terça-feira, 26 de novembro de 2013

Responsabilidade Fora de Portas

Responsabilidade Social e actividades de ar livre

As “preocupações ambientais” adquiriram uma importância crescente, desde a Revolução Industrial (séc. XIX) e sobretudo a partir dos anos 70 do século passado, quando a sociedade em geral começou a tomar consciência dos problemas do “meio ambiente” resultantes de significativos impactes antrópicos. Desde essa altura até ao presente, essa tomada de consciência consubstanciou-se no desenvolvimento de diversas medidas com vista senão à resolução dos problemas pelo menos à tentativa de mitigação dos mesmos. No entanto, a presente conjuntura demonstra a existência de uma incontornável crise ambiental global, “decisivamente credora de uma inadiável tomada de consciência, compreensão e participação activa” (ALHO, 2011), a que acresce uma crise económica também de características globais… Neste contexto, a responsabilidade social ganhou um maior destaque, a partir dos anos 90 do século passado, com base numa maior intervenção da sociedade, dos meios de comunicação e das ONG’s nas questões ambientais, com reflexos nomeadamente no mundo empresarial (CAMPANER & SILVA, 2011). A gestão ambiental deixou de ser um assunto somente de ambientalistas ou ecologistas para se tornar um assunto transversal a toda a sociedade, incluindo praticantes de actividades de ar livre.

Ser/estar responsável
A sociedade actual encontra-se num profundo processo de mudança, que inclui a maneira de pensar, perspectivas, metas e objetivos das pessoas. Diante desta nova exigência de consciencialização, a educação ambiental incrementa a formação de indivíduos mais capazes de compreender o mundo e agir de forma consciente, ou seja, uma sociedade socialmente mais responsável (LAYRARGUES, 2004).
As (novas) questões implicadas na construção de uma cidadania ambiental (também social e cultural), com base na pobreza, nas desigualdades, na democracia participativa e na conservação da natureza, entre outras importantes interrogações, recordam a “exigência de um mútuo suporte entre direitos e responsabilidades”, remetendo para uma participação activa por parte da comunidade independentemente da sua escala. Está em causa a nossa relação com as pessoas e com a Terra, a nossa geração com as gerações futuras e a nossa própria identidade (ALHO, 2011). A ética da responsabilidade, na senda de Hans Jonas, move-se no âmbito das filosofias ambientais antropocêntricas: a conservação da natureza é entendida como um bem a legar aos vindouros, em que a “heurística do medo” traduz a necessidade de uma (re)acção prudente e cautelosa tendo em vista assegurar às gerações futuras um ambiente preservado (VARANDAS, 2009).
O “sentimento” de ameaça à sobrevivência humana, face ao aquecimento global, ao crescimento exponencial da população humana, à erosão, degradação e desertificação dos solos, à poluição e escassez de água potável e à extinção de espécies de fauna e flora (com acentuada perda de biodiversidade), entre outros problemas, fizeram com que as questões ambientais passassem a ocupar um espaço de destaque nos diversos fóruns mundiais, promovendo a intervenção e a cooperação da sociedade em geral e do mundo empresarial em particular.
Os cidadãos, quer a título individual quer sob forma associada, desenvolvem iniciativas multifacetadas que remetem para tomadas de opções com claras implicações, directas e indirectas, a nível ambiental e social, nomeadamente no que concerne à promoção da biodiversidade. A título de exemplo, destacamos iniciativas como as levadas a cabo pelas associações DariAcordar, Realimentar ou Refood, ou o PERDA – Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar (vencedor da edição de 2011 do Prémio Ideias Verdes), alvo da Mesa Redonda sobre o Desperdício Alimentar que decorreu, na tarde de 13 de Dezembro de 2012, na Fundação Calouste de Gulbenkian (BAPTISTA et al., 2012).
Se a importância da responsabilidade socio-ambiental dos cidadãos, sob forma individual ou associativa, sofreu um incremento substancial nas últimas duas décadas, poucos assuntos cresceram tanto em importância nas empresas quanto a gestão ambiental e a responsabilidade social corporativa (RSC) (CAMPANER & SILVA, 2011). A gestão socio-ambiental surge como um novo paradigma de gestão de empresas com base no conceito de Tripple Bottom Line: uma empresa deve gerir não só o seu resultado económico, mas também os seus resultados ambiental e social (URSINI & BRUNO, s/d.).
A responsabilidade social a nível empresarial, no âmbito da denominada “economia verde”, nomeadamente através da oferta de produtos de investimento socialmente responsável, tem apresentado um crescente interesse. Segundo McIntosh (2001), a responsabilidade social tornou-se mesmo um referencial de excelência das empresas (MENDONÇA et al., s/d.) A RSC traduz-se na implementação de políticas empresariais que visam a integração dos valores e dos interesses de todos os stakeholders, incluindo entidades da Administração e da comunidade local, clientes e empregados, investidores e cidadãos (ALHO, 2011). A RSC obedece a nove princípios estratégicos, de entre os quais três são relativos a ambiente: (1) sustentar uma abordagem de precaução aos desafios ambientais (princípio da precaução), (2) tomar iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental e (3) encorajar o desenvolvimento e a fusão de tecnologias amigas do ambiente (ibidem).

