Aquilo que poderá ser encarado, à primeira
vista, como meros «aphorismes sur la lune
et autres pensées sauvages» é muito mais do que isso… Trata-se de viajar no
tempo presente, como se de um regresso ao passado se tratasse, e de uma forma
original, como que num retorno às origens. E, todavia, numa clara manifestação de saudades do futuro! Estar preparado para caminhar com elevados
níveis de atenção e... tornar-se tribal?
La Science du
concret
«Chaque chose sacrée doit être à sa place», notait avec profondeur
un penseur indigène (Fletcher 2, p. 34). […] L’invocation qui accompagne la traversée d’un cours d’eau se
divise en plusiers parties, correspondant respectivement au moment où les
voyageurs mettent les pieds dans l’eau, où ils les déplacent, où l’eau recouvre
complètement leurs pieds; l’invocation au vent separe les moments où la
fraîcheur est perçue seulement sur les parties mouillées du corps, puis ici et
là, enfim sur tout l’épiderme: «alors seulement, nous pouvons progresser en
sécurité» (id., pp. 77-78). Comme le
precise l’informateur, «nous devons
adresser une incantation spéciale à chaque chose que nous rencontrons, car
Tirawa, l’esprit suprême, reside en toutes choses, et tout ce que nous
recontrons en cours de route peut nos secourir… Nous avons été instruits à prêter attention à tout ce que nous voyons»
(id., pp. 73-81).
Ce souci d’observation exhaustive et d’inventaire systématique des
rapports et des liaisons peut aboutir, parfois, à des résultats de bonne ténue
scientifique […]
[LEVI-STRAUSS, 1962:
22-23]
En citant un extrait de ses carnets de route, Conklin a voulu
illustrer ce contact intime entre l’homme et le milieu, que l’indigène impose
perpétuellement à l’ethnologue:
«A 0600 et sous une pluie légère, Langba et moi quittâmes Parina en
direction de Binli… A Arasaas, Langba me demanda de découper plusiers bandes d’écorce,
de 10 x 50 cm, de l’arbre anapla kilala
(Albizia procera (Roxb.) Benth.) pour
nous préserver des sagsues. En frottant avec la face interne de l’écorce nos chevilles et nos jambes, déjà mouillées para la végétation dégouttante de
pluie, on produisait une mousse rose qui était un excellent répulsif. Sur le
sentir, près d’Aypud, Langba s’arrêta soudain, enfonça prestement son bâton en
bordure du sentier, et déracina une petite herbe tawag kûgun buladlad (Buchnera
urticifolia R. Br.), qui, me dit-il, lui servirait d’appât… pour un piège à
sangliers. Quelques instants plus tard, et nous marchions vite, il fit un arrêt
semblable pour déraciner une petit orchidée terrestre (difficile à repérer sous
la végétation qui la couvrait) appelée liyamliyam (Epipogum roseum (D. Don.) Lindl.), plante employée pour combattre
magiquement les insectes parasites des cultures. A Binli, Langba eut soin de ne
pas abîmer sa cueillette, en fouillant dans sa sacoche de palmes tressées pour
trouver du apug, chaux éteinte, et du
tabaku (Nicotiana tabacum L.), qu’il voulait offrir aux gens de Binli en
échange d’autres ingrédients à chiquer. Après une discussion sur les mérites
respectifs des variétés locales de bétel-poivre (Piper betle L.), Langba obtint la permission de couper des boutures
de patate douce (Ipomoea batatas (L)
Poir.) appartenant à deux formes végétatives différentes et distinguées comme kamuti inaswang et kamuti lupaw… Et dans le carré de camote, nous coupâmes 25 boutures
(longues d’environ 75 cm) de chaque variété, consistant en l’extrémité de la
tige, et nous les enveloppâmes soigneusement dans les grandes feuilles fraîches
du saging saba cultivé (Musa sapientum compressa (Blco.)
Teodoro) pour qu’elles gardent leur humidité jusqu’à notre arrivée chez Langba.
