Fernando Pessoa |
O
movimento cognitivo e a procura do poeta [Fernando
Pessoa e seus heterónimos]
mostra-se efectuada por outros caminhos de conhecimento e visando uma
outra finalidade, não a científica e pragmática; numa posição à qual este
pensamento nacional é habitualmente estranho; pois que ele procura um outro
mundo para além do real sensível, ultrapassando este pensamento ao qual um
historiador brasileiro, referindo-se aos escritores da época dos
descobrimentos, chamou a «cautelosa e pedestre razão lusitana» (Sérgio
Buarque da Holanda, Visão do Paraíso.)
(COSTA 2012, p. 21)
Estes
múltiplos caminhos palmilhados por Pessoa pelos mundos do esoterismo,
ajudam-nos a compreender melhor o ser multifacetado que Pessoa sempre foi: o
verdadeiro caminho da serpente que este poeta-neófito seguiu foi
não só o da quantidade e diversidade de personalidades e de ismos literários
que criou, para em nenhum deles se fixar inteiramente, mas também o caminho labiríntico
de símbolos, analogias e das diversas doutrinas interiores que o poeta trilhou espiritualmente.
Tal como a serpente, também o poeta seguiu o caminho que passa por todos e
não é nenhum. Também o poeta poderia fazer suas as palavras de António
Machado e com ele dizer: caminhante não há caminho: o caminho faz-se
caminhando!
(Paula
Cristina Costa in ANES 2004, p. 16)
Na
verdade o combate é aqui, mas não é nosso; não é connosco, somos nós. Não somos
actores de um drama: somos o próprio drama – a antestreia, os gestos, os
cenários. Nada se passa connosco: nós, é que somos o que se passa.
(Fernando
Pessoa in GANDRA 2015, p. 204)
A
senda que propomos é mais streita ainda que aquela que o Cristo
propunha aos que desejavam segui-lo. Por uma ironia natural das cousas, nós
ainda que em um outro sentido, podemos dizer aos homens da nossa época que
aqueles que quiserem seguir-nos têm de deixar o mundo. Mas é o mundo moderno,
errado como está, que devem abandonar; ele tem seduções, todas as seduções do
caminho trilhado, que por trilhado é conhecido, por conhecido fácil, e por
fácil agradável. Nós defendemos a civilização contra a civilização hodierna;
Apolo contra o Cristo;
(PESSOA
2013, p. 96)
(…)
é exactamente pela técnica, mas pela técnica tomada como um jogo geral e não
como um meio individual de ganhar dinheiro ou poder, que pode o homem abrir
o seu caminho de regresso ao Paraíso: mas, para tornar a técnica como um
jogo, é preciso que seja anteriormente criança: a conversão religiosa ao Menino
Jesus deve preceder a revolução social. O contrário seria o materialismo, coisa
de padres sem religião, como dizia Alberto Caeiro; o que também se poderia afirmar da religião que avassalou Portugal a partir do século XVI.
(AGOSTINHO
DA SILVA1996, p. 89)
Agostinho da Silva |
Gostaria que o Povo, mesmo no dia em que
a abundância se assegurasse, continuasse voluntariamente pobre, para bem do
espírito e do corpo, e para que cessasse, a seu exemplo, a pilhagem do mundo, o
desrespeito pela natureza, a corrida para a inabitabilidade da Terra, a ambição
do supérfluo e a publicidade correlativa, que é sem dúvida um dos maiores
factores de corrupção individual e social.
(Agostinho da Silva in BORGES 1988, pp. 605-606)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Agostinho da Silva, PROPOSIÇÃO, 34, (1974),
in Paulo BORGES (org.), Agostinho da Silva – Dispersos. Instituto
de Cultura e Língua Portuguesa, Ministério da Educação, 1988.
ANES,
Manuel. 2004. Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos. Lisboa: Ésquilo,
2ª ed..
COSTA,
Dalila L. Pereira da. 2012. O Esoterismo de Fernando Pessoa. Baguim do
Monte: Lello Editores, 5ª ed..
GANDRA,
Manuel J.. 2015. Fernando Pessoa – Hermetismo e Iniciação. Sintra:
Zéfiro.
PESSOA,
Fernando. 2013. O Regresso dos Deuses e outros escritos de António Mora.
Lisboa: Assírio & Alvim.
SILVA,
Agostinho da. 1996. Um Fernando Pessoa. Lisboa: Guimarães Editores, 3ª ed..
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