Ontem foi um dia
particularmente gratificante, na sequência da participação em duas ações de
formação sob temáticas diferentes e, contudo, complementares, tendo por
denominador comum «o regresso à natureza» através da prática de actividades de
ar livre. Por vezes ir ao passado é uma forma de compreender o presente e, de
certo modo, de percepcionar o futuro.
Primeiro ministrei uma aula
de seminário, das 14:00 às 15:30, no âmbito de estágio da licenciatura em
Desporto, no Instituto Piaget de Almada, sob a temática “Actividades de Ar
Livre e Desportos de Montanha em Portugal – Breve abordagem socio-histórica”.
Após um enquadramento sobre a revolução com início no Iluminismo e no
Pré-romantismo, a nível internacional, enquanto dinamizadores de renovadas
formas de ver (a estética) e de pensar (a ética), com consequências profundas
no relacionamento com a natureza e a prática de actividades de ar livre, abordámos
o contexto português no que concerne a implementação e o desenvolvimento do campismo,
do montanhismo e do pedestrianismo/percursos pedestres. A aula presencial, que
decorreu num anfiteatro do Instituto Piaget, contou com a presença da
coordenadora de estágios, a Profª Renata Willig, e mais de três dezenas de
alunos do estágio da licenciatura em Desporto. Merece também uma especial referência
e um particular agradecimento, a conversa telefónica que tive oportunidade de
fazer, na manhã de ontem, com o ex-Presidente da então Federação Portuguesa de
Campismo e Caravanismo (FPCC), o Sr. Justino Valente, que, com a idade de 101
anos, me proporcionou alguns preciosos esclarecimentos acerca da história do campismo em Portugal.
A Palestra iniciou-se com um enquadramento acerca do surgimento do pedestrianismo e da marcação de percursos pedestres em Portugal (no contexto europeu), versou a tipologia dos percursos existentes e a sinalética utilizada para balizar os percursos e abordou dados estatísticos (número de quilómetros de PR® e GR® homologados, número de concelhos com percursos e número de entidades promotoras), para chegar à conclusão de que chegou a altura de fazer um forte investimento na gestão ambiental de percursos: «a caminho de um futuro sustentável… andar para um melhor ambiente». Seguiram-se três temáticas – (1) paisagem, (2) ecologia e (3) ética ambiental – que serviram como linhas orientadoras de reflexão sobre que caminhos tomar para permitir um verdeiro desenvolvimento sustentável no âmbito dos percursos pedestres, que passe não só pela promoção da biodiversidade e pela defesa do património geológico, mas que vá mais além. A implementação de uma adequada gestão ambiental de percursos pedestres – culta, esclarecida e devidamente formada (e informada) – passará inevitavelmente por traçar novos caminhos e, nesse contexto, não deveremos (nem poderemos) voltar as costas aos desafios que a actualidade nos coloca. São requeridas novas formas de pensar e de agir, que passem por estratégias de renaturalização (rewilding) e que planeiem a longo prazo, com «vistas largas», garantido a qualidade de vida das gerações futuras: e isso é que é, verdadeiramente, desenvolvimento sustentável e sustentabilidade. O clímax de uma floresta poderá levar três séculos a atingir e essa deverá ser uma referência – um landmark – para aqueles que pretendem olhar (e ver) bem mais longe do que, "simploriamente", tão somente «o seu umbigo».
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