En route, nous mâchâmes des tiges de tubu
minama, sorte de canne à sucre (Saccharum
officinarum L.), nous nous arrêtâmes une fois pour ramasser quelques bunga, noix d’arec tombées (Areca catechu L.), et, une autre fois,
pour cueillir et manger les fruits, semblables à des cerises sauvages, de
quelques buissons de bugnay (Antidesma brunius (L.) Spreng.). Nous
atteignîmes le Mararim vers le milieu de l’après-midi, et, tout au long de
notre marche, la plus grande partie du temps avait passé en discussions sur les
changements dans la végétation au cours des dernières dizaines d’années.»
(Conklin I, pp. 15-17.)
[LEVI-STRAUSS, 1962:
18-19]
Cet appétit de connaissance objective constitue un des aspects les
plus négligés de la pensée de ceux que nous nommons «primitifs». S’il est
rarement dirigé vers des réalités du même niveau que celles auxquelles
s’attache la science moderne, il implique des démarches intellectuelles et des
méthodes d’observation comparables.
[LEVI-STRAUSS, 1962:
13]
Cette science du concret
devait être, par essence, limitée à autres résultats que ceux promis aux
sciences exactes et naturelles, mais elle ne fut pas moins scientifique, et ses
résultats ne furent pas moins réels.
[LEVI-STRAUSS, 1962:
30]
Mais n’est-ce pas que la pensée magique, cette
«gigantesque variation sur le thème du principe de causalité», […], se
distingue moins de la science par l’ignorance ou le dédain du déterminisme, que
par une exigence de déterminisme plus impérieuse et plus intransigeante, et que
la science peut, tout au plus, juger déraisonnable et précipitée?
«Considérée comme systéme de philosophie naturelle, elle [witchcraft] implique un théorie des
causes: la malchance résulte de la sorcellerie, travaillant de concert avec les
forces naturelles. […]»
Entre magie et science, la difference première serait donc, de ce
point de vue, que l’une postule un déterminisme global et integral, tandis que
l’autre opère en distinguant des niveaux don’t certains, seulement, admettent
des forms de déterminisme tenues pour inappicables à d’autres niveaux.
[LÉVI-STRAUSS, 1962: 23-24]
[LÉVI-STRAUSS, 1962: 23-24]
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A ciência do
concreto
“Cada coisa sagrada deve estar em seu lugar”, notava, com
profundeza, um pensador indígena (Fletcher 2, p. 34). […] A invocação que acompanha a travessia de um curso de água se
divide em várias partes, correspondendo, respectivamente, aos momentos em que
os viajantes põem os pés na água, em que mudam de lugar e em que a água lhes
cobre completamente os pés; a invocação ao vento separa os momentos em que o
frescor é percebido apenas pelas partes molhadas do corpo, depois aqui e ali, e
enfim, por toda a epiderme: “somente então podemos prosseguir com segurança” (id., pp. 77-78). Como deixa bem claro o
informante, “devemos dirigir um
encantamento especial a cada coisa que encontramos, pois Tirawa, o espírito
supremo, reside em todas as coisas e, tudo o que encontramos em nosso caminho
pode socorrer-nos (…). Fomos instruídos para prestar atenção a tudo o que vemos” (id., pp. 73, 81).
Esta preocupação da observação exaustiva e do inventário
sistemático das relações e das ligações pode levar, às vezes, a resultados de
boa ordem científica […]
[LEVI-STRAUSS, 1976:
30-31]
Citando um extrato de suas notas de viagem, Conklin quis ilustrar
esse contacto íntimo entre o homem e o meio, que o indígena impõe,
perpetuamente, ao etnólogo:
“A 0600 e sob uma chuva fina, Langba e eu deixamos Parina na
direção de Binli (…). Em Arasaas, Langba me pediu para cortar várias tiras de
casca, de 10 x 50cm, da árvore anapla
kilala (Abizzia procera (Roxb.)
