quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Quarta-feira

[DIA DE MERCÚRIO]

 © PC

«Tínhamos uma perspectiva tão próxima
Da paisagem da nossa vida.»
[THOREAU, 2018: 274]

«Há mais do que um par de estrelas no céu,
(…) E por certo será feliz aquele
Que encontrar um num milhar.»
[THOREAU, 2018: 311]

«Quem não caminha na planície como entre as colunas de Tadmore do deserto? Não existe na Terra nenhuma instituição que tenha estabelecido a amizade. Esta não é ensinada por nenhuma religião; nenhuma escritura contém os seus princípios. Não tem qualquer templo ou coluna solitária. Há um rumor de que esta terra está habitada, mas o marinheiro naufragado não viu uma única pegada na costa. O caçador só encontrou fragmentos de objectos de cerâmica e os monumentos funerários dos habitantes.
Contudo, pelo menos os nossos destinos são sociais. Os nossos caminhos não são divergentes, mas, à medida que se entretece e preenche a teia do destino, somos projectados cada vez mais para o centro. (…)
Nenhuma palavra aflora mais vezes os lábios dos homens do que a amizade, e sem dúvida nenhuma ideia corresponde melhor às suas aspirações. Todos os homens sonham com ela, e o seu drama, que é sempre uma tragédia, é encenado todos os dias. É o segredo do universo. Podemos palmilhar a cidade, ou deambular no campo, sem que alguém alguma vez fale dela [a amizade], embora esteja sempre nos nossos pensamentos, e a ideia do que é possível a este respeito condiciona o nosso comportamento para com todos os novos homens e mulheres e muitos dos antigos*. Porém, não me lembro de mais de dois ou três ensaios acerca deste tema em toda a literatura**.»
[THOREAU, 2018: 299-300]

© DR

NOTAS
*No tocante a caminhadas e deambulações virá à colação a noção de companheirismo, tão cara a muitos dos “clássicos” praticantes de actividades de ar livre (em que me incluo) e cuja etimologia remete para a partilha do pão. Algo estreitamente ligado à noção de amizade e que, bastas vezes, é impossível de destrinçar desta vivência.
**Nesta matéria lembro-me de imediato do Livro de Amigos, de Henry Miller, cuja primeira hilariante leitura, no século passado, foi acompanhada de sonoras gargalhadas e ainda hoje me proporciona um pronto sorriso sempre que o recordo. Para mim, trata-se de uma obra incontornável, de referência mesmo, no que concerne a amigos. «Quando digo amigos, quero dizer AMIGOS. Nem qualquer pessoa ou toda a gente pode ser amigo. Tem de ser alguém tão estreitamente ligado a nós como a própria pele, alguém que ponha de parte a cor, o drama, enfim que tenha significado para a nossa vida… Uma vida sem amigos, não é vida, por muito confortável e segura que possa ser.» [MILLER, 1986]

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MILLER, Henry. Livro de Amigos. Lisboa: Douro Edições, 1986, pp. 176.
THOREAU, Henry David. Uma Semana nos Rios Concord e Merrimack. Lisboa: Antígona, 2018, pp. 432. ISBN 978-972-608-300-9


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