quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Celebrating Mountains




Dia Internacional das Montanhas*

«Suspeito agora que, exactamente como uma manada de veados vive no temor mortal dos lobos, assim vive a montanha no temor mortal dos veados. E talvez com mais razão, pois que enquanto um veado abatido pelos lobos pode ser substituído em dois ou três anos, uma cordilheira desarborizada por um excesso de veados não consegue reconstituir-se em tantas outras décadas.»
Aldo LEOPOLD (2008)

«As montanhas são necessárias! As montanhas são necessárias para que os rios possam fluir delas até mim!»
Vladimir ANTONOV (2008)

O Dia Internacional das Montanhas, que se comemora a 11 de Dezembro, vem recordar-nos mais uma vez a necessidade premente de proteger esses frágeis e importantes ecossistemas, sujeitos a uma destruição e degradação que tem vindo a aumentar devido a uma crescente pressão humana, directa e indirecta, designadamente através do aquecimento global e das alterações climáticas associadas.
A implementação de medidas conducentes a um desenvolvimento sustentável nas áreas de montanha começa por acções de âmbito geral e de aplicação no dia-a-dia, como a diminuição da pegada ecológica de cada um de nós, mas também na forma como individualmente e em grupo encaramos e praticamos actividades de ar livre em meio montanhoso.
Os locais de difícil acesso eram tradicionalmente pouco frequentados pelo Homem. No entanto, o significativo incremento da prática de actividades de ar livre, que se verificou nas últimas décadas, começa a reflectir-se na qualidade desses sítios, de grande riqueza natural: hoje em dia, “não deixar mais que pegadas e não tirar mais que fotografias” é insuficiente face aos problemas locais de massificação das actividades outdoor e, mais ainda, face a problemas globais... Nesse contexto, exigem-se medidas concretas, fundamentadas e eficientes que resolvam o paradoxo de como proteger os ambientes de montanha e simultaneamente promover a prática de actividades de montanha. Torna-se evidente que essas actividades terão de passar por uma ponderação, na perspectiva do que se entende por desenvolvimento sustentável, em que o diálogo entre os diversos intervenientes contribua para uma gestão coerente e equilibrada do património natural.
Actualmente chega-se à conclusão de que cada um de nós desempenha um papel, mais ou menos importante, nas alterações que se processam constantemente no meio: apesar das contribuições individuais serem pequenas ou mesmo insignificantes a sua soma poderá atingir grandes proporções. A massificação dos “terrenos de aventura” pode originar diversos impactes ambientais: pisoteio, incremento da erosão, ruído, destruição de vegetação, perturbação da fauna, detritos, risco de incêndio, etc.. Por outro lado, a multiplicidade de “actividades de montanha” é estonteante: desportos motorizados, caça e pesca, hidrospeed, canyonig, rafting, parapente, bicicleta de montanha, marcha e/ou corrida de orientação, espeleologia, escalada, montanhismo, pedestrianismo, percursos equestres, esqui, escutismo, etc.. Haverá um largo consenso em torno do exposto, no tocante aos (eventuais) impactes ambientais da prática de actividades de ar livre, tal como haverá no que concerne há necessidade de diferenciar as diversas actividades, caracterizar os respectivos impactes, monitorizar, quantificar, etc.. E, nesse pressuposto, efectuar uma gestão particularizada, diferenciadora e ajustada às especificidades em jogo.
Respeitar o meio ambiente será uma garantia não só da qualidade do mesmo, como do futuro da própria prática de actividades de ar livre. No entanto, de uns anos a esta parte, constata-se a implementação de inúmeros condicionalismos e proibições da prática dessas actividades, sobretudo nas áreas protegidas. É importante que os praticantes possuam uma conduta irrepreensível no que concerne à conservação da natureza, mas também é certo que os decisores devem ter em conta as especificidades de cada modalidade e, sobretudo, diferenciá-las. Só assim se poderá tentar qualificar e quantificar cada uma das actividades de montanha e seus impactes para, depois, decidir sobre as medidas a implementar. Estas actividades carecem de uma gestão adequada e não de proibições avulsas!
PC
*artigo escrito para a revista Flor de Lis (Dezembro 2014)

Referências bibliográficas
CUIÇA, Pedro (2010): Guia de Montanha – Manual Técnico de Montanha. Lisboa: Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, pp. 224. ISBN 978-989-96647-1-5
LEOPOLD, Aldo (2008) [1949]: Pensar Como Uma Montanha. Águas Santas: Edições Sempre em Pé, pp. 220. ISBN 978-9-728-87010-2

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