não podemos entender nada da nossa própria vida ou da vida da colectividade se nos deixamos possuir por esta ideia.
(…) Tão estranha e maravilhosamente somos compostos de eternidade e de tempo que, sendo a nossa única e real vocação a de ser santos, a cada passo nos estamos especializando, nos estamos deixando arrastar e prender por todos os outros fragmentos de vocação ou por todo o passageiro chamamento que por acaso ouvimos. E este é o nosso primeiro combate: o de não deixarmos que o que é puramente temporal tome em nossas vidas o lugar que se deve ao eterno.
(…) E por aqui voltamos a outro ponto da nossa batalha. Houve tempo em que eram os mesmos os planos divinos e os nossos. Só que Deus, cuja essência é possivelmente liberdade, se arriscou com o homem, como com os anjos, aos perigosos jogos da liberdade: como deixa à pedra que por sua natureza caia, como deixa à água que por sua natureza se amolde ao continente, deixou ao homem que, segundo a sua natureza de ser pensante, pensasse. É evidente que, por definição, o pensamento só se cumpre quando inteiramente pensa todo o pensável.
(…) Desde, porém, que o entendimento seja completo, o homem que pensa é um excelente soldado: daqueles que vão para a batalha resolutos e calmos, pacíficos afinal no meio de todas as tormentas, percebendo em que guerra estão metidos, em que estratégias e tácticas se envolvem, e aceitando, o que é mais importante, como perfeitamente legítimos e benéficos, todos os sofrimentos que sobre eles se abatem.
Mas há outro tipo de combatente. O que surpreendemos principalmente nas longas esperas de trincheira ou nas marchas sob o fogo ou, pior ainda, naquelas léguas monótonas em que nada acontece senão frio, chuva e lama, e dentro o tédio, e fora a suprema inutilidade de tudo. Ele aguarda, no entanto, ou caminha, e caminha apenas porque, inteiramente entregue ao exercício, tendo-se apurado nas ascese da ordem unida, tendo tornado parte integrante do seu próprio ser o guiar seu ritmo de passos pelo camarada da frente, ou manter-se à distância regulamentar do seu camarada de parapeito, ou obedecer a todo o toque de comando sem perguntar porque, deixou de ser ele mesmo, excepto no que deles esperam os outros, e é apenas uma parte do todo. Serve, no que é indivíduo, a universalidade do universo.
Eis aqui, pois, outra maneira de se salvar. Aprender, e obedecer ao que se aprendeu. Lançar sobre o chefe toda a responsabilidade do que vier a suceder. Em todo o momento de perigo, olhar à direita e confiar o seu destino às resoluções do comando. Só que Deus não quer mandar em quem não é voluntário.
(…) Sendo liberdade a sua essência, Deus a ninguém pode forçar. (…) Porque os desastres que são para meu bem, Deus mos inflige sem me consultar em nada; porque mos inflige por amor. Mas os outros, os que me vão afastar de Deus, esses jamais virão se eu os não quiser. De qualquer modo, esta é a lei do serviço militar de Deus: apenas entre quem for voluntário.
(…) Reside em Deus a possibilidade de unir o tempo e a eternidade; em termos que, como todos os nossos, dado que temos de servir, para o que não é dia a dia, da linguagem do dia-a-dia, são imperfeitos para exprimir a noção que se pretende, poderíamos definir Deus como o ponto de contacto entre o tempo e a eternidade, como o lugar em que o tempo e eternidade se fundem nalguma coisa que só o silêncio pode dizer. Ora, de tudo o que nos sucede na terra, alguma coisa existe em que se fundem tempo e eternidade e que também só pelo silêncio se poderia dignamente exprimir; e esse alguma coisa é o amor.»

