terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Forestósofos

© na Net (?)

«O Cavaleiro* é um viajante solitário através de um grande tabuleiro de xadrez, de sucessivos negros e brancos, símbolo do Universo, como acontece quando andamos na floresta durante o dia ou numa noite de luar e vemos as sucessivas manchas claras e escuras reflectidas sobre o nosso caminho florestal. Olhar para essas densas manchas claro-escuras enquanto caminhamos, desencadeia ao fim de algum tempo um estado de transe profundo, como eu próprio apurei regularmente. Os nossos sentidos físicos começam a ver o que habitualmente não vemos, quando tudo é uma mancha infinita zebrada de luzes monótonas.»
[LASCARIZ, 2017: 236]

© na Net (?)

«No processo de retiro na floresta, a ascese de aniquilação do ego passa pela recentragem da consciência racional no plano sensorial, no impacto directo do que se vê e ouve, fazendo a epochè husserliana, isto é, suspendendo todas as referências e condicionalismos culturais que o determinam. Tal e qual como nos processos iniciáticos em que primeiro ouvimos sem ver e, depois, completamos o que ouvimos com o que vemos.»
[LASCARIZ, 2017: 237]

© Spirit of Old


NOTA
*A noção de Cavaleiro aqui expressa pelo autor é assaz diferente daquela que, em geral, é propalada: «Os Cavaleiros do Graal não andam em manada como os Cruzados. São sempre solitários e eremitas. São eremitas em movimento, nómadas, não eremitas sedentários. [LASCARIZ, 2017: 114]» Ademais, este Cavaleiro é forestósofo: um neologismo criado por Gilberto de Lascariz para «designar aquele ou aquela que busca experiências de sapiencialidade espiritual no seio arbustáceo das florestas» (ibidem, 2017: 73).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LASCARIZ, Gilberto de. O Dragão e o Graal – A Via de Vénus e a Magia do Sangue na Tradição. Sintra: Zéfiro, 2017, pp. 480. ISBN 978-989-677-157-7


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