quinta-feira, 10 de março de 2016

Formação de Treinadores

Na sequência da implementação do Plano Nacional de Formação de Treinadores (PNFT), decorrente da aplicação da Lei 40/2012, de28 de Agosto, a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP)-UPD acaba de lançar os primeiros Cursos de Treinadores de Grau I:

Após o exigente trabalho de definição dos referenciais específicos de formação dos cursos de treinadores nas diversas modalidades tuteladas pela FCMP-UPD (Alpinismo, Montanhismo, Escalada, Pedestrianismo, Skyrunning e Canyoning) e nos diversos graus (I, II e III), em colaboração com a Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM), e respectiva aprovação por parte do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), foi finalmente dado este importante passo. 
A formação de treinadores é fundamental para a concretização de um adequado enquadramento e treino dos praticantes nas diversas modalidades e assume um particular destaque quando estas, ademais, se tratam de desportos de ar livre e, por isso, de risco acrescido.




quarta-feira, 9 de março de 2016

Calma...


REACÇÕES AO RISCO*

No tocante à gestão do risco é extremamente interessante, e a ter muito em conta na prática de pedestrianismo, o conceito de “paranóia construtiva”, proposto por Jared Diamond1:

«A minha escolha desta expressão paradoxal, aparentemente desagradável, para uma qualidade que admiro, é intencional. Empregamos habitualmente a palavra “paranóia” com um sentido pejorativo, incluindo medos exagerados e infundados. Foi isso que me pareceu quando pela primeira vez observei a reação dos nova-guineenses quanto a dormir debaixo de uma árvore morta, e é verdade que, regra geral, uma determinada árvore morta não vai cair naquela noite em que decidimos acampar debaixo dela. No entanto, a longo prazo, esta aparentemente paranóia é construtiva: é essencial para a sobrevivência segundo as condições tradicionais. De entre tudo o que aprendi com os nova-guineenses, nada me marcou tão profundamente como essa atitude. Está difundida por toda a Nova Guiné e é descrita em muitas outras sociedades tradicionais do mundo. Se algo comporta um perigo reduzido de cada vez que é feito, mas é levado a cabo com frequência, torna-se necessário aprender a ser cuidadoso, se não queremos acabar mortos ou incapacitados ainda novos.
(…) Na única ocasião em que fiquei incapacitado, sem poder andar, nos Estados Unidos (depois de escorregar num passeio molhado em Boston e partir um pé), arrastei-me até à cabina telefónica mais próxima para telefonar ao médico do meu pai, que me foi buscar e me levou ao hospital. No entanto, quando me magoei no joelho no interior da ilha Bougainville da Papua-Nova Guiné e fiquei impossibilitado de andar, vi-me preso ali no interior, a mais de trinta quilómetros da costa, sem qualquer forma de obter ajuda externa. Os nova-guineenses que fracturam um osso não têm um cirurgião para os tratar e acabam por ficar com um osso fora do sítio que os deixa permanentemente incapacitados.»

A designada “paranóia construtiva” dá um particular enfase aos acontecimentos que envolvem riscos baixos, mas que por se repetirem inúmeras vezes apresentam uma probabilidade de se revelarem danosos ou mesmo fatais, caso sejam ignorados. Os incidentes e os acidentes ocorrem geralmente por algum motivo, «pelo que temos de permanecer alerta para as possíveis razões e ter cuidado»2. Por isso é que se deverá cultivar uma atenção e reflexão permanentes, reparando em pequenos acontecimentos ou sinais, e desenvolver uma atitude naturalmente cuidadosa, regrada e eco-lógica nas actividades pedestres que decorrem no seio da natureza, mormente aquelas que envolvem noites de campo. Neste contexto, a divisa dos escoteiros “sempre alerta” ou “sempre pronto” (be prepared) expressa na perfeição a atitude de atenção (plena) e de prontidão que tornarão as actividades de campo significativamente mais seguras e agradáveis3


Não deixam também de ser interessantes as analogias que se poderão fazer entre a paranóia construtiva e aquilo a que o psicólogo Kevin Dutton (2007) apelidou de “mentalidade SOS”: um conjunto de princípios nucleares da psicopatia que, adequadamente aplicados com a devida atenção e cuidado, poderão contribuir para atingir um óptimo desempenho e uma segurança acrescida. Dos sete princípios elencados por Dutton, destacamos aqueles que poderão ajudar a responder antecipadamente, em vez de reagir, aos desafios com que somos confrontados no âmbito do pedestrianismo: (1) atenção plena, (2) concentração e (3) acção. Um dos segredos para minimizar eventuais riscos no contexto e no método que implementarmos e, nesse contexto, as qualidades apontadas marcam a diferença. Algo na linha daquilo que experimentámos, há uns anos atrás, em actividades de pedestrianismo a solo sob a mnemónica CCR: calma, concentração e rapidez.



