O Dia Mundial do Ambiente foi criado, a 5 de Junho de 1972, durante
a Conferência das Nações Unidas de Estocolmo. Essa foi a primeira vez que o ambiente
foi tema de uma Conferência das Nações Unidas: a depleção dos recursos
naturais, a poluição e a explosão demográfica já constituíam problemas
demasiadamente graves para serem ignorados. O designado “Clube de Roma”, já em
1968, tinha colocado em causa Os Limites do Crescimento, numa obra que
se tornou mundialmente famosa… Daí até hoje, meio século passado (!); temos
vindo a assistir ao agravamento das condições ambientais, a nível global e
local, com as alterações climáticas e a biodiversidade a ocupar a agenda dos media,
a par dos plásticos nos oceanos (e por toda a parte) ou dos agroquímicos, entre
outras graves maleitas.
Sim, Gaia – a Terra-Mãe – está doente e, obviamente, “o mal” não é
de agora. Também foi criado um Dia da Terra, celebrado a 22 de Abril (desde
1970). Hoje há dias para tudo, quando paradoxalmente de pouco ou nada servem! E,
de boas intenções (para não falar das más!) está o Inferno cheio!!! Chega de
branqueamentos e encobrimentos (greenwaching): quando o dogma do
crescimento ilimitado era um tabu inquestionável foi preciso vir um vírus para
pôr travão a fundo na economia e baixar os níveis de poluição atmosférica a
valores que não se viam há décadas. De resto, a preocupação generalizada é pôr “pé-a-fundo”
no acelerador da economia, com vista a um rápido retorno à “normose” do
crescimento infinito… Como se tal fosse possível!!!
É tempo de agir – de acção directa – mas sob renovadas formas.
Nesse contexto, deixo aqui um trecho da palestra Espírito Santo: O
Tempo dos Lírios, que apresentei, a 31 de Maio – Domingo de Pentecostes
–, no webinar O Espírito e a Terra, organizado pelo colectivo
Irmânia.
(…) De acordo com o registo arqueológico,
afastámo-nos (ou fomos separados?) da natureza, há cerca de 10 mil anos, com o
início da civilização8. A
revolução neolítica, decorrente da invenção da agricultura e da pastorícia,
baseou-se na exploração da natureza, sob o pressuposto de que um diminuto
conjunto de monoculturas e de animais domesticados poderia suportar um próspero
e virtualmente infinito crescimento9
(WILSON,
2007: 21). Assim se iniciou o equivocado dogma do crescimento económico
ilimitado! Assim a florescente e produtiva Mesopotâmia, situada no Crescente
Fértil, entre os rios Tigre e Eufrates, se converteu numa região desolada
devido à sobre-exploração dos “recursos” naturais (PONTING, 1992: 112).
A revolução industrial, que despoletou no terminus
do século XVIII, traiu a natureza pela segunda vez com o desenvolvimento de
maquinaria e de transportes motorizados, alimentados por combustíveis fósseis,
o que originou um gigantesco e “imparável” crescimento da produção e da
poluição, da população e do consumo. O dogma do crescimento ilimitado saiu,
curiosamente, reforçado!! A depleção da natureza globalizou-se de forma brutal,
a par dos poluentes e das alterações climáticas.
Entretanto a actual revolução
técnico-científica, do século XXI, com base nas tecnologias da informação e
comunicação, atraiçoou a natureza pela terceira vez, ao fomentar a convicção de
que «os casulos de vida material urbana e suburbana são suficientes para a
realização humana» (WILSON, 2007: 22). Situação catalisada pela
pandemia de COVID-19, no âmbito do confinamento domiciliário de grande parte da
população, a nível global, que abriu espaço a novos patamares de alienação e
escravidão (in)voluntária ao estilo huxleyano do Admirável Mundo Novo. A
natureza humana é, todavia, mais poderosa – porque ancestral, arquetípica e
profunda – do que qualquer artifício material da vigente (mono)cultura
globalista. «Não está na natureza dos seres humanos serem frangos em
esplêndidos aviários.» (ibidem: 23). Nem está, decerto, na natureza
dos frangos!
É neste contexto, com laivos apocalípticos, que
surgem renovadas e fortificadas saudades do futuro, um futuro Paraíso
terrestre: «de valorização do jogo sobre o trabalho, de simpatia pela
cigarra» ao invés da formiga, do imperador com «características infantis
de atenção contínua, de ignorância de códigos, manuais e fronteiras, de
integração no sonho» (SILVA, 1989: 23-24). Mesmo que não se tenha «prova
nenhuma de que seja possível algum dia readquirirmos [a] nossa infância»,
segundo Agostinho da Silva: «puro artigo de Fé do nosso povo». Fé do nosso povo, dele, Agostinho da Silva, e
minha, se digno. Fé no Espírito Santo.
Pedro Cuiça
Domingo de Pentecostes · 31 de Maio de 2020 · webinar Irmânia
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