Luísa Sousa © Albergaria Rincon del Peregrino (Camino Sanabrés)
«De novo sozinha, o sentimento era outro. Os dias que tinha
caminhado só, desde que tinha deixado o Pedro, o Emílio e o Doriano e antes de
encontrar o Yves, deram-me confiança. Demonstraram-me que eu era capaz e, acima
de tudo, que estava bem comigo própria. Conseguia passar horas e horas em
silêncio, comigo, sem me entediar. Aliás, cada vez mais, apreciava o silêncio e raramente me sentia só. Estar só não era
sinónimo de solidão. Encontrava-me de novo sozinha, mas já nada era igual!»
[SOUSA, 2016: 73]
«Naquele dia, caminhámos os dois, lado a lado, por muito tempo,
quase sempre em silêncio. Há silêncios incomodativos ou ensurdecedores, aquele
era confortável. Sabia bem partilhar o
silêncio.»
[SOUSA, 2016: 148]
«Comparativamente com outros Caminhos, a Via de la Plata é (ainda)
um caminho despido de adornos: poucas estátuas, pinturas, grafittis, painéis e
afins, relacionados com Santiago e o “mundo peregrino”. Esta “aridez” de
incentivos e lembranças, ao provocar menos distracções, faz-nos viajar ainda
mais para dentro de nós. Por vezes, passamos dias sem ver a contagem
decrescente dos quilómetros, acabamos por nos abstrair de tudo isso e a viver
apenas o dia-a-dia.
(…) As povoações ainda estão direccionadas para quem lá vive e não
apenas para os peregrinos e o comércio que os rodeia; há espaço para estar só,
em silêncio e paz, aliada à
oportunidade de espírito de comunidade com os outros peregrinos e de criar laços
fortes com os mesmos pela escassez de outras ofertas e distracções.
Para todos os que se queixam do rumo que o Caminho Francês leva,
este pode ser encarado como um regresso às origens!»
[SOUSA, 2016: 254-255]
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SOUSA, Luísa. Um Caminho para Todos – Diário de uma peregrina no Caminho de Santiago. Columbia
(USA): CreateSpace, 2016, pp. 268. ISBN 978-1523804795
Sem comentários:
Enviar um comentário