quinta-feira, 14 de junho de 2018

O Silêncio do Andar


Luísa Sousa © Albergaria Rincon del Peregrino (Camino Sanabrés)

«De novo sozinha, o sentimento era outro. Os dias que tinha caminhado só, desde que tinha deixado o Pedro, o Emílio e o Doriano e antes de encontrar o Yves, deram-me confiança. Demonstraram-me que eu era capaz e, acima de tudo, que estava bem comigo própria. Conseguia passar horas e horas em silêncio, comigo, sem me entediar. Aliás, cada vez mais, apreciava o silêncio e raramente me sentia só. Estar só não era sinónimo de solidão. Encontrava-me de novo sozinha, mas já nada era igual!»
[SOUSA, 2016: 73]

«Naquele dia, caminhámos os dois, lado a lado, por muito tempo, quase sempre em silêncio. Há silêncios incomodativos ou ensurdecedores, aquele era confortável. Sabia bem partilhar o silêncio
[SOUSA, 2016: 148]

«Comparativamente com outros Caminhos, a Via de la Plata é (ainda) um caminho despido de adornos: poucas estátuas, pinturas, grafittis, painéis e afins, relacionados com Santiago e o “mundo peregrino”. Esta “aridez” de incentivos e lembranças, ao provocar menos distracções, faz-nos viajar ainda mais para dentro de nós. Por vezes, passamos dias sem ver a contagem decrescente dos quilómetros, acabamos por nos abstrair de tudo isso e a viver apenas o dia-a-dia.
(…) As povoações ainda estão direccionadas para quem lá vive e não apenas para os peregrinos e o comércio que os rodeia; há espaço para estar só, em silêncio e paz, aliada à oportunidade de espírito de comunidade com os outros peregrinos e de criar laços fortes com os mesmos pela escassez de outras ofertas e distracções.
Para todos os que se queixam do rumo que o Caminho Francês leva, este pode ser encarado como um regresso às origens!»
[SOUSA, 2016: 254-255]



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SOUSA, Luísa. Um Caminho para Todos – Diário de uma peregrina no Caminho de Santiago. Columbia (USA): CreateSpace, 2016, pp. 268. ISBN 978-1523804795


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