Pedro Cuiça © Martinho da Arcada (Lisboa, 4/02/2017)
Depois de um interregno, de
mais de um mês, nas minhas caminhadas diárias por Lisboa, foi com uma enorme
emoção que palmilhei ontem à noite o trajecto entre o Espaço Salitre-Amaro e o
restaurante Martinho da Arcada. Para quem está habituado a andar a pé, pelo
menos uma dezena de quilómetros por dia, e cuja praxis se baseia na operatividade da “ciência do concreto”, estar
parado a recuperar de uma fasceíte plantar não é nada… “fácil” (!). Por isso a
extrema satisfação que vivenciei nesse trajecto, com os sentidos invulgarmente
despertos, não só pela liberdade do sedentarismo quebrado mas também pela
frescura da noite chuvosa, pelas luzes e pelo bulício metropolitano,… Ademais estando
esse percurso enquadrado no workshop de
Pedro Teixeira da Mota sobre "Iniciação ao Caminho Esotérico e Espiritual
de Fernando Pessoa", que decorreu, das 9.30 às 19.30, no Espaço
Salitre-Amaro. Para mim, tudo fez imenso sentido: após especulativas caminhadas
e metafóricos caminhos, fechar o dia com “chave de ouro” naquele que foi um dos
locais acarinhados pelo grandioso Pessoa, acompanhado por pessoas
extraordinárias. Bem hajam.
Pedro Cuiça © Martinho da Arcada (Lisboa, 4/02/2017)
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Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados,
Por quinta e por fonte,
Caminhais aliados.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por planos desertos
Sem ter horizontes
Caminhais libertos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por ínvios caminhos,
Por rios sem ponte,
Caminhais sozinhos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim.
Fernando Pessoa (24/10/1932)
in Poemas Esotéricos de Fernando Pessoa (Planeta
Manuscrito, 2009, p. 16)
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