Responsabilidade Social e actividades
de ar livre
As
“preocupações ambientais” adquiriram uma importância crescente, desde a Revolução
Industrial (séc. XIX) e sobretudo a partir dos anos 70 do século passado, quando
a sociedade em geral começou a tomar consciência dos problemas do “meio
ambiente” resultantes de significativos impactes antrópicos. Desde essa altura
até ao presente, essa tomada de consciência consubstanciou-se no
desenvolvimento de diversas medidas com vista senão à resolução dos problemas
pelo menos à tentativa de mitigação dos mesmos. No entanto, a presente conjuntura demonstra a
existência de uma incontornável crise ambiental global, “decisivamente
credora de uma inadiável tomada de consciência, compreensão e participação
activa” (ALHO, 2011), a que acresce uma crise económica também de
características globais… Neste contexto, a responsabilidade social ganhou um
maior destaque, a partir dos anos 90 do século passado, com base numa maior
intervenção da sociedade, dos meios de comunicação e das ONG’s nas questões
ambientais, com reflexos nomeadamente no mundo empresarial (CAMPANER &
SILVA, 2011). A gestão ambiental deixou de ser um assunto somente de
ambientalistas ou ecologistas para se tornar um assunto transversal a toda a sociedade,
incluindo praticantes de actividades de ar livre.
Ser/estar responsável
A sociedade actual encontra-se num profundo
processo de mudança, que inclui a maneira de pensar, perspectivas, metas e
objetivos das pessoas. Diante desta nova exigência de consciencialização, a
educação ambiental incrementa a formação de indivíduos mais capazes de
compreender o mundo e agir de forma consciente, ou seja, uma sociedade socialmente
mais responsável (LAYRARGUES, 2004).
As
(novas) questões implicadas na construção de uma cidadania ambiental (também
social e cultural), com base na pobreza, nas desigualdades, na democracia
participativa e na conservação da natureza, entre outras importantes
interrogações, recordam a “exigência de um mútuo suporte entre direitos e
responsabilidades”, remetendo para uma participação activa por parte da
comunidade independentemente da sua escala. Está em causa a nossa relação com
as pessoas e com a Terra, a nossa geração com as gerações futuras e a nossa
própria identidade (ALHO, 2011). A ética da responsabilidade, na senda de Hans
Jonas, move-se no âmbito das filosofias ambientais antropocêntricas: a conservação
da natureza é entendida como um bem a legar aos vindouros, em que a “heurística
do medo” traduz a necessidade de uma (re)acção prudente e cautelosa tendo em vista
assegurar às gerações futuras um ambiente preservado (VARANDAS, 2009).
O
“sentimento” de ameaça à sobrevivência humana, face ao aquecimento global, ao
crescimento exponencial da população humana, à erosão, degradação e
desertificação dos solos, à poluição e escassez de água potável e à extinção de
espécies de fauna e flora (com acentuada perda de biodiversidade), entre outros
problemas, fizeram com que as questões ambientais passassem a ocupar um espaço
de destaque nos diversos fóruns mundiais, promovendo a intervenção e a
cooperação da sociedade em geral e do mundo empresarial em particular.
Os
cidadãos, quer a título individual quer sob forma associada, desenvolvem
iniciativas multifacetadas que remetem para tomadas de opções com claras
implicações, directas e indirectas, a nível ambiental e social, nomeadamente no
que concerne à promoção da biodiversidade. A título de exemplo, destacamos
iniciativas como as levadas a cabo pelas associações DariAcordar, Realimentar
ou Refood, ou o PERDA – Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício
Alimentar (vencedor da edição de 2011 do Prémio Ideias Verdes), alvo da Mesa
Redonda sobre o Desperdício Alimentar que decorreu, na tarde de 13 de Dezembro
de 2012, na Fundação Calouste de Gulbenkian (BAPTISTA et al., 2012).
Se a
importância da responsabilidade socio-ambiental dos cidadãos, sob forma
individual ou associativa, sofreu um incremento substancial nas últimas duas
décadas, poucos assuntos cresceram tanto em importância nas empresas quanto a
gestão ambiental e a responsabilidade social corporativa (RSC) (CAMPANER &
SILVA, 2011). A gestão socio-ambiental surge como um novo paradigma de gestão
de empresas com base no conceito de Tripple Bottom Line: uma empresa
deve gerir não só o seu resultado económico, mas também os seus resultados
ambiental e social (URSINI & BRUNO, s/d.).
A
responsabilidade social a nível empresarial, no âmbito da denominada “economia
verde”, nomeadamente através da oferta de produtos de investimento socialmente
responsável, tem apresentado um crescente interesse. Segundo McIntosh (2001), a
responsabilidade social tornou-se mesmo um referencial de excelência das
empresas (MENDONÇA et al., s/d.) A RSC traduz-se na implementação de
políticas empresariais que visam a integração dos valores e dos interesses de
todos os stakeholders, incluindo entidades
da Administração e da comunidade local, clientes e empregados, investidores e cidadãos
(ALHO, 2011). A RSC obedece a nove princípios estratégicos, de entre os quais
três são relativos a ambiente: (1) sustentar uma abordagem de precaução aos
desafios ambientais (princípio da precaução), (2) tomar iniciativas para
promover maior responsabilidade ambiental e (3) encorajar o desenvolvimento e a
fusão de tecnologias amigas do ambiente (ibidem).
Conclusão
Vivemos
actualmente uma crise económica a nível global, a par de uma crise ambiental de
características e efeitos igualmente globais. Ultrapassar essas crises,
económica e ecológica, implicará uma maior responsabilização de todos em geral
e de cada um em particular. A responsabilidade social, nas suas diversas
facetas, trata-se de um caminho que não só pode como deve contribuir para
inverter a dinâmica de destruição do planeta e para um efectivo desenvolvimento
sustentável. A biodiversidade, não só enquanto recurso mas também enquanto
valor em si, deve merecer uma especial atenção de todos os agentes, numa
dinâmica de responsabilização individual e colectiva. A preservação da
biodiversidade tem de ser assumida como objectivo prioritário de um
desenvolvimento que se pretenda sustentável e este passará inevitavelmente por
uma adequada responsabilização. E, nesse particular, os praticantes de actividades
de ar livre não se devem alhear da realidade, como se vivessem num mundo à
parte e a sua praxis fosse isenta de
impactes, adoptando uma atitude pró-activa ambientalmente responsável.
(Pedro Cuiça, 2012)
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