Pedro Cuiça © Mont'santo (Lisboa, 4/12/2016)
Se há um homem que pode mostrar como é que a terapia das árvores
funciona, esse homem é Yoshifumi Miyazaki. Este antropólogo biológico,
vice-diretor do Centro do Ambiente, da Saúde e das Ciências de Campo da
Universidade de Chiba, na periferia de Tóquio, acredita que, em virtude de os
seres humanos terem evoluído na natureza, é nela que nos sentimos mais
confortáveis, mesmo que nem sempre tenhamos consciência disso.
Neste ponto, Miyazaki é um proponente da teoria popularizada por E.
O. Wilson, o entomologista de Harvard amplamente reverenciado: a hipótese da
biofilia. Esta teoria foi, em parte, apropriada pelos psicólogos ambientais
naquilo que, por vezes, se designa de Teoria da Redução do Stresse ou Teoria da
Restauração Psicoevolucionista. Não foi Wilson quem, na realidade, cunhou o
termo «biofilia»; essa honra deve ser atribuída ao psicólogo social Erich
Fromm, que o descreveu em 1973 como «o amor apaixonado pela vida e por tudo o
que está vivo; é o desejo de crescer ainda mais, podendo ser encontrado numa
pessoa, numa planta, numa ideia ou num grupo social».
Wilson desenvolve a ideia com maior precisão, situando-a no mundo
natural e identificando «a natural ligação emocional dos seres humanos aos
outros organismos vivos» como a adaptação evolutiva que nos ajudou não só a
sobreviver, mas também a alargar os limites da realização humana.
[WILLIAMS, 2018: 31-32]
Para provar que a nossa fisiologia reage a contextos ambientais
diferentes, Miyazaki tem levado centenas de sujeitos de investigação para os
bosques desde 2004. Ele e o seu colega Juyoung Lee, também então da
Universidade de Chiba, descobriram que as caminhadas de lazer pelos bosques,
comparadas com as caminhadas urbanas, provocavam uma descida de 12 por cento
nos níveis de cortisol. Mas não foi tudo. Registaram uma descida de 7 por cento
na atividade do sistema nervoso simpático, de 1,4 por cento na pressão arterial
e de seis por cento no ritmo cardíaco. Nos questionários psicológicos,
registaram também melhores disposições e menores níveis de ansiedade.
Num ensaio de 2011, Miyazaki concluiu o seguinte: «Estes dados
revelam que os estados de tensão podem ser aliviados pela terapia shinrin.» E
os japoneses seguiram as suas indicações, com quase um quarto da população a
participar em algum tipo de atividade shinrin.
Todos os anos, centenas de milhares de visitantes caminham pelos trilhos da
terapia da floresta.
[WILLIAMS, 2018: 33-34]
Trilho de Floresta © Renoir (1875)
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
WILLIAMS, Florence. A
Natureza Cura. Lisboa: Bertrand Editora, 2018, pp. 304. ISBN
978-972-25-3475-8
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