[DIA DE JÚPITER]
© António Freitas (31/01/2018)
«Ele pisou o chão da floresta intocada, sobre o qual
O sol omnisciente não brilhava havia eras,
Onde pasta o alce e caminha o urso temível,
Enquanto no alto das árvores corre o pica-pau.
*
Onde a escuridão o surpeendia, ele deitava-se, feliz, à noite;
Aí a manhã vermelha tocava-o com a sua luz.
*
Vá aonde for, o sábio está em casa,
O seu lar é a terra; a cúpula azul, a sua morada;
Aonde o conduz o espírito lúcido, encontra ele o seu caminho,
Pela própria luz de Deus iluminado e anunciado.»*
EMERSON*
«Uma viagem
autêntica e sincera não é nenhum passatempo, mas é tão séria como o túmulo
ou qualquer parte do percurso humano, e requer um grande período de preparação
antes de a encetarmos. Não me refiro àqueles que viajam sentados, os viajantes
sedentários, cujas pernas baloiçam o caminho todo, meros símbolos ociosos da
viagem, tal como quando falamos de galinhas poedeiras não nos referimos àquelas
que ficam empoleiradas**; refiro-me antes àqueles para quem viajar é vida para as pernas, e morte
também, no final. O viajante deve renascer na estrada e conquistar um
passaporte dos elementos, as principais forças que existem para ele. Verá
também concretizada a velha ameaça da mãe de que será esfolado vivo. As chagas
ir-se-ão tornando mais profundas e sararão interiormente, enquanto não der
tréguas à sola dos pés, e à noite o esgotamento será a sua almofada, e assim
ganhará experiência contra a adversidade. Foi isso que se passou connosco.»
[THOREAU, 2018: 342-343]
© na Net (?)
«Para o homem virtuoso, o universo é o único sanctum sanctorum, e os penetrais do
templo, são o vasto apogeu da sua existência. Porque haveria ele de se recolher
numa cripta subterrânea, como se fosse o único local sagrado do mundo que ele
não tivesse profanado? A alma obediente mais não fará do que descobrir e
familiarizar-se com as coisas e escapar-se cada vez mais para a luz e para o
ar, como o fez até aqui em segredo, de tal forma que o universo nunca lhe
parecerá suficientemente aberto. Acabará até por negligenciar aquele silêncio
que acompanha a verdadeira modéstia, mas que, em razão da independência segura
que manifesta nas suas revelações, torna tão íntimo para quem ouve aquilo que
divulga, que se torna missão do mundo inteiro que a modéstia não seja
infringida.
Para o homem que alberga um segredo no seu íntimo, há um
segredo ainda maior por explorar. Os nossos actos mais insignificantes podem
constituir matéria de secretismo, mas tudo
aquilo que fazemos com a maior sinceridade e integridade, em virtude da sua
pureza, tem de ser transparente como a luz.»
[ THOREAU, 2018: 346-347]
© Barros & Barros (1/01/2016)
NOTA
*Versos do poema, de Ralph Waldo Emerson(1803-1882), Woodnotes
(THOREAU, 2018: 334)
**Nota do tradutor: jogo de palavras intraduzível entre sit – pousar, empoleirar-se – e sit – chocar (ovos).
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
THOREAU, Henry David. Uma Semana nos Rios Concord e Merrimack.
Lisboa: Antígona, 2018, pp. 432. ISBN 978-972-608-300-9
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