segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A Roda do Ano



As flores silvestres da macieira talvez sejam as mais belas das flores de todas as árvores, tão abundantes e deliciosas para a vista como para o olfacto. É frequente o caminhante sentir-se tentado a dar meia-volta para se atardar perto de uma árvore extraordinariamente bela, com flores dois terços abertas. (…)
As primeiras maçãs começam a amadurecer por volta do primeiro de Agosto; mas creio que nenhumas são tão boas para comer como algumas para cheirar. Para perfumar os nossos lenços, uma só destas maçãs é superior a qualquer perfume vendido numa loja. (…)
Deste modo, em todos os produtos naturais existe uma determinada característica volátil e etérea que representa o seu valor mais elevado, e que é impossível banalizar, comprar ou vender. (…)
Em Outubro, com a queda da folha, distinguem-se melhor as maçãs nas árvores.
[THOREAU, 2016: 29-33]


Os europeus que chegaram à América ficam surpreendidos com o esplendor da nossa folhagem outonal. Não há referência a qualquer fenómeno semelhante na poesia inglesa, poi ali as árvores adquirem poucas cores vivas. Quase tudo o que Thomson diz sobre este assunto no seu poema «Outono» está contido na seguinte estrofe:

«Mas vede os evanescentes boques de muitas
cores,
Matizes sobrepostos, mais e mais profundos,
obscurecidos
Os campos em redor; uma sombra cerrada,
obscura e penumbrosa,
De todos os cambiantes; desde o verde desmaiado
Até ao negro-fuligem.»

E também no verso em que se fala de

«o Outono radioso sobre os bosques amarelos.»

A transformação outonal dos nossos bosques ainda não deixou uma marca profunda na nossa literatura. Outubro mal coloriu a nossa poesia.
Um grande número de pessoas, as que passaram a vida em cidades e nunca se aventuraram a vir ao campo nesta estação, nunca viu isto: a flor, ou antes, o fruto maduro, do ano.
[THOREAU, 2016: 83-84]



NOTA
Já tinha Maçãs Silvestres & Cores de Outono há alguns meses aguardando a respectiva leitura. Agora com o Equinócio outonal chegou a altura propícia para me adentrar nessa obra de Thoreau: uma referência bibliográfica no âmbito da nature writing. Para alguns aproxima-se o final de mais um ano e/ou o início de outro, para mim trata-se de mais um marco significativo e substancialmente significante da Roda do Ano: aquele que anuncia a estação minha preferida...



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
THOREAU, Henry David. Maçãs Silvestres & Cores de Outono. LISBOA: Antígona, 2016, pp. 166. ISBN 978-972-608-281-1



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