Pedro Cuiça © Igreja de Alcobertas (Portugal, 2016)
«Nada ou quase nada se conhecendo a seu
respeito, posso imaginar para ele (Prisciliano) e lho atribuir tudo quanto a
mim me apeteceria ser e proclamar.»
Agostinho da Silva (in
SANTOS, 2013: 12)
«Ao longo dos tempos, um inquietante
enigma paira sobre Santiago de Compostela: a quem pertencerão os restos mortais
que ali se cultuam?
Na verdade, Tiago Zebedeu foi o
primeiro dos apóstolos a ser martirizado, em Jerusalém, onde foi sepultado. É o
único cuja morte vem documentada na Bíblia, no ano 44.
Contudo, oito séculos depois, nasceu
na Galiza uma prodigiosa lenda, após as visões de um eremita que viu luzes
estranhas num bosque, enquanto se ouviam cânticos de anjos (por volta do ano
820). O bispo Teodomiro de Iria Flavia (atual Padrón) visitou o lugar e
encontrou uma velha tumba com restos humanos e atribuiu-os ao apóstolo Tiago e
a dois dos seus discípulos. A lenda floresceu e, mais tarde, ampliou-se, com
menção de que o corpo viajara miraculosamente num barco de pedra, guiado por
anjos, ao longo de sete dias, até à referida Iria Flavia. Segundo a mesma, ali
foi desembarcado e levado até à atual Compostela.
Assim, durante quase oitocentos anos,
existiu um vazio sobre a veneração do corpo de Santiago em Compostela.
Porém, uma outra perturbante tradição,
mais bem documentada, narra que, no final do século IV, chegou pelo mar a Iria
Flavia o corpo do líder de um movimento carismático e espiritual com forte
implantação popular na Hispânia romana e os de dois homens que o seguiam,
decapitados pela sua fé. Dali, terão sido trasladados para o seu sepulcro,
acompanhados por uma multidão de seguidores. O povo imediatamente atribuiu-lhes
fama de santos e mártires e passou a fazer devoção, peregrinação e os
juramentos mais solenes sobre os seus túmulos, invocando o seu nome. A força do
movimento perdurou na Galécia até à chegada dos muçulmanos, apesar de
sucessivos concílios e ações para o exterminar.
Durante muitos séculos, o líder do
movimento foi considerado um herege pela Igreja. Porém, as recentes descobertas
dos seus escritos (em Würzburg, Alemanha) vieram pôr em causa a justiça da
perseguição e do esquecimento a que foi votado durante cerca de mil e
seiscentos anos. E reputados autores e historiadores passaram a perguntar-se: Afinal, quem está sepultado em Compostela? E
se o culto que ali se presta for o maior paradoxo da história do ocidente? Como
começou esse culto? E outros a questionarem-se: Qual o sentido das
peregrinações a Compostela?»
[SANTOS, 2013: 11-12]
Pedro Cuiça © Igreja de Padrón (Galiza, 2016)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SANTOS, Alberto S.. O Segredo de Compostela.
Porto: Porto Editora, 2013, pp. 480. ISBN 978-972-0-04393-1
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