domingo, 11 de dezembro de 2016

A Montanha


Podemos, portanto, distribuir as actividades humanas em função dos paradigmas do sagrado e do profano: são profanas as actividades que tendem ao estabelecimento de uma homogeneidade do mundo, excluindo todo o elemento heterogéneo; são sagradas as actividades que transgridem os interditos estabelecidos, introduzindo um gasto improdutivo. A passagem da continuidade à descontinuidade, assegurada por um sacrifício, constitui a passagem do profano ao sagrado.
A ciência do heterogéneo – a que Bataille chamou heterologia – consiste precisamente no conhecimento do absolutamente Outro, do que se revela no extremo da experiência limite.
[António Guerreiro in BATAILLE, 1987: 4]

A experiência extática, tal como ele a pensa, é a conquista de uma soberania, isto é, o acesso a um cume em que o homem se furta definitivamente à sua funcionalidade e se defronta com o impossível, até ao ponto em que Deus se converte na possibilidade mais extrema do homem. A mística de que aqui se trata é a aniquilação extática do teológico, mas também do teleológico. Como observou Derrida, a ateologia de Bataille é também uma a-teleologia e uma anescatologia. Mística que não anula a factibilidade da existência para desembocar numa plenitude absolutamente transcendente, mas uma mística da imanência que afirma a própria condição da imanência como impossibilidade radical de plenitude.
[António Guerreiro in BATAILLE, 1987: 6]

E todavia...



Referência bibliográfica
BATAILLE, Georges. O Aleluia. Lisboa: Quatro Elementos Editora, 1987, pp. 40. 

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