terça-feira, 1 de julho de 2014

Acertar o passo

O jornalista e escritor Stephen Grahan (1884-1975) ter-se-á tornado um fervoroso adepto da caminhada, à semelhança de Henry-David Thoreau (1817-1862) ou John Muir (1838-1914), na razão directa do seu cansaço crescente face ao mundo industrializado em geral e da civilidade inglesa em particular. No seu primeiro livro A Vagabund in the Caucasus (1911), Grahan faz alusão ao começo da sua vida como “vagabundo” em termos bastante contundentes: «where I had sold myself to work, I had now bought myself back». Após a sua partida para “explorar” a Rússia nunca mais voltaria a trabalhar com horário e sítio fixos, pois decidiu trocar, nas suas palavras, a «dependência do homem pela dependência de Deus». Na verdade, a exploração em que se envolveu profundamente não foi sobretudo ou meramente de natureza geográfica mas sim a de si próprio (exploring the self). E essa exploração, busca ou (re)descoberta espiritual recorreu (ou processou-se) significativamente ao (através do) andar a pé. A caminhada no terreno foi, pois, acompanhada simultaneamente por tão ou mais notórias deambulações por geografias interiores…
O acto de colocar um pé à frente do outro permitiu-lhe aproximar-se de si próprio e, simultaneamente, da Natureza. Segundo Grahan a morte do espirito estava ligada, de certa forma, ao falecimento da floresta e tanto uma como a outra deveriam ser contrariadas através de actos e/ou pensamentos revitalizadores e primordiais… Thoreau escreveu, no seu ensaio Caminhar (1862), que “na Natureza Selvagem (Wilderness) se encontrava a preservação do mundo”. Ora esse ponto de vista tornar-se-ia profético sob mais aspectos do que aqueles que alguma vez Thoreau poderia ter imaginado ou Muir e Grahan poderiam ter intuído. Todos estes caminhantes eram renegados solitários – isolados na sua rebelião face à industrialização – na defesa da Natureza, mas dificilmente terão vislumbrado a dimensão que as alterações ambientais, por vezes catastróficas, iriam assumir nesta alvorada do século XXI! Faríamos bem se considerássemos a caminhada – o acto de caminhar – como uma via – ou caminho – privilegiado de (re)posicionamento da nossa relação com a Natureza. Resta ver é se ainda iremos a tempo de acertar o passo!

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