Pedro Cuiça © Trilho da Calcedónia (Gerês –
Terras do Bouro, 2005) |
Andar, em português, é
hiperónimo de movimento. Tal é o que está consignado no provérbio medieval
segundo o qual a roda da fortuna tanto anda como desanda. O antónimo de andar
não é desandar, mas sim deter-se, parar, sentar. O século XVI retratou os seus
maiores de pé, o século XVIII retratou os seus maiores sentados. Do rítmico
andar do cavaleiro à deslocação sentada em coche, carro, avião, degrada-se a
condição caminheira do homem, assim como a sua condição metafísica vertical.
A doença da nossa época, consabidamente, é o sedentarismo, o estar sentado,
enfim, deixar de caminhar.
(p. 6)
O sedentarismo é causa do
niilismo e de um cortejo fúnebre de moléstias que se estendem da depressão à
hipertensão ou à deformação óssea. Tem o mal solução? Resolve-se caminhando. O
preceito romano solvitur ambulando tem simultaneamente valência
filosófica e médica.
(p. 8)
CUNHA, Rodrigo Sobral. 2020. Arte de Bem Caminhar. Linda-a-Velha: MIL – Movimento Internacional Lusófono.
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