sexta-feira, 28 de abril de 2023

Saudades do Futuro

 

Francisco Conceição ©Instituto Piaget Almada (27/04/2023)


Ontem foi um dia particularmente gratificante, na sequência da participação em duas ações de formação sob temáticas diferentes e, contudo, complementares, tendo por denominador comum «o regresso à natureza» através da prática de actividades de ar livre. Por vezes ir ao passado é uma forma de compreender o presente e, de certo modo, de percepcionar o futuro.

Primeiro ministrei uma aula de seminário, das 14:00 às 15:30, no âmbito de estágio da licenciatura em Desporto, no Instituto Piaget de Almada, sob a temática “Actividades de Ar Livre e Desportos de Montanha em Portugal – Breve abordagem socio-histórica”. Após um enquadramento sobre a revolução com início no Iluminismo e no Pré-romantismo, a nível internacional, enquanto dinamizadores de renovadas formas de ver (a estética) e de pensar (a ética), com consequências profundas no relacionamento com a natureza e a prática de actividades de ar livre, abordámos o contexto português no que concerne a implementação e o desenvolvimento do campismo, do montanhismo e do pedestrianismo/percursos pedestres. A aula presencial, que decorreu num anfiteatro do Instituto Piaget, contou com a presença da coordenadora de estágios, a Profª Renata Willig, e mais de três dezenas de alunos do estágio da licenciatura em Desporto. Merece também uma especial referência e um particular agradecimento, a conversa telefónica que tive oportunidade de fazer, na manhã de ontem, com o ex-Presidente da então Federação Portuguesa de Campismo e Caravanismo (FPCC), o Sr. Justino Valente, que, com a idade de 101 anos, me proporcionou alguns preciosos esclarecimentos acerca da  história do campismo em Portugal.



Ao final do dia, das 20:00 às 22:00, tive ainda a oportunidade de apresentar o tema “Percursos Pedestres no Território: paisagem, ecologia e ética ambiental”, no âmbito da rúbrica Palestras da Montanha, organizadas pelo Centro de Formação da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP). As Palestras da Montanha são uma modalidade de ensino à distância (e-learning) que consiste em acções de formação contínua, de duas ou três horas de duração, com vista à atribuição de unidades de crédito para a renovação de Títulos Profissionais de Treinador de Desporto (TPTD) através da actualização de conhecimentos e de competências. A participação nas Palestras, muitas vezes gratuitas (como aconteceu ontem), está aberta, todavia, não só a treinadores como também a técnicos especialistas e a praticantes. A edição de ontem contou com a presença de cinquenta participantes de diversos pontos do país.

A Palestra iniciou-se com um enquadramento acerca do surgimento do pedestrianismo e da marcação de percursos pedestres em Portugal (no contexto europeu), versou a tipologia dos percursos existentes e a sinalética utilizada para balizar os percursos e abordou dados estatísticos (número de quilómetros de PR® e GR® homologados, número de concelhos com percursos e número de entidades promotoras), para chegar à conclusão de que chegou a altura de fazer um forte investimento na gestão ambiental de percursos: «a caminho de um futuro sustentável… andar para um melhor ambiente». Seguiram-se três temáticas – (1) paisagem, (2) ecologia e (3) ética ambiental – que serviram como linhas orientadoras de reflexão sobre que caminhos tomar para permitir um verdeiro desenvolvimento sustentável no âmbito dos percursos pedestres, que passe não só pela promoção da biodiversidade e pela defesa do património geológico, mas que vá mais além. A implementação de uma adequada gestão ambiental de percursos pedestres – culta, esclarecida e devidamente formada (e informada) – passará inevitavelmente por traçar novos caminhos e, nesse contexto, não deveremos (nem poderemos) voltar as costas aos desafios que a actualidade nos coloca. São requeridas novas formas de pensar e de agir, que passem por estratégias de renaturalização (rewilding) e que planeiem a longo prazo, com «vistas largas», garantido a qualidade de vida das gerações futuras: e isso é que é, verdadeiramente, desenvolvimento sustentável e sustentabilidade. O clímax de uma floresta poderá levar três séculos a atingir e essa deverá ser uma referência  um landmark  para aqueles que pretendem olhar (e ver) bem mais longe do que, "simploriamente", tão somente «o seu umbigo». 







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