Benth.) para preservar-nos das sanguessugas. Esfregando, com a face interna da
casca, os tornozelos e pernas, já molhados pela vegetação, gotejante da chuva,
formava-se uma espuma rósea, que era excelente repulsivo. No caminho, perto de
Aypud, Langba parou, de repente; enfiou, com presteza, seu bastão na beira do
caminho e arrancou, pela raiz, uma erva, tawag
kugun buladlad (Buchnera urticifolia
R. Br.) que, me disse ele, lhe serviria de isca (…) em uma armadilha para
javalis. Alguns instantes mais tarde, e nós andávamos depressa, ele fez uma
parada igual, para arrancar uma orquideazinha terrestre (difícil de ver sob a
vegetação que a cobria), chamada lyamliyam
(Epipogum roseum (D. Don.) Lindl.),
planta empregada para combater, magicamente, os insetos parasitas das culturas.
Em Binli, Langba teve o cuidado de não estragar sua apanha, remexendo uma
sacola de palmas trançadas, para encontrar apug,
cal extinta e tabaku (Nicotiana tabacum L.), que queria
oferecer à gente de Binli, em troca de outros ingredientes para mascar. Depois
de uma discussão sobre os respectivos méritos das variedades locais de
bétel-pimenta (Piper betle L.),
Langba obteve permissão para cortar mergulhias de batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Poir.),
pertencentes a duas formas vegetais diferentes e classificadas como kamuti inaswang e kamuti lupaw (…). E no canteiro de camote, cortamos 25 mergulhias (com cerca de 75cm de comprimento)
de cada variedade, retiradas da extremidade da haste, e as enrolamos,
cuidadosamente, em grandes folhas frescas de saging saba cultivado (Musa
sapientum compressa (Blco.) Teodoro) para que conservassem a umidade até
chegarmos de volta à casa de Langba. Pelo caminho, mastigamos hastes de tabu minama, espécie de cana-de-açucar (Saccharum officinarum L.); paramos uma
vez, para colher alguma bunga,
nozes-de-areca caídas (Areca catechu
L.) e, uma outra vez, para colher e comer os frutos, semelhantes a cerejas
selvagens, de algumas moitas de bugnay
(Antidesma brunius (L.) Spreng.).
Atingimos Mararim no meio da tarde e, ao longo de nosso caminho, a maior parte
do tempo foi passada com discussões sobre as mudanças da vegetação, no curso
das últimas dezenas de anos.” (Conklin I, pp. 15-17)
[LEVI-STRAUSS, 1976:
26-27]
Este apetite de conhecimento objectivo constitui um dos aspectos
mais negligenciados do pensamento daqueles que nós chamamos “primitivos”. Se é
raramente dirigido para realidades do mesmo nível que aquelas às quais se liga
a ciência moderna, implica diligências intelectuais e métodos de observação
semelhantes.
[LEVI-STRAUSS, 1976:
21]
Esta ciência do concreto
devia ser, essencialmente, limitada a outros resultados que os prometidos às
ciências exatas e naturais, mas não foi menos científica e seus resultados não
foram menos reais.
[LEVI-STRAUSS, 1976:
37]
Mas não será que o pensamento mágico, essa “gigantesca
variação sobre o tema do princípio da causalidade”, […], se distingue menos da
ciência pela ignorância ou pelo desprezo do determinismo, do que por uma
exigência de determinismo mais imperiosa e mais intransigente e que a ciência
pode, quando muito, julgar insensata e precipitada?
“Considerada como sistema de filosofia
natural, ela (witchcraft) implica uma
teoria das causas: a infelicidade resulta da feitiçaria, que trabalha em
combinação com as forças naturais. […]”
Entre magia e ciência, a diferença primordial
seria, pois, deste ponto de vista, que uma postula um determinismo global e
integral, enquanto que a outra opera distinguindo níveis, dos quais apenas
alguns admitem formas de determinismo tidas como inaplicáveis a outros níveis.
[LÉVI-STRAUSS, 1976: 31-32]
REFERENCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
LÉVI-STRAUSS, Claude. La pensée sauvage. Paris: Librairie
Plon, 1962, pp. 352. ISBN 978-2-266-03816-4
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1976, pp. 334.
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