A
designada “fase Charlie” de combate a incêndios florestais começou anteontem
(dia 1 de Julho) e estende-se até 30 de Setembro. A época mais crítica no
tocante a essa tipologia de incêndios levou, como já vem sendo hábito desde há
anos, à activação de diversos dispositivos de combate traduzidos sob a forma de
sonantes números: recursos humanos, veículos terrestres, meios aéreos,
postos de vigia e… milhões de euros! Será igualmente quase certo o repetitivo discurso da necessidade de promover a prevenção de incêndios, designadamente
através da “limpeza das matas”, sobretudo quando os tão ou mais sonantes valores
de área queimada forem aumentando, de forma mais ou menos alarmante, consoante
as condições climatéricas e a motivação dos incendiários! No ano passado, o
fogo consumiu mais de 145 mil hectares de “floresta” – a maior área ardida dos
últimos oito anos!
A
importância de uma cidadania ambiental responsável e pró-activa, que envolva
“todos nós”, devia tornar-se, por isso, tão óbvia quanto premente, com particular enfoque na prevenção e alerta de incêndios florestais (não esquecendo, a montante, o plantio de árvores). É neste contexto que
os cidadãos em geral e os pedestrianistas em particular poderão (e deverão)
desempenhar um significativo papel. Estes últimos ao palmilharem a pé,
sobretudo durante os fins-de-semana (mas não só), as mais diversas geografias
nacionais poderão constituir um meio privilegiado de vigilância e alerta;
ademais assente no voluntariado e, por isso, gratuito… A importância de um
rápido alerta de incêndios florestais (através dos números de telefone 117 ou 112) é primordial para um combate igualmente rápido e eficaz. Foi,
aliás, nesse contexto que a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal
(FCMP) e a Fédération Française de la Randonnée Pedestre (FFRP) lançaram, em
2005, a campanha de sensibilização, vigilância e adopção de comportamentos adequados
em caso de incêndios: Eco-Vigilância/Éco-Vigilance.
Os incêndios
originados por causas naturais constituíram uma das principais forças promotoras
da diversidade vegetal e do rejuvenescimento de bosques… Alguns biótopos como a
taiga e o chaparral ou matagal mediterrânico dependem dos fogos e existem
espécies perfeitamente adaptadas a esses eventos como Sequoiadendron giganteum ou Pinus
palustris. No entanto, em Portugal e em Espanha (tal como noutros países), o
elevado número de incêndios resultantes de causas não naturais e a destruição recorrente
de grandes áreas florestais ultrapassam enormemente a capacidade de regeneração
desses ecossistemas. A “tradição” dos incêndios florestais que, ano após ano,
assola a Ibéria e atinge dimensões de calamidade, a prosseguir da forma como
nos tem “habituado” (?) levará à desertificação de grande parte da península antes
do final do século! As paisagens não são estáticas, evoluem, transformam-se e…
«Puszcza, uma velha palavra polaca, significa
«floresta primitiva». Estendendo-se ao longo da fronteira entre a Polónia e a
Bielorússia, o meio milhão de hectares da Bielowieza Puszcza contêm o último
fragmento que resta de floresta selvagem e primitiva. Pense na floresta escura
e brumosa que lhe vinha ao espírito quando, em criança, lhe liam as histórias
de fadas dos irmãos Grimm. Aqui, freixos e tílias crescem a quase trinta metros
de altura, com as suas enormes copas coroando um mundo intrincado de abetos
europeus, fetos, vegetação pantanosa e cogumelos das mais variadas formas. Os
carvalhos, envoltos pelo musgo de meio milénio, crescem tanto neste lugar que
os grandes pica-paus guardam sementes de abeto nas fendas da casca. O ar
espesso e frio, está envolto em silêncio, brevemente interrompido pelo grasnar
de um quebra-nozes, pelo piar rouco de um mocho ou pelo uivo de um lobo, para
logo regressar à quietude.
A fragrância que se escapa das folhas e ervas apodrecidas acumuladas durante
milénios evoca as próprias origens da fertilidade. Na Bialowieza, a profusão de
vida deve muito a tudo o que está morto. Quase um quarto da massa orgânica
acima do solo encontra-se em vários estádios de apodrecimento – mais de 50
metros cúbicos de troncos e ramos decompostos por hectare, alimentando milhares
de espécies de cogumelos, líquenes, insectos, larvas e micróbios que não
existem nas bem ordenadas e controladas áreas arborizadas que noutros sítios
passam por florestas.
No seu
conjunto, estas espécies constituem uma despensa natural que alimenta doninhas,
martas, texugos, lontras, raposas, linces, lobos, veados, alces e águias.
Encontram-se aqui mais formas de vida do que em qualquer outro lugar do
continente – apesar de não haver montanhas circundantes ou vales abrigados que
formem nichos para espécies endémicas. A Bialowieza Puszcza é, simplesmente,
uma relíquia do que antes se estendia para leste até à Sibéria, e para poente
até à Irlanda.
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