Pedro Cuiça © Caminhos Simples (Serra de Sintra, 17/12/2017)
«Entre essas provas condenatórias, pesarão especialmente as que
acusarem os homens levianos e imprudentes de ter corrido atrás dos prodígios e
casos maravilhosos, sem inquirir a sua origem; mais para satisfazer a sua
curiosidade ignorante, do que para buscar a
sabedoria, a qual segue os caminhos
mais simples*. A verdadeira ciência é que tem a chave das maravilhas eternas
e naturais; ora essa chave só se encontra na luz da inteligência; e a luz da
inteligência só se encontra nas humildes e vivificantes virtudes da alma. Assim
como a luz que a lâmpada de azeite nos eferece só é assim tão pura e brilhante
porque o azeite é a substância mais doce e benfazeja que há na terra. A este
feliz destino é que tudo nos deveria conduzir. Mas, enquanto os homens
prudentes procuram a sabedoria, os outros, e são a maioria, só procuram o brilho
artificial das coisas. É isso que leva a verdade a usar todos estes meios
sensíveis, como os que utilizo; os quais, sem isso, seriam inúteis, pois os caminhos simples seriam suficientes para
aperfeiçoar a primitiva natureza do homem.» [SAINT-MARTIN, 2016: 185]
O pôr-do-sol a
leste [Pedro Cuiça © Monge (Serra de Sintra, 17/12/2017)]
*Ao bom estilo do princípio da Navalha de Ockham, atribuído ao
frade franciscano William de Ockham (séc. XIII): entia non sunt multiplicanda
praeter necessitatem (as entidades não devem ser multiplicadas além da
necessidade). Ockham defende a intuição como ponto de partida para o conhecimento
do Universo e o princípio de que os processos naturais optam invariavelmente
pelo caminho mais simples.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SAINT-MARTIN, Louis-Claude de. O Crocodilo ou a Guerra do Bem e do
Mal. Sintra: Zéfiro, 2016, pp. 316. ISBN 978-989-677-142-3
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