A propósito da relação entre o espaço e o tempo (e
vice-versa) lembrei-me de uma curta mas significativa história que o padre
Marcelo Barros de Sousa – monge beneditino, escritor e teólogo brasileiro – contou
numa palestra realizada, no dia 14 de Janeiro deste ano, na Faculdade de Letras
de Lisboa, integrada num painel sob a temática “Ecologia e Espiritualidade”.
Será conveniente salientar que Marcelo Barros desenvolveu, no âmbito da
Teologia da Libertação, um ramo próprio que designou “Teologia da Terra”1.
Esta, para além de um marcante pluralismo, aberto a outras culturas e
religiões (mormente dos povos indígenas e negros brasileiros), distingue-se por
apresentar uma forte componente holística de ligação à Terra, às origens, a uma
espiritualidade ecológica2. Esse peculiar clérigo afirmou
precisamente, na aludida palestra, que descobriu «a espiritualidade ecológica não na comunidade beneditina mas nos
indígenas brasileiros e nas comunidades negras do candomblé».
Ora, feito este introdutório enquadramento, vamos então
a essa pequenina narrativa em jeito de parábola:
Numa viagem de carro, que decorria numa serra
brasileira, um chefe índio mandou parar o veículo, saiu para o exterior e quedou
expectante… O condutor branco, passado algum tempo, perguntou-lhe se estava com
algum problema; ao que o índio respondeu: você veio muito depressa e a minha
alma não conseguiu acompanhar. Estou à espera da minha alma. Quando eu perco a
alma, reconcilio-me, ligo-me à natureza, canto,… E vocês quando perdem a alma o
que fazem?
Notas:
1. Para conhecer o seu pensamento, destacamos, de entre a sua obra literária, A Secreta magia do caminho (Nova Era,
1997), O espírito vem pelas águas
(Loyola, 2008) e Teologia pluralista
libertadora intercontinental (Editora Paulinas, 2008).
2. Marcelo Barros teve o cuidado prévio de diferenciar “espiritualidade” e “espiritualismo”,
tal como “espiritual” e “espiritualizado”. Espiritualidade será a vida
conduzida pelo Espírito Santo, a vida verdadeira… De que decorre a questão:
como ter uma vida verdadeira numa Terra destruída [ou significativamente
adulterada…]?
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