quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Iludências


Seis associações ambientalistas lançaram ontem um comunicado em defesa da proibição da caça à Rola-brava (Streptopelia turtur): a GEOTA, a Liga para a Protecção da Natureza (LPN), a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), a Quercus, o Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS) e a Associação Natureza Portugal/World Wild Fund (ANP/WWF). Segundo salientam, a população de Rola-brava «tem diminuído acentuadamente por toda a Europa nas últimas dezenas de anos», sobretudo devido à intensificação agrícola (corte de sebes, destruição de mosaicos agrícolas e uso indiscriminado de fitofármacos) e à caça excessiva em países como Itália, França, Espanha e Portugal. Ao que parece o problema foca-se na árvore – a caça que deve ser limitada a um «limite sustentável de abate» (?) – e desfoca-se da floresta – toda a complexidade de uma realidade global, com gritantes implicações locais –, numa aparente cegueira, surdez e/ou outros quaisquer condicionalismos, mormente (quem diria?) económicos... Até parece que a generalidade dos sistemas naturais e semi-naturais, tal como a maior parte das espécies selvagens, não se encontram ameaçados e que não é preciso ir mais fundo no(s) problema(s)/análise(s) e soluções!
O presidente do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) esteve hoje de manhã em directo na TSF para, de forma titubeante, dar a entender que a caça à Rola-brava até estará a ser bem gerida em Portugal. Ao que parece, nem poderia ser de outra forma!... Até parece que a caça é fundamental para manter os tão necessários equilíbrios ecológicos, num país rico em vastos e diversificados ecossistemas naturais e semi-naturais, como se os sistemas naturais não fossem auto-reguláveis! Aquecimento global, alterações climáticas, incêndios florestais, destruição da floresta autóctone e diversas espécies de fauna selvagem em vias de extinção, entre outros (demasiados) quejandos: que é isso, pá?
Ao que parece a conservação da natureza não passa de um mero paliativo – uma espécie de banho (ou banhada?) verde (greenwashing, em “amaricano”) –, com vista a perpetuar o insustentável sistema de crescimento económico exponencial e simultaneamente aquietar consciências… Até parece que não é necessário implementar uma efectiva protecção da natureza!
O que parece muitas vezes não é e o que é outras tantas não (trans)parece! Motivo pelo qual há imensa margem de manobra para superficiais abordagens “verdes” ou o seu oposto, frequentemente umas e outras apresentadas “a preto e branco”… e à brava. Por estas e por outras é que se torna difícil compreender que existam “superfícies comerciais” na Torre e, simultaneamente, seja "condicionado" o acto de andar a pé no planalto central da Serra da Estrela! Por estas e por outras é que as aparências continuam a iludir. Até parece!...


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