Podemos, portanto, distribuir as actividades
humanas em função dos paradigmas do sagrado e do profano: são profanas as
actividades que tendem ao estabelecimento de uma homogeneidade do mundo,
excluindo todo o elemento heterogéneo; são sagradas as actividades que
transgridem os interditos estabelecidos, introduzindo um gasto improdutivo. A
passagem da continuidade à descontinuidade, assegurada por um sacrifício,
constitui a passagem do profano ao sagrado.
A ciência do heterogéneo – a que Bataille
chamou heterologia – consiste precisamente no conhecimento do absolutamente
Outro, do que se revela no extremo da experiência limite.
[António Guerreiro in BATAILLE, 1987: 4]
A experiência extática, tal como ele a pensa,
é a conquista de uma soberania, isto é, o acesso a um cume em que o homem se
furta definitivamente à sua funcionalidade e se defronta com o impossível, até
ao ponto em que Deus se converte na possibilidade mais extrema do homem. A
mística de que aqui se trata é a aniquilação extática do teológico, mas também
do teleológico. Como observou Derrida, a ateologia de Bataille é também uma
a-teleologia e uma anescatologia. Mística que não anula a factibilidade da
existência para desembocar numa plenitude absolutamente transcendente, mas uma
mística da imanência que afirma a própria condição da imanência como impossibilidade
radical de plenitude.
[António Guerreiro in BATAILLE, 1987: 6]
Referência bibliográfica
BATAILLE, Georges. O Aleluia. Lisboa: Quatro
Elementos Editora, 1987, pp. 40.
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