sábado, 15 de abril de 2023

D'o Andar Profundo

 

Pedro Cuiça © Serra de Carnaxide – Oeiras (14/04/2023)


A Roda do Ano continua a girar e, nesta fase, assistimos ao aumento diário das horas de sol, numa manifesta(da) celebração da primaveril fertilidade. Os campos estão plenos de vida, num imenso pontilhado de cores da floração, sobre múltiplas tonalidades de verde. E plenos de diversificadas sonoridades, desde o zumbido dos insectos ao chilrear da passarada, do resmalhar do arvoredo a breves sussurros, rápidos, de seres a escapulirem-se por entre o carrascal. No alto da Serra de Carnaxide podemos não só apreciar as amplas vistas panorâmicas, que se estendem para sul, como fazer parte da paisagem concreta, no aqui e agora sensorial, que se expressa muito para além da visualização e da audição. A impressão corporal da radiação solar e da brisa, a sensação térmica, o toque da vegetação herbácea e arbustiva na passagem de trilhos estreitos, e até a comoção táctil, interna, do respirar, são inseparáveis do acto de andar a pé ao/no ar livre. Não esqueçamos o piso(teio), o enraizamento do e no andar, que apresenta a sua máxima expressão no caminhar descalço, mas que também poderá ser apreendido através de um calçado adequado. E os campos, por estes dias, também apresentam uma riqueza odorífica difícil de ignorar. Os campos estão cheirosos e saborosos!

Por estas e por outras, inúmeras, razões, hoje será um dia auspicioso, certamente apropriado para caminhar, para um Andar Profundo: sentir a natureza e sentir-se (n)a natureza; que não se encontra separado mas, sim, que faz parte de um Todo, (inter)relacional e transpessoal, a que poderemos, à falta de melhor, chamar “Natureza”.


Pedro Cuiça © Serra de Carnaxide – Oeiras (14/04/2023)


Sem comentários:

Enviar um comentário