Monchique
O Jardim do Algarve
A Serra de Monchique ergue a sua silhueta bruscamente, com fortes
pendores mas formas suaves, acima do mar de colinas xistentas que a rodeiam.
Esse paradisíaco jardim, que se desenvolve entre termas e belos recantos de
montanha, desafia o caminhante a conhecer os seus pormenores ocultos.
A vila de Monchique, a cerca de 450
metros de altitude, é o ponto de partida para o percurso que irá por este
miradouro verdejante sobre o litoral algarvio. Partindo da Travessa da Portela,
junto da Câmara Municipal, sobe-se por estreitos e íngremes ruelas até ao
Desterro, onde se acha o convento dos franciscanos (530 m). Em ruínas desde o
terremoto de 1755, deste edifício pouco mais resta que a frontaria e uma nave,
sendo no entanto, de destacar os enormes plátanos e nogueiras da sua antiga
quinta.
Seguindo pelo caminho de pé-posto que
avança em direcção a Relvinhas, vira-se à esquerda, para oeste, ao longo da
estrada de terra batida que avança cimeira ao Barranco da Garganta, um
verdejante vale densamente cultivado em grandes socalcos que aqui se designam
por “canteiros”. Chegados ao lugar da Garganta, toma-se o rumo sul, passando
para a vertente direita do vale.
A estrada de terra batida por onde se
segue, abaixo da Relva Branca da Fóia, apresenta várias bifurcações, mas se se
optar sempre pelo caminho da direita chegar-se-á ao sítio dos Montes da Fóia
(780 m). Aí, toma-se o caminho que vira à direita, para este, e que aos poucos
vai curvando rumo ao poente para passar, um pouco acima da Fontinha da Fóia, já
na vertente setentrional da montanha.
Continuando a subir por essa velha
estrada, pode-se apreciar a panorâmica que se abarca desde a Relva do
Carrapateiro aos montes alentejanos da serra xistenta que se perdem no
horizonte.
Pequenas casas construídas em pedra
sienítica encontram-se, aqui e ali, dispersas no vale – tugúrios de pastores
que, na maior parte dos casos, se encontram em ruínas. O cume e grande parte da
encosta da Fóia surgem repletos de blocos e penhascos.
Quando D. João II deu a Fóia aos
habitantes da povoação de Monchique, ainda essa elevação apresentava a sua
cumeada coberta por árvores, nomeadamente sobreiros e azinheiras, de que não
restam vestígios devido aos incêndios. Actualmente, a cumeada desse grande
dorso sienítico encontra-se revestida por matos de Esteva, Urze, Alecrim,
Tomilho, Trovisco e outras pequenas plantas.
A estrada que se tem seguido até aqui
leva ao topo da montanha, virando à esquerda para Pegões (892 m) e depois à
direita em direcção ao Monge, vértice geodésico de primeira ordem que assinala
o ponto mais elevado da serra – a Fóia (902 m). Daí, em dias de boa
visibilidade, podem vislumbrar-se vastos horizontes, desde a costa meridional
algarvia, a sul, até à Serra da Arrábida, a norte.
Após um descanso merecido, deverá o
viajante “fazer-se ao caminho”, pois ainda há muito para andar. Desce-se o vale
que parte da Fonte da Égua por uma estrada empedrada e, na bifurcação desta,
volta-se à esquerda, indo dar a uma casa tradicional: mais uma que infelizmente
se encontra degradada. O caminho que começa junto desta construção de pedra
atravessa a ribeira do Barranco Porto do Cano leva até à estrada que, após
passar em habitações de arquitecturas mais recentes, desemboca, ao km 4, na EN
266-3.
Entre o km 3 e o km 2, sai-se da estrada
alcatroada virando à direita para o sítio de Bouça. No meio de denso arvoredo,
em que os eucaliptos se destacam por entre caminhos de pé-posto, desce-se por
esse grande vale a que o povo chama “Barrocal”, em direcção a Nave da Papoila.
O vale da Ribeira de Boina (vulgo
Barrocal), que se estende desde Monchique às Caldas de Monchique, é bastante
povoado. De facto, essa grande depressão entre a Fóia e a Picota está
preenchida por um intenso pontilhado de pequenas propriedades que aproveitam a
copiosa fertilidade desses solos, cobertos de húmus, para cultivar grande
diversidade de frutas e legumes. Nesse vale de erosão abundam, entre outras
árvores, as oliveiras e os sobreiros, assim como os mais recentes e comuns eucaliptos.
Chegados à estrada de terra batida
que liga a Nave a Monchique, segue-se na direcção desta vila. No cruzamento da
EN 266, à estrada de Monchique, vira-se à direita, seguindo pela Calçada do Pé
da Cruz em direcção ao diminuto povoado de Serra. Daí até à Picota (774 m) já
falta pouco mas o declive acentuado vai abrandar o ritmo da marcha. Essa
notável elevação penhascosa e pontiaguda proporciona, tal como o topo da Fóia,
um miradouro natural de onde se poderão vislumbrar amplas panorâmicas. A subida
pela vertente setentrional, íngreme e rochosa, aconselha aliás um breve repouso
no cimo dessa elevação.
A partir daí, o percurso desce a
vertente sul por trilho aberto em densa floresta que nos conduzirá ao Montinho
do Craço, onde uma casa e a sua fresca horta aguardam os caminheiros. No
entanto, nada de paragens, pois ainda há que andar até Vale das Perdizes e,
daí, até ao Covão da Águia. Só então o tanque de rega que aí se encontra junto
a um casarão (diríamos quase senhorial) não permite a continuação sem uma
paragem refrescante.
Deste local, via Pedras Novas, o caminho,
quase sempre a descer, conduz ao belíssimo povoado de Caldas de Monchique,
rodeado por exótica e densa vegetação. Esta estância termal, frequentada pelo
menos desde a presença dos árabes na península, será o termo desde longo mas
gratificante percurso.
(Pedro Cuiça in Guia de Percursos Naturais. Lisboa: Forum Ambiente, 1995; pp. 181-186)
Ficha Técnica
Extensão: 20541 m
Duração média: 6 h 30 mn
Dificuldade: nível III
Desnível acumulado: +866 m, -1076 m
Altitude média: 585 m
Paisagem: bosques de Quercíneas e castanheiros, campos de cultivo e matos arbustivos
Áreas abrangidas: Biótopo CORINE da Serra de Monchique
Época aconselhada: todo o ano
Acessos: via Portimão - Caldas de Monchique (EN 266) ou Aljezur - Marmelete - Casais (EN 267)
Pernoita:
- Parque de Campismo (Orbitur) de Portimão
- diversos parques de campismo em Lagos
Concelhos abrangidas: Monchique
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