Agostinho da Silva – As Aproximações (Lisboa: Relógio d’Água Editores, 1990, pp. 114-116)


terça-feira, 8 de julho de 2014

Capacidade de sentir

A propósito da relação entre o espaço e o tempo (e vice-versa) lembrei-me de uma curta mas significativa história que o padre Marcelo Barros de Sousa – monge beneditino, escritor e teólogo brasileiro – contou numa palestra realizada, no dia 14 de Janeiro deste ano, na Faculdade de Letras de Lisboa, integrada num painel sob a temática “Ecologia e Espiritualidade”. Será conveniente salientar que Marcelo Barros desenvolveu, no âmbito da Teologia da Libertação, um ramo próprio que designou “Teologia da Terra”1. Esta, para além de um marcante pluralismo, aberto a outras culturas e religiões (mormente dos povos indígenas e negros brasileiros), distingue-se por apresentar uma forte componente holística de ligação à Terra, às origens, a uma espiritualidade ecológica2. Esse peculiar clérigo afirmou precisamente, na aludida palestra, que descobriu «a espiritualidade ecológica não na comunidade beneditina mas nos indígenas brasileiros e nas comunidades negras do candomblé».
Ora, feito este introdutório enquadramento, vamos então a essa pequenina narrativa em jeito de parábola:
Numa viagem de carro, que decorria numa serra brasileira, um chefe índio mandou parar o veículo, saiu para o exterior e quedou expectante… O condutor branco, passado algum tempo, perguntou-lhe se estava com algum problema; ao que o índio respondeu: você veio muito depressa e a minha alma não conseguiu acompanhar. Estou à espera da minha alma. Quando eu perco a alma, reconcilio-me, ligo-me à natureza, canto,… E vocês quando perdem a alma o que fazem?



Notas:
1. Para conhecer o seu pensamento, destacamos, de entre a sua obra literária, A Secreta magia do caminho (Nova Era, 1997), O espírito vem pelas águas (Loyola, 2008) e Teologia pluralista libertadora intercontinental (Editora Paulinas, 2008).
2. Marcelo Barros teve o cuidado prévio de diferenciar “espiritualidade” e “espiritualismo”, tal como “espiritual” e “espiritualizado”. Espiritualidade será a vida conduzida pelo Espírito Santo, a vida verdadeira… De que decorre a questão: como ter uma vida verdadeira numa Terra destruída [ou significativamente adulterada…]?

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Capacidade de pensar

«De bicicleta abrandei em relação ao carro e, a pé, abrandei em relação à bicicleta. Encontrei uma correlação directa entre desconforto e tempo. O desconforto impôs a dilatação do tempo e, a Caminho de Santiago, o tempo não é dinheiro nem passa a correr. É o único capaz de fazer o que é preciso. Regenerar. Ele ganhou volume e eu dei-lhe espaço.
A dinâmica dos meus dias é bem diferente. Controlada pela rapidez dos transportes, das respostas que exijo e me são exigidas, vivo rodeada de listas de coisas por fazer e de listas de como as resolver. O tempo é sempre curto para o número de solicitações e a minha cabeça desdobra-se em exercícios de resposta imediata, enquanto, em simultâneo, antecipa o ponto que se segue. Assim, dou por mim com a perícia de um polvo, munida de vários braços e com capacidade de os estender para assuntos diferentes. Sempre ao mesmo tempo. A isto chama-se multitasking e este estrangeirismo entrou na gíria empresarial portuguesa como uma das características mais valorizadas num colaborador. Contudo, vários investigadores têm opinião contrária à dos gestores.
Segundo eles, a probabilidade de iniciar qualquer coisa e deixá-la interrompida, ou até mesmo inacabada, é muito elevada. Não existe concentração, mas, antes, dispersão. Por um lado, há um pico de adrenalina ao ser-se solicitado com intensidade e frequência, mas por outro, surgem sentimentos de desmotivação porque as celebrações pela conclusão de algo escasseiam. Aos poucos, perde-se a capacidade de pensar a fundo, durante muito tempo – como é expectável quando o assunto é para levar a sério. Em resumo, a mente está sempre ocupada, mas isso não significa que esteja a pensar.»
Fausta Cardoso PereiraBom Caminho (Lisboa: Planeta, 2013, pp. 100-101)

Nota:
Bom Caminho trata-se de um livro motivador que, como está explícito na capa, pretende ser «um convite à viagem e à reflexão». Este «relato na primeira pessoa da experiência transformadora do Caminho Português de Santiago» surge, a nosso ver, motivador no panorama de outras obras do género pela sua aparente simplicidade plena de clareza… É certamente um livro que recomendamos e poderá ler aqui as primeiras páginas.

