sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

IN-verno

A Natureza no Inverno são noites longas e misteriosas, ora pontilhadas por miríades de estrelas ora carregadas de profunda escuridão entrecortada por clarões trovejantes; dias de fria e contrastante luminosidade, de amplas panorâmicas, intercalados de cinzentas jornadas de limitados horizontes; tempestuosos aguaceiros, o som da chuva e o cheiro a terra; o despontar de cogumelos, migrações e hibernações; o verde da vegetação e a brancura da neve ou das amendoeiras em flor. Uma expectante e prometedora dormência parturiente de nova vida.


Amendoeira em flor (Vicent Van Gogh, 1890)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Em nós caminha

"Caminhamos acariciando e beijando a terra com as plantas dos nossos pés e a atenção plena que ela nos merece. Caminhamos numa oferenda do movimento a todos os seres e ao universo, irradiando para o bem de todos a serena energia do caminhar consciente. (...)
Começamos agora a tomar consciência de todas as sensações que ao caminhar se estendem de cada pé a toda a musculatura de cada perna e a todo o corpo. Sentimos que cada passo é dado com todo o corpo e sentimos o seu lento deslocar no espaço, como se soprado por uma brisa ligeira. Sentimos como cada pé é inseparável do solo, tal como o corpo é inseparável do espaço. Sentimos que não somos nós que caminhamos no mundo, mas sim o mundo que em nós caminha."

Paulo Borges (2014): O Coração da Vida - Guia Prático de Meditação; Edições Mahatma, p. 129


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

GR Europeus


Descobri hoje casualmente na Internet uma palestra que apresentei numa Sessão de Debate “O Tejo a Pé” que decorreu, no dia 6 de Maio de 2011, no Centro Náutico de Constância. Tendo em conta que a generalidade da apresentação ainda se encontra perfeitamente actual, aqui fica o link para Grandes Rotas - Um Património Cultural Europeu
A história da prática de pedestrianismo e da balizagem de percursos pedestres na Europa ainda se encontra por fazer, sendo que existe muita informação dispersa e versões diferentes acerca do assunto. Neste contexto, alertamos, desde logo, para o facto de nesta pequena palestra ter sido apresentada assumidamente uma visão francófona da "coisa" pedestre a nível europeu...



On...


Mountain Protection Commission...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Celebrating Mountains




Dia Internacional das Montanhas*

«Suspeito agora que, exactamente como uma manada de veados vive no temor mortal dos lobos, assim vive a montanha no temor mortal dos veados. E talvez com mais razão, pois que enquanto um veado abatido pelos lobos pode ser substituído em dois ou três anos, uma cordilheira desarborizada por um excesso de veados não consegue reconstituir-se em tantas outras décadas.»
Aldo LEOPOLD (2008)

«As montanhas são necessárias! As montanhas são necessárias para que os rios possam fluir delas até mim!»
Vladimir ANTONOV (2008)

O Dia Internacional das Montanhas, que se comemora a 11 de Dezembro, vem recordar-nos mais uma vez a necessidade premente de proteger esses frágeis e importantes ecossistemas, sujeitos a uma destruição e degradação que tem vindo a aumentar devido a uma crescente pressão humana, directa e indirecta, designadamente através do aquecimento global e das alterações climáticas associadas.
A implementação de medidas conducentes a um desenvolvimento sustentável nas áreas de montanha começa por acções de âmbito geral e de aplicação no dia-a-dia, como a diminuição da pegada ecológica de cada um de nós, mas também na forma como individualmente e em grupo encaramos e praticamos actividades de ar livre em meio montanhoso.
Os locais de difícil acesso eram tradicionalmente pouco frequentados pelo Homem. No entanto, o significativo incremento da prática de actividades de ar livre, que se verificou nas últimas décadas, começa a reflectir-se na qualidade desses sítios, de grande riqueza natural: hoje em dia, “não deixar mais que pegadas e não tirar mais que fotografias” é insuficiente face aos problemas locais de massificação das actividades outdoor e, mais ainda, face a problemas globais... Nesse contexto, exigem-se medidas concretas, fundamentadas e eficientes que resolvam o paradoxo de como proteger os ambientes de montanha e simultaneamente promover a prática de actividades de montanha. Torna-se evidente que essas actividades terão de passar por uma ponderação, na perspectiva do que se entende por desenvolvimento sustentável, em que o diálogo entre os diversos intervenientes contribua para uma gestão coerente e equilibrada do património natural.
Actualmente chega-se à conclusão de que cada um de nós desempenha um papel, mais ou menos importante, nas alterações que se processam constantemente no meio: apesar das contribuições individuais serem pequenas ou mesmo insignificantes a sua soma poderá atingir grandes proporções. A massificação dos “terrenos de aventura” pode originar diversos impactes ambientais: pisoteio, incremento da erosão, ruído, destruição de vegetação, perturbação da fauna, detritos, risco de incêndio, etc.. Por outro lado, a multiplicidade de “actividades de montanha” é estonteante: desportos motorizados, caça e pesca, hidrospeed, canyonig, rafting, parapente, bicicleta de montanha, marcha e/ou corrida de orientação, espeleologia, escalada, montanhismo, pedestrianismo, percursos equestres, esqui, escutismo, etc.. Haverá um largo consenso em torno do exposto, no tocante aos (eventuais) impactes ambientais da prática de actividades de ar livre, tal como haverá no que concerne há necessidade de diferenciar as diversas actividades, caracterizar os respectivos impactes, monitorizar, quantificar, etc.. E, nesse pressuposto, efectuar uma gestão particularizada, diferenciadora e ajustada às especificidades em jogo.
Respeitar o meio ambiente será uma garantia não só da qualidade do mesmo, como do futuro da própria prática de actividades de ar livre. No entanto, de uns anos a esta parte, constata-se a implementação de inúmeros condicionalismos e proibições da prática dessas actividades, sobretudo nas áreas protegidas. É importante que os praticantes possuam uma conduta irrepreensível no que concerne à conservação da natureza, mas também é certo que os decisores devem ter em conta as especificidades de cada modalidade e, sobretudo, diferenciá-las. Só assim se poderá tentar qualificar e quantificar cada uma das actividades de montanha e seus impactes para, depois, decidir sobre as medidas a implementar. Estas actividades carecem de uma gestão adequada e não de proibições avulsas!
PC
*artigo escrito para a revista Flor de Lis (Dezembro 2014)

Referências bibliográficas
CUIÇA, Pedro (2010): Guia de Montanha – Manual Técnico de Montanha. Lisboa: Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, pp. 224. ISBN 978-989-96647-1-5
LEOPOLD, Aldo (2008) [1949]: Pensar Como Uma Montanha. Águas Santas: Edições Sempre em Pé, pp. 220. ISBN 978-9-728-87010-2