D'os campos... subliminares
(…)
Essa experiência é
comum?
Conecto-a ao meu
senso direcional, que todos os alpinistas e viajantes que estiveram comigo
admitem ser absolutamente excepcional.
Caso eu deixe minha
tenda ou cabana por uma porta voltada, por assim dizer, para Sudoeste, durante
todo o dia, por sobre todos os tipos de solos, através de qualquer selva que se
possa imaginar, em todos os tipos de climas, nevoeiro, nevasca, geada, de noite
ou de dia, percebo até 5º (normalmente 2º) de variação na direção à qual estou
voltado em relação a quando saí daquela tenda ou cabana. Caso aconteça de
observar isso em uma bússola, obviamente que posso deduzir onde fica o Norte
por mero julgamento de ângulo, no que sou muito preciso.
Indo além, mantenho
um registro mental, totalmente inconsciente, do tempo gasto em marcha, de modo
que sempre posso dizer seu tempo sem consultar o relógio, com precisão de cinco
minutos.
E mais: tenho outro
memorizador automático que mapeia distância e direção. Suponha que eu saia de
Scott’s e caminhe (ou vá de carro, para mim é a mesma coisa) para Haggerston Town
Hall (onde quer que Haggerston fique, mas digamos que seja NE) e dali eu saia
para Maida Vale. De Maida Vale poderia ir diretamente a Picadilly de novo e não
sairia de meu caminho por mais de cinco minutos, exceto se entrasse em becos
sem saída, etc., e saberia quando estivesse novamente próximo ao Scott’s antes
de reconhecer qualquer um dos seus arredores.
Sempre achei que eu,
intuitivamente, tinha a direção e a distância de uma linha reta A (o caminho
mais curto de Scott’s a Haggerston; mas faria pouca diferença caso fosse pela
via Poplar, a despeito de qualquer volta a mais), outra intuição a respeito da
linha B (de Haggerston até Maida Vale), e obtinha minha linha C (de volta para
o Scott’s) por “trigonometria subliminar”.
Nesse exemplo, parto
do princípio de que nunca estive em Londres antes. Certamente, fiz esforços
similares em uma dúzia de cidades estranhas e até mesmo em confusos bairros
populosos e pobres de Tanger ou do Cairo. Estou pior em Paris do que em
qualquer outro lugar; penso, porque as ruas principais têm muita iluminação e
isso me confunde. Também tal poder não se adapta à vida civilizada; definha-se
enquanto vivo em cidades e renova-se quando retorno à boa terra de Deus. Uma tenda
de sete pés e a luz das estrelas – quem poderia querer mais? [Crowley in WASSERMAN, 2009: 97]
Pedro Cuiça © Messner Mountain Museum Firmian (Tirol do Sul, 14/ Out. 2016)
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
WASSERMAN, James. Aleister
Crowley e a Prática do Diário Mágico. São Paulo: Madras Editora, 2009,
pp. 240. ISBN 978-85-370-0462-3
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