sábado, 5 de julho de 2014

Volta à Ibéria (II)

O nosso companheiro Hélder Cabral Vieira, do CIMO – Clube Ibérico de Montanhismo e Orientação, concluiu o “Perímetro Ibérico – 5000 km a Pé”. O projecto que começou na Trafaria (península de Setúbal), no dia 4 de Janeiro, teve hoje o seu terminus ao fechar-se o itinerário circular de longa distância no ponto onde teve início há seis meses atrás. Hélder Vieira já vinha “aclimatado” da iniciativa que concretizou no ano passado ao realizar a volta a Portugal a pé. Pelo andamento ficamos expectantes a aguardar qual será a sua próxima caminhada de longo curso…

A Volta à Ibéria já foi alvo de um post anterior no Pedestris e, desde então, temos vindo a acompanhar o desenrolar desta extensa deambulação peninsular. Pelo feito aqui ficam os nossos parabéns.



A Mãe de Todas as Quedas!

Os dois acidentes ocorridos na ilha da Madeira, em Junho passado, no âmbito da prática de pedestrianismo e que se saldaram na morte de três “turistas alemães” mereceram o destaque dos media1 e, mais uma vez, vieram lembrar as “estatísticas”, tantas vezes ignoradas e de difícil confirmação, que estimam o falecimento na região de quatro a seis praticantes anualmente. Tendo em conta as ditas “estatísticas”, avançadas por órgãos de informação, que apontam para cerca de quatro a quatro mil e quinhentas pessoas a caminhar por dia, durante a época alta, talvez se chegue à conclusão que o número de mortes não será tão elevado, como possa parecer à primeira vista, se comparado com a prática de pedestrianismo em outras regiões como, por exemplo, a área francesa do Maciço do Monte Branco de que se conhecem estatísticas fidedignas e disponibilizadas todos os anos. Mas não nos move aqui o intuito de analisar ou sequer tecer quaisquer considerandos acerca da fenomenologia dos incidentes e/ou dos acidentes na conjuntura da prática do pedestrianismo na Região Autónoma da Madeira, ainda para mais quando já existem estudos sobre a matéria que ultrapassam o mero nível de singelos comentários2.
No que concerne a incidentes e/ou acidentes na prática de pedestrianismo, em geral (portanto independentemente dos circunstancialismos locais), gostaríamos de salientar, isso sim, a importância de investir fortemente na prevenção/formação. Os praticantes devem possuir conhecimentos e experiência suficientes, tal como disporem de equipamento adequado, para as actividades em que se envolvem e os turistas devem ser enquadrados por profissionais devidamente certificados e que garantam a qualidade, nomeadamente em termos de segurança, dos serviços que prestam. Por outro lado, os percursos pedestres balizados devem estar nas melhores condições, desde logo no tocante ao número, visibilidade e qualidade das marcas. E escusado seria dizer que tanto pedestrianistas quanto turistas deveriam possuir seguro para a prática da modalidade não se desse o caso de muitas vezes isso não acontecer! Por vezes tal sucede porque os envolvidos são induzidos em erro ao, considerando o pedestrianismo como fácil, confundirem os conceitos de dificuldade e de perigosidade (tal como perigos e riscos) e, nesse contexto, pensarem ser desnecessário satisfazer um conjunto de requisitos para uma prática (mais) “segura” dessa actividade!! Por isso, encontrando-se em percursos tecnicamente fáceis, como uma levada, sujeitam-se frequentemente a perigos óbvios, como queda de pedras e/ou dos próprios praticantes, sem se darem conta da situação em que estão envolvidos!!!
No campo de acção da prevenção gostaríamos de destacar o exemplo do projecto Montañas Seguras, actualmente denominado “Montaña Segura”, que se focou na prevenção de acidentes em meio montanhoso e que, entre outras iniciativas, resultou na publicação de diversos folhetos informativos, designadamente no âmbito do pedestrianismo, e na elaboração do MIDE – Método para la Información De Excursiones. Dentro dessa temática destacamos igualmente a publicação de La Seguridad en Montaña3, resultante dos trabalhos desenvolvidos durante o VII Seminario de Parques Nacionales y Deportes de Montaña que decorreu, de 15 a 17 de Novembro de 2013, no Centro Nacional de Educación Ambiental de Valsaín (Segóvia – Espanha). O evento, organizado pela Federación Española de Deportes de Montaña y Escalada (FEDME), em colaboração com o Organismo Autónomo de Parques Nacionales, reuniu 64 especialistas (representantes de 15 Comunidades Autónomas), entre montanheiros e gestores ambientais, que estabeleceram algumas linhas mestras em matéria de segurança.



