[Sétima-feira: DIA DE SATURNO]
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«Quem
dorme de dia e anda a pé à noite,
Não verá vivalma, mas um diabrete.»
[THOREAU, 2018: 69]
«Quando olhamos os flancos destes penedos,
embora a uns quatrocentos metros de distância, tínhamos a impressão de os ouvir
sussurar, tal era a folhagem daqueles ermos: um lugar para faunos e sátiros, onde morcegos ficam agarrados às rochas
durante todo o dia, antes de esvoaçarem ao cair da noite sobre a água, e os
pirilampos emitiam com parcimónia as suas luzes debaixo das ervas e das folhas
na noite. Após termos montado a tenda na vertente da colina, a alguma
distância da margem, ficámos a contemplar através da abertura triangular, ao
crepúsculo, o nosso mastro solitário na margem, que mal se via acima dos
amieiros e que quase nunca se imobilizava totalmente devido à ondulação do rio;
era a primeira incursão do comércio nesta terra. Era aí o nosso porto, a nossa
Óstia.»
[THOREAU, 2018: 67]
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«Não havia sinal da existência de pessoas na
escuridão da noite, nem uma única respiração humana, mas apenas a do vento. Quando
nos sentámos, pois a novidade da situação mantinha-nos acordados, ouvíamos de
vez em quando raposas a andar sobre as folhas mortas e roçar as ervas húmidas
de orvalho perto da tenda e, numa ocasião, um rato-almiscareiro a tentar chegar
às batatas e aos melões no barco, mas quando acorremos à margem apenas vimos
uma ondulação na água a agitar o disco de uma estrela. Por vezes, ouvíamos a
serenata de um pardal a sonhar ou o grito abafado de uma coruja, mas, depois de cada som que a pouca distância
quebrava a quietude da noite, de cada crepitar de galhos ou sussurar das
folhas, havia uma pausa súbita e fazia-se sentir um silêncio cada vez mais
profundo, como se um intruso soubesse que nenhuma vida tinha o direito de andar
fora a essa hora.»
[THOREAU, 2018: 68]
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
THOREAU, Henry David. Uma Semana nos Rios Concord e Merrimack. Lisboa, Antígona, 2018, pp. 432. ISBN 978-972-608-300-9
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