Conclusão
Vivemos actualmente uma crise económica a nível global, a par de uma crise ambiental de características e efeitos igualmente globais. Ultrapassar essas crises, económica e ecológica, implicará uma maior responsabilização de todos em geral e de cada um em particular. A responsabilidade social, nas suas diversas facetas, trata-se de um caminho que não só pode como deve contribuir para inverter a dinâmica de destruição do planeta e para um efectivo desenvolvimento sustentável. A biodiversidade, não só enquanto recurso mas também enquanto valor em si, deve merecer uma especial atenção de todos os agentes, numa dinâmica de responsabilização individual e colectiva. A preservação da biodiversidade tem de ser assumida como objectivo prioritário de um desenvolvimento que se pretenda sustentável e este passará inevitavelmente por uma adequada responsabilização. E, nesse particular, os praticantes de actividades de ar livre não se devem alhear da realidade, como se vivessem num mundo à parte e a sua praxis fosse isenta de impactes, adoptando uma atitude pró-activa ambientalmente responsável.

(Pedro Cuiça, 2012)

Referências bibliográficas
ALHO, Manuel – Responsabilidade Social, Ambiente e Biodiversidade. Disponível em http://www.animar-dl.pt/index/vez_e_voz/ii/responsabilidade_sab, 2011. [Consult. 8/12/2012]
An overview of the Environment, Protection and Biodiversity Conservation Act. Disponível em http://auspost.com.au/media/documents/epbc-overview.pdf, 1999. [Consult. 4/12/2012]
BAPTISTA, Pedro et al.Do Campo ao Garfo – Desperdício Alimentar em Portugal. Lisboa: CESTRAS, 2012. ISBN 978-989-20-3438-6
BERTÉ, Rodrigo – Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa. Disponível em http://www.pge.ac.gov.br/siteposgraduacao/gestaoambiental/materialdeapoio.pdf, 2007. [Consult. 4/12/2012]
Business & Biodiversity. Disponível em http://www.bdnj.org/pdf/BBhandbook.pdf, 2002. [Consult. 4/12/2012]
CAMPANER, Érica & SILVA, Heloisa da – Gestão Ambiental e Responsabilidade Social: Uma questão passageira?. Disponível em http://www.unisalesiano.edu.br/simposio2011/publicado/artigo0088.pdf, 2011. [Consult. 4/12/2012]
DESJARDINS, Julie & WILLIS, Alan – Sustainability: Environmental and Social Issues Briefing. Disponível em http://www.cica.ca/focus-on-practice-areas/governance-strategy-and-risk/directors-series/director-briefings/item52853.pdf, 2011. [Consult. 4/12/2012]
FURTADO, João S. – Gestão com responsabilidade socioambiental – Desenvolvimento sustentável e comunidade. Disponível em http://teclim.ufba.br/jsf/acoessa/rsa02.pdf, 2003. [Consult. 4/12/2012]
KYMAL, Chad – Integrating Social Responsibility with Quality and Environmental Management Systems. Disponível em http://www.omnex.com/members/downloads/asq_june201_integrating_social_responsibility.pdf, s/ d.. [Consult. 4/12/2012]
LAYRARGUES, Phillipe – Educação Ambiental com Responsabilidade Social. Disponível em http://material.nerea-investiga.org/publicacoes/user_35/FICH_FR_41.pdf, 2004.  [Consult. 4/12/2012]
MENDONÇA, Clarice et al.A responsabilidade social e ambiental na gestão estratégica organizacional. Disponível em http://www.unifae.br/publicacoes/pdf/IIseminario/politicas/politicas_03.pdf, s/ d.. [Consult. 4/12/2012]
Responsabilidade Social, Ambiente e Biodiversidade. Disponível em http://www.animar-dl.pt/index/vez_e_voz/ii/responsabilidade_sab, 2011. [Consult. 4/12/2012]
Responsabilidade socioambiental: estudo de caso em uma empresa de sistemas de distribuição elétrica para o setor automobilístico. Disponível em  http://www.aedb.br/seget/artigos09/209_iental_estudo_de_caso_em_uma_empresa_de_sistemas_de_distribuicao_eletrica_para_o_setor_automobilistico.pdf, s/d.. [Consult. 4/12/2012]
Sustainable development and Corporate Social Responsability – Tools, codes and standards for the mineral exploration industry. Disponível em [Consult. 4/12/2012]http://www.pdac.ca/pdac/publications/pdf/sd-csr-publication-final.pdf, 2007.
TESSLER, Marga Barth – Meio Ambiente e Responsabilidade Social. Disponível em http://www2.trf4.jus.br/trf4/upload/arquivos/conc_juizes/meio_ambiente_e_responsabilidade_social.pdf, s/ d.. [Consult. 4/12/2012]
WHATLING, Derek Roy – Managing the impact o biodiversity of supply chain companies. Disponível em http://eprints.aston.ac.uk/10049/1/FULL_THESIS_DOCUMENTPDF.pdf, 2010. [Consult. 4/12/2012]
URSINI, Tarcilia Reis & BRUNO, Giuliana Ortega – A gestão da responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável. Disponível em http://www.ethos.org.br/_Uniethos/Documents/RevistaFAT03_ethos.pdf, s/ d.. [Consult. 4/12/2012]

Sem comentários:

Enviar um comentário