Notas:
1. Surgiram notícias em vários suportes informativos, como a TVI, o Diário de Notícias ou o Observador, entre outros.
2. Nesse contexto, destacamos a tese de mestrado Turismo e Riscos na Ilha da Madeira – Avaliação, Percepção, Estratégias de Planeamento e Prevenção (2010), da autoria de Daniel Márcio Fernandes Neves.
3. Documento na versão inglesa: Safety in the Mountains.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Eco-vigilância

A designada “fase Charlie” de combate a incêndios florestais começou anteontem (dia 1 de Julho) e estende-se até 30 de Setembro. A época mais crítica no tocante a essa tipologia de incêndios levou, como já vem sendo hábito desde há anos, à activação de diversos dispositivos de combate traduzidos sob a forma de sonantes números: recursos humanos, veículos terrestres, meios aéreos, postos de vigia e… milhões de euros! Será igualmente quase certo o repetitivo discurso da necessidade de promover a prevenção de incêndios, designadamente através da “limpeza das matas”, sobretudo quando os tão ou mais sonantes valores de área queimada forem aumentando, de forma mais ou menos alarmante, consoante as condições climatéricas e a motivação dos incendiários! No ano passado, o fogo consumiu mais de 145 mil hectares de “floresta” – a maior área ardida dos últimos oito anos!
A importância de uma cidadania ambiental responsável e pró-activa, que envolva “todos nós”, devia tornar-se, por isso, tão óbvia quanto premente, com particular enfoque na prevenção e alerta de incêndios florestais (não esquecendo, a montante, o plantio de árvores). É neste contexto que os cidadãos em geral e os pedestrianistas em particular poderão (e deverão) desempenhar um significativo papel. Estes últimos ao palmilharem a pé, sobretudo durante os fins-de-semana (mas não só), as mais diversas geografias nacionais poderão constituir um meio privilegiado de vigilância e alerta; ademais assente no voluntariado e, por isso, gratuito… A importância de um rápido alerta de incêndios florestais (através dos números de telefone 117 ou 112) é primordial para um combate igualmente rápido e eficaz. Foi, aliás, nesse contexto que a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP) e a Fédération Française de la Randonnée Pedestre (FFRP) lançaram, em 2005, a campanha de sensibilização, vigilância e adopção de comportamentos adequados em caso de incêndios: Eco-Vigilância/Éco-Vigilance.
Os incêndios originados por causas naturais constituíram uma das principais forças promotoras da diversidade vegetal e do rejuvenescimento de bosques… Alguns biótopos como a taiga e o chaparral ou matagal mediterrânico dependem dos fogos e existem espécies perfeitamente adaptadas a esses eventos como Sequoiadendron giganteum ou Pinus palustris. No entanto, em Portugal e em Espanha (tal como noutros países), o elevado número de incêndios resultantes de causas não naturais e a destruição recorrente de grandes áreas florestais ultrapassam enormemente a capacidade de regeneração desses ecossistemas. A “tradição” dos incêndios florestais que, ano após ano, assola a Ibéria e atinge dimensões de calamidade, a prosseguir da forma como nos tem “habituado” (?) levará à desertificação de grande parte da península antes do final do século! As paisagens não são estáticas, evoluem, transformam-se e…


