“Creio que não posso preservar a
boa saúde e o vigor sem passar quatro horas por dia, pelo menos – de uma forma
geral ainda mais tempo – a vaguear através de bosques e por cima de montes e
vales totalmente liberto de preocupações terrenas.”
Henry David Thoreau (1851) – Caminhar
A prática de Pedestrianismo comporta notórias implicações nos domínios da saúde e do bem-estar dos praticantes. Andar a pé por caminhos é uma actividade pouco exigente em termos físicos e de baixo impacto em comparação, por exemplo, com a corrida; e, por isso, pode ser praticada dos “oito aos oitenta” anos de idade. Por outro lado, nos percursos pedestres balizados nem sequer são necessários conhecimentos de orientação para os efectuar (se estiverem bem implementados). Esta actividade para além de ser acessível, no que concerne ao desempenho, revela-se igualmente pouco ou nada onerosa, tendo em conta que não exige nenhum equipamento específico ou especial para o efeito. Na verdade, basta ter a motivação de “andar por andar” e, nesse pressuposto, usufruir dos benefícios que proporciona, quer nos aspectos físicos quer psicológicos. Neste contexto, dificilmente existirá outra actividade tão abrangente em termos etários e tão democrática no tocante à sua capacidade agregadora de indivíduos, independentemente do estrato social ou da sua capacidade económica. Acresce ao referido que o Pedestrianismo pode e deve ser praticado em grupos formais ou informais, de (des)conhecidos, de amigos e/ou de familiares, com não só as importantes vantagens atrás aludidas mas também com manifestas mais-valias no que respeita à convivialidade e à sociabilidade, fortalecendo deste modo os laços de camaradagem e de companheirismo.
A caminhada
constitui um exercício físico de excelência (sem dúvida, dos melhores), ao
alcance de qualquer um. Mais, caminhar é um exercício suave, ideal para todas
as faixas etárias e com múltiplos e reconhecidos benefícios para a saúde. Andar
a pé contribui para melhorar o tónus muscular, aumentando o desempenho
cardiovascular e melhorando ou resolvendo eventuais dificuldades respiratórias;
favorece a coordenação de movimentos e, inclusivamente, a prontidão de
reflexos, corrige posturas erradas e pode evitar que surjam “dores nas costas”.
A marcha, se possível acelerada – e nesse particular destaca-se a marcha
nórdica (nordic walking) pelos
benefícios acrescidos –, constitui um bom auxiliar para a perda de peso, se
acompanhada de uma dieta adequada. A prática de Pedestrianismo é uma actividade
física aeróbica excelente para combater o excesso de peso ou a obesidade e,
simultaneamente, para a prevenção da diabetes, a prevenção e o tratamento da
hipertensão arterial e a redução dos níveis de colesterol. A marcha ajuda a
prevenir e a tratar a osteoporose, constitui um precioso auxiliar no tratamento
da artrite reumatóide e ajuda inclusivamente a prevenir o aparecimento de
determinados tipos de cancro como, por exemplo, o cancro da mama, do cólon, do
útero, dos ovários e da próstata. Mas os benefícios referidos não se restringem
apenas aos aspectos físicos, andar a pé surge como uma praxis privilegiada de contacto com o meio envolvente e de partilha
de experiências com consequências inegáveis no âmbito do bem-estar psicológico.
Neste contexto, o Pedestrianismo também favorece a prevenção da depressão
(melhorando a disposição) e promove a redução do stress (e simultaneamente da glicemia, visto as hormonas do stress serem hiperglicemiantes).
Pelos motivos
elencados, entre muitos outros que ficam por indicar, esperamos que fique
evidente a importância da prática de Pedestrianismo muito para além da
tradicional usufruição e interpretação do meio. E, nesse pressuposto, será igualmente
importante associar a essa prática a mensagem veiculada por muitos médicos de
família no que concerne à saúde dos seus pacientes: “Ande pelo menos 30 minutos por dia”. Na verdade, ande bem mais,
ande sempre que possa.
Nos tempos que
correm é fundamental adoptar novas atitudes e formas de promover e praticar Pedestrianismo
e, nesse contexto, a utilização de bastões – associada aos benefícios da marcha
nórdica (nordic walking) – ou o uso
de Fivefingers® – relacionado com as vantagens de andar descalço (barefooting)* – surgem como renovadas
abordagens que visam incentivar a prática de exercício físico, a par de opções
nutricionais pouco usuais (como as paleodietas). Dessa forma poder-se-ão colmatar
algumas das graves carências de prática desportiva que se verificam na
sociedade portuguesa, com as nefastas consequências em termos de saúde daí
resultantes. Mas a prática de Pedestrianismo também deverá promover, nos dias
de hoje, uma consciência ecológica que extravase o antropocentrismo (microcosmo
da esfera meramente humana) e adopte uma visão ecocêntrica ou, melhor,
ecosófica (que tenha em conta o macrocosmo a nível planetário). “Pensar global e agir local”, andar para
estar conectado com o todo, ao estilo da campanha federativa “Ande
a pé pela sua saúde e pela saúde do planeta”.
Texto e Fotografia: Pedro Cuiça
(Revista Campismo & Montanhismo - Ano 10 - Série II - nº 37 - Jul./Ago./Set. 2013 - p.15)
*Veja-se
o caso de Serafim Martins (1888-1969), o atleta pedestrianista – cognominado
“Rebenta-cavalos” – que invariavelmente andava e corria descalço (Campismo
& Montanhismo nº 32 • Out./Nov./Dez. 2011).
Sem comentários:
Enviar um comentário