Pedro Cuiça © Centro Desportivo Nacional do Jamor (1 de Junho de 2018)
Os japoneses não acreditam que as pessoas ocupam um lugar
especial acima da Natureza; as pessoas e o mundo natural são semelhantes. (…)
Há um sentimento semelhante descrito num livro do escritor japonês Isamu
Kurita, chamado A Flower Journey.
Nele, o autor observa que “no Ocidente, as pessoas olham para as flores. Na
Ásia, vivem com elas”. Esta ideia de vínculo estreito entre japoneses e
Natureza não é nada de novo. Em vários poemas antigos, como os de Ki no
Tsurayuki e Ono no Komachi, escritos há aproximadamente 1000 anos, as vidas e
aparências dos poetas são comparadas às das flores.
Masao Watanabe, professor emérito da Universidade de
Tóquio, expressou, numa edição de 1974 da revista Science, a sua opinião sobre
a forma como os japoneses veem a Natureza. “De acordo com a religião cristã,
que é seguida na sociedade ocidental, tudo no céu e na terra foi criado por
Deus. Dentro dessa conceção, o homem é uma criação especial e existe uma
separação clara entre o homem e o resto da criação”, observou. “Podemos dizer
que o lugar do ser humano, e só do ser humano, enquanto criação especial acima
de tudo o resto que foi criado, está na origem da visão que o mundo ocidental
tem da Natureza. Além disso, o homem ocidental opõe-se à Natureza, e no Japão o
homem faz parte da Natureza.”
No mesmo artigo, Haruhiko Morinaga analisa a questão do
absolutismo ocidental versus a
relatividade oriental e utiliza o exemplo seguinte para ilustrar essas
profundas diferenças culturais. Se alguém perguntar: “Uma baleia não é um peixe,
ou é?”, um japonês responderia: “Sim, claro. Uma baleia não é um peixe”, para
concordar com quem fez a pergunta. Mas um ocidental simplesmente responderia:
“Não, não é um peixe.” A resposta do ocidental é a simples constatação de um
facto, enquanto a da pessoa japonesa é relativa à pergunta. Este absolutismo
ocidental e a relatividade oriental também se podem aplicar ao relacionamento
que os japoneses têm com a Natureza.
[MIYAZAKI, 2018: 46]
Pedro Cuiça © Centro Desportivo Nacional do Jamor (3 de Junho de 2018)
No Japão, existe uma forma de medicina preventiva notável
que está a ser praticada por um número crescente de pessoas. Apesar de
inicialmente ter sido sustentada pela intuição, esta medicina é agora suportada
por uma investigação científica consistente que confirma os seus vários
benefícios.
A expressão shinrin-yoku
foi cunhada em 1982 por Tomohide Akiyama, diretor da Agência Florestal
Japonesa. Traduzido à letra, significa “banhos de floresta”, e utiliza-se de
uma forma similar às expressões “banhos de sol” ou “banhos de mar”. Não estamos
literalmente a tomar um banho, mas a banhar-nos no ambiente da floresta,
utilizando todos os nossos sentidos para experienciarmos a Natureza de perto.
[MIYAZAKI, 2018: 9]
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
MIYAZAKI, Yoshifumi. Shinrin
Yoku – A terapia japonesa dos banhos de floresta que melhora a sua saúde e
bem-estar. Porto: Albatroz, 2018, pp. 192. ISBN 978-989-739-040-1
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