NOTAS
1. Cf. DIAMOND, Jarred – O Mundo até Ontem – O que podemos aprender com as sociedades tradicionais?; Lisboa: Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2013: 334-335.
2. Cf. ibidem: 55.
3. Cf. BRYSON, Bill – Por aqui e por ali; Lisboa: Quetzal Editores, 2007: 232. Mais uma vez a atenção, neste caso no que concerne às condições climatéricas e às respectivas respostas corporais, desempenha um papel fundamental: «O problema era ser um homem sem imaginação. Era rápido e alerta nas coisas da vida, mas só nas coisas, e não nos significados. (…) Esse facto (…) Não o levava a meditar sobre a fragilidade do homem em geral, só capaz de viver dentro de certos limites estreitos de calor e frio; e nem tão-pouco a conjecturar sobre o plano da imortalidade e o lugar do homem no universo.» (in LONDON, 2004: 200)

*Adaptado de CUIÇA, Pedro: Passo a Passo – Manual de Caminhada e Trekking. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015: 230-231

terça-feira, 8 de março de 2016

Deixar-te p'ra morrer!


Ainda a propósito dos acidentes que têm ocorrido no Parque Nacional da Peneda-Gerês, mais precisamente sobre a recente polémica que envolve a aplicação de uma coima a três montanheiros (resgatadores) e a três caminheiros (resgatados) que alegadamente terão atravessado uma área interdita, será importante reflectir acerca das eventuais consequências que tal medida terá – como outras que se adivinham (!) terão – sobre os praticantes e as práticas… Por outro lado, também será fundamental equacionar as implicações éticas de determinadas decisões e, nesse contexto, a sua própria legitimidade. Como catalisador de tais exercícios cogitativos, remeto para um texto da autoria de António Coelho, publicado no blogue Viagens Verticais, tão interessante quanto oportuno: Se a lei fosse diferente nunca te deixaria para morrer… Davy Croquett.

"Vagueava pelo nevoeiro, molhado por uma gélida chuva, que nunca mais parava, naquele dia um nimbostrato, tinha-se incrustado nas montanhas, e tapava todo o sol à altitude das minas…apenas me orientava com o GPS, pé-ante-pé, através das difusas silhuetas das ruínas dos antigos edifícios mineiros, que conheço como as minhas mãos...
Entrecortado, por entre o soprar violento do vento, ouvia uma espécie de voz fantasmagórica, quase em choro, um apelo que pede aos ventos que passam, por ajuda...
Sem hesitar…entro no casebre...a tal voz, está moribunda, a sua roupa de algodão absorve cada gota que cai, como adagas de gelo que lhe penetram a pele até aos ossos...nestas condições meteorológicas, e com aquele equipamento deficiente, o sinónimo é hipotermia! Dou-lhe todo o chá quente que trago comigo, ligo do seu telemóvel ao 112 e peço por ajuda com urgência..
 Digo-lhe que nas próximas horas, deve ser resgatado por um grande número de gente voluntariosa e muitos media... no entanto aviso-o:
–Como deve compreender ambos estamos numa zona interdita, proibida por lei, o que faz de nós, "navegantes ilegais" aqui neste lugar, isto vai sair-nos muito caro… (a mim em forma de multa monetária, a Ele, além da multa, pode ser a vida...).  Por isso pedi-lhe desculpa por não o poder ajudar mais, despeço-me e desejo-lhe sorte...
Amanhã saberei pelas noticias se sobreviveu…
Se a lei fosse diferente nunca te deixaria para morrer... Davy Croquett"

segunda-feira, 7 de março de 2016

As my earth beat


Ramble on

Uma certa forma de vadiagem...


Na senda...

«Estar vivo é o contrário de estar morto.»

«Uma viagem de mil quilómetros começa com um (simples!) passo.»

«O caminho faz-se caminhando.»

«Parar é morrer.»


domingo, 6 de março de 2016

A(l)titude...

«Hold your Honour high on the path of Life; for the soles are easier to clean than the Soul ...»


sexta-feira, 4 de março de 2016

O círculo

O Sagrado Círculo da Natureza…


«Que os vivos vos guiem e os mortos vos inspirem!
Porque vivos e mortos fazem todos parte do mesmo círculo!

A lei foi feita e outorgada há muito tempo.
Os antigos caminhos devem ser preservados.»

in LASCARIZ, Gilberto de (2008): Ritos e Mistérios Secretos do Wicca

quinta-feira, 3 de março de 2016

Incidentes e...



A propósito dos incidentes que se têm verificado nos últimos tempos no Parque Nacional da Peneda-Gerês e no Parque Natural da Serra da Estrela muito se tem dito nos media e nas redes sociais, e algo teríamos a dizer mas tal irá ficar para uma outra ocasião!... Opinar é fácil, e ademais criticar negativamente, sobretudo quando tal se processa no conforto do sofá e/ou sob displicentes atitudes, mormente quando existe alguém que faça de vítima!! Nem é preciso conhecer as especificidades do meio montanhoso, estar ao corrente do que realmente se terá passado ou inteirar-se das versões dos diversos intervenientes, entre outros dados importantes na formulação de um ajustado discernimento dos factos!!! Mais grave do que opinar de forma deficiente será decidir de modo equivocado, com consequências difíceis de avaliar.
Os incidentes, tal como os acidentes, ocorrem, com maior ou menor frequência, ano após ano, e, após o tradicional desfile de doutos alvitres e canhestras notícias, voltamos ao mesmo... E o fenómeno, infortunadamente, não se circunscreve, de todo, a esses dois maciços portugueses, os incidentes e acidentes repetem-se noutras geografias nacionais, tal como no estrangeiro.
A montante de precipitadas opiniões e/ou decisões talvez fosse sensato apostar na prevenção de incidentes e acidentes em actividades de montanha, designadamente através de uma adequada formação dos praticantes, entre outras iniciativas tendentes a uma prática esclarecida e responsável.