«Puszcza, uma velha palavra polaca, significa «floresta primitiva». Estendendo-se ao longo da fronteira entre a Polónia e a Bielorússia, o meio milhão de hectares da Bielowieza Puszcza contêm o último fragmento que resta de floresta selvagem e primitiva. Pense na floresta escura e brumosa que lhe vinha ao espírito quando, em criança, lhe liam as histórias de fadas dos irmãos Grimm. Aqui, freixos e tílias crescem a quase trinta metros de altura, com as suas enormes copas coroando um mundo intrincado de abetos europeus, fetos, vegetação pantanosa e cogumelos das mais variadas formas. Os carvalhos, envoltos pelo musgo de meio milénio, crescem tanto neste lugar que os grandes pica-paus guardam sementes de abeto nas fendas da casca. O ar espesso e frio, está envolto em silêncio, brevemente interrompido pelo grasnar de um quebra-nozes, pelo piar rouco de um mocho ou pelo uivo de um lobo, para logo regressar à quietude.
fragrância que se escapa das folhas e ervas apodrecidas acumuladas durante milénios evoca as próprias origens da fertilidade. Na Bialowieza, a profusão de vida deve muito a tudo o que está morto. Quase um quarto da massa orgânica acima do solo encontra-se em vários estádios de apodrecimento – mais de 50 metros cúbicos de troncos e ramos decompostos por hectare, alimentando milhares de espécies de cogumelos, líquenes, insectos, larvas e micróbios que não existem nas bem ordenadas e controladas áreas arborizadas que noutros sítios passam por florestas.
No seu conjunto, estas espécies constituem uma despensa natural que alimenta doninhas, martas, texugos, lontras, raposas, linces, lobos, veados, alces e águias. Encontram-se aqui mais formas de vida do que em qualquer outro lugar do continente – apesar de não haver montanhas circundantes ou vales abrigados que formem nichos para espécies endémicas. A Bialowieza Puszcza é, simplesmente, uma relíquia do que antes se estendia para leste até à Sibéria, e para poente até à Irlanda.
(…) É impressionante pensar que, um dia toda a Europa se pareceu com esta Puszcza. Entrar nela é perceber que a maioria de nós cresceu diante de uma pálida ideia das intenções da natureza.» (WEISMAN, Alan. O Mundo Sem Nós; Cruz Quebrada: Estrela Polar, 2008, 2ª ed., pp. 21-24)


terça-feira, 1 de julho de 2014

Acertar o passo

O jornalista e escritor Stephen Grahan (1884-1975) ter-se-á tornado um fervoroso adepto da caminhada, à semelhança de Henry-David Thoreau (1817-1862) ou John Muir (1838-1914), na razão directa do seu cansaço crescente face ao mundo industrializado em geral e da civilidade inglesa em particular. No seu primeiro livro A Vagabund in the Caucasus (1911), Grahan faz alusão ao começo da sua vida como “vagabundo” em termos bastante contundentes: «where I had sold myself to work, I had now bought myself back». Após a sua partida para “explorar” a Rússia nunca mais voltaria a trabalhar com horário e sítio fixos, pois decidiu trocar, nas suas palavras, a «dependência do homem pela dependência de Deus». Na verdade, a exploração em que se envolveu profundamente não foi sobretudo ou meramente de natureza geográfica mas sim a de si próprio (exploring the self). E essa exploração, busca ou (re)descoberta espiritual recorreu (ou processou-se) significativamente ao (através do) andar a pé. A caminhada no terreno foi, pois, acompanhada simultaneamente por tão ou mais notórias deambulações por geografias interiores…
O acto de colocar um pé à frente do outro permitiu-lhe aproximar-se de si próprio e, simultaneamente, da Natureza. Segundo Grahan a morte do espirito estava ligada, de certa forma, ao falecimento da floresta e tanto uma como a outra deveriam ser contrariadas através de actos e/ou pensamentos revitalizadores e primordiais… Thoreau escreveu, no seu ensaio Caminhar (1862), que “na Natureza Selvagem (Wilderness) se encontrava a preservação do mundo”. Ora esse ponto de vista tornar-se-ia profético sob mais aspectos do que aqueles que alguma vez Thoreau poderia ter imaginado ou Muir e Grahan poderiam ter intuído. Todos estes caminhantes eram renegados solitários – isolados na sua rebelião face à industrialização – na defesa da Natureza, mas dificilmente terão vislumbrado a dimensão que as alterações ambientais, por vezes catastróficas, iriam assumir nesta alvorada do século XXI! Faríamos bem se considerássemos a caminhada – o acto de caminhar – como uma via – ou caminho – privilegiado de (re)posicionamento da nossa relação com a Natureza. Resta ver é se ainda iremos a tempo de acertar o passo!