O nosso caminho tem início
no Mundo dos Homens, passa por não sei quantos mundos dos deuses, termina fora
de todos os mundos, de homens e de deuses. Mas a iniciação é interactiva. Não por uma vez me terem iniciado,
percorro todo o caminho. O Caminho tem muitas estações e iniciado tenho de ser
de novo, ao passar de uma para outra. E cada início é diferente do outro.
Talvez não haja graduação. Metamorfose, somente; metamorfose de mim e do mundo.
(...) Na medida em que, atrás de cada porta do mundo, deixo uma das vestimentas
do «mim mesmo». Não há graduação para o «eu» que sob «mim» se oculta. (...) De
mundo em mundo, as portas vão-se estreitando; e tão estreita é a última, que,
por ela, só «eu» posso passar sem «mim»; «eu» a transponho, deixando-«me» para
trás. Quem se quer aventurar a semelhante aventura?
Eudoro
de Sousa (Mitologia, 1980)
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