[DIA DE MERCÚRIO]
© PC
«Tínhamos uma perspectiva tão próxima
Da paisagem da nossa vida.»
[THOREAU, 2018: 274]
«Há mais do que um par de estrelas no céu,
(…) E por certo será feliz aquele
Que encontrar um num milhar.»
[THOREAU, 2018: 311]
«Quem não caminha na planície como entre as colunas de
Tadmore do deserto? Não existe na Terra nenhuma instituição que tenha
estabelecido a amizade. Esta não é ensinada por nenhuma religião; nenhuma
escritura contém os seus princípios. Não tem qualquer templo ou coluna
solitária. Há um rumor de que esta terra está habitada, mas o marinheiro
naufragado não viu uma única pegada na costa. O caçador só encontrou fragmentos
de objectos de cerâmica e os monumentos funerários dos habitantes.
Contudo, pelo menos os nossos destinos são sociais. Os nossos caminhos não são divergentes,
mas, à medida que se entretece e preenche a teia do destino, somos projectados
cada vez mais para o centro. (…)
Nenhuma palavra aflora mais vezes os lábios dos homens do
que a amizade, e sem dúvida nenhuma
ideia corresponde melhor às suas aspirações. Todos os homens sonham com ela, e
o seu drama, que é sempre uma tragédia, é encenado todos os dias. É o segredo
do universo. Podemos palmilhar a cidade,
ou deambular no campo, sem que alguém alguma vez fale dela [a amizade], embora esteja
sempre nos nossos pensamentos, e a ideia do que é possível a este respeito
condiciona o nosso comportamento para com todos os novos homens e mulheres e
muitos dos antigos*. Porém, não me lembro de mais de dois ou três ensaios
acerca deste tema em toda a literatura**.»
[THOREAU, 2018: 299-300]
© DR
NOTAS
*No tocante a caminhadas e deambulações virá à colação a
noção de companheirismo, tão cara a muitos dos “clássicos” praticantes
de actividades de ar livre (em que me incluo) e cuja etimologia remete para a
partilha do pão. Algo estreitamente ligado à noção de amizade e que, bastas
vezes, é impossível de destrinçar desta vivência.
**Nesta matéria lembro-me de imediato do Livro
de Amigos, de Henry Miller, cuja primeira hilariante leitura, no século
passado, foi acompanhada de sonoras gargalhadas e ainda hoje me proporciona um pronto
sorriso sempre que o recordo. Para mim, trata-se de uma obra incontornável, de
referência mesmo, no que concerne a amigos. «Quando digo amigos, quero dizer AMIGOS. Nem qualquer pessoa ou toda a
gente pode ser amigo. Tem de ser alguém tão estreitamente ligado a nós como a
própria pele, alguém que ponha de parte a cor, o drama, enfim que tenha
significado para a nossa vida… Uma vida sem amigos, não é vida, por muito
confortável e segura que possa ser.» [MILLER, 1986]
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
MILLER, Henry. Livro de Amigos. Lisboa: Douro
Edições, 1986, pp. 176.
THOREAU, Henry David. Uma Semana nos Rios Concord e Merrimack.
Lisboa: Antígona, 2018, pp. 432. ISBN 978-972-608-300-9
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