quarta-feira, 6 de junho de 2018

Foca-te



Os psicólogos estão, desde há muito, fascinados pelo conceito da atenção, embora ele tenha adquirido outro fôlego nesta nossa era da distração, ou, como Paul Atchley a designou, nesta «economia da atenção».
A atenção é a nossa moeda de troca, e é preciosa. O filósofo William James, pioneiro da psicologia experimental e irmão de Henry James, dedicou um capítulo inteiro do seu clássico The Principles of Psychology, publicado em 1890, à atenção. Nele, o autor afirma o seguinte: «Todos sabem o que é a atenção. É a tomada de posse pela mente []» e «A minha experiência é aquilo a que me convém atender [] Sem interesses seletivos, a experiência é o caos total». James dividiu a atenção em dois tipos fundamentais que continuam a definir a maneira como pensamos sobre ela: atenção voluntária e ativa (quando, por exemplo, desempenhamos tarefas) e atenção involuntária ou reflexiva (quando algo exige o nosso foco, como um ruído, um som, um jogo de luz ou mesmo um pensamento errático). Décadas antes do surgimento das mensagens de texto, os filósofos estavam preocupados com o que James descrevia como sendo «um estado de confusão, desorientação e dispersão a que os franceses chamam distração». (Antes de deixarmos William James, não posso deixar de mencionar que ele sofria de depressão e que viveu uma experiência transformadora ao percorrer as montanhas Adirondack em 1898. Tal como descreveu à sua mulher, ficou «num estado de abertura espiritual com os mais vitais contornos». Emerson era seu padrinho e, talvez por isso, tenha sido preparado para aderir voluntariamente a esta possibilidade.)
James sabia que permanecer concentrado numa tarefa era um trabalho muito difícil e que, sem esta capacidade, como [Clifford] Nass veio a confirmar, nos tornamos mais estúpidos, pelo menos de acordo com certos padrões (segundo outros, as distracções da era digital podem ser uma troca razoável por aquilo que os nossos cérebros ganham com o acesso a mais informação e a maior armazenamento de memória). Curiosamente, contudo, também ficamos limitados na nossa capacidade de captar o meio envolvente porque, de outra forma, os nossos cérebros ficariam sobrecarregados de estímulos. O nosso campo visual torna-se bastante reduzido, a nossa audição também sai prejudicada e não conseguimos sequer processar a maior parte do que ouvimos e «vemos». Só conseguimos prosperar no mundo porque os nossos cérebros são muito bons a fazer triagens automáticas.
[WILLIAMS, 2018: 52-53]


NOTA
A atenção/concentração é algo que pode e deve ser treinado e, nesse contexto, as caminhadas constituem uma prática privilegiada para o desenvolvimento dessa capacidade. Fizemos interessantes experiências nesse âmbito, a nível da atenção plena, de elevados níveis de atenção e da atenção com fins terapêuticos tendo obtido invariavelmente interessantíssimos resultados. A prática regular de meditação, e a própria integração dessa prática nas caminhadas, incrementa substancialmente a capacidade de "foco"...
  
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
WILLIAMS, Florence. A Natureza Cura. Lisboa: Bertrand Editora, 2018, pp. 304. ISBN 978-972-25-3475-8

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