Os dois acidentes ocorridos na ilha da Madeira, em
Junho passado, no âmbito da prática de pedestrianismo e que se saldaram na
morte de três “turistas alemães” mereceram o destaque dos media1 e, mais uma vez, vieram lembrar as “estatísticas”,
tantas vezes ignoradas e de difícil confirmação, que estimam o falecimento na
região de quatro a seis praticantes anualmente. Tendo em conta as ditas “estatísticas”,
avançadas por órgãos de informação, que apontam para cerca de quatro a quatro
mil e quinhentas pessoas a caminhar por dia, durante a época alta, talvez se
chegue à conclusão que o número de mortes não será tão elevado, como possa parecer
à primeira vista, se comparado com a prática de pedestrianismo em outras
regiões como, por exemplo, a área francesa do Maciço do Monte Branco de que se
conhecem estatísticas fidedignas e disponibilizadas todos os anos. Mas não nos
move aqui o intuito de analisar ou sequer tecer quaisquer considerandos acerca
da fenomenologia dos incidentes e/ou dos acidentes na conjuntura da prática do
pedestrianismo na Região Autónoma da Madeira, ainda para mais quando já existem
estudos sobre a matéria que ultrapassam o mero nível de singelos comentários2.
No que concerne a incidentes e/ou acidentes na
prática de pedestrianismo, em geral (portanto independentemente dos
circunstancialismos locais), gostaríamos de salientar, isso sim, a importância
de investir fortemente na prevenção/formação. Os praticantes devem possuir conhecimentos
e experiência suficientes, tal como disporem de equipamento adequado, para as
actividades em que se envolvem e os turistas devem ser enquadrados por
profissionais devidamente certificados e que garantam a qualidade, nomeadamente
em termos de segurança, dos serviços que prestam. Por outro lado, os percursos pedestres balizados devem estar nas melhores condições, desde logo no tocante ao número, visibilidade e qualidade das marcas. E escusado seria dizer que
tanto pedestrianistas quanto turistas deveriam possuir seguro para a prática da
modalidade não se desse o caso de muitas vezes isso não acontecer! Por vezes
tal sucede porque os envolvidos são induzidos em erro ao, considerando o
pedestrianismo como fácil, confundirem os conceitos de dificuldade e de
perigosidade (tal como perigos e riscos) e, nesse contexto, pensarem ser
desnecessário satisfazer um conjunto de requisitos para uma prática (mais) “segura”
dessa actividade!! Por isso, encontrando-se em percursos tecnicamente fáceis,
como uma levada, sujeitam-se frequentemente a perigos óbvios, como queda de
pedras e/ou dos próprios praticantes, sem se darem conta da situação em que estão
envolvidos!!!
No campo de acção da prevenção gostaríamos de destacar o exemplo
do projecto Montañas Seguras, actualmente denominado “Montaña Segura”, que se
focou na prevenção de acidentes em meio montanhoso e que, entre outras
iniciativas, resultou na publicação de diversos folhetos informativos,
designadamente no âmbito do pedestrianismo, e na elaboração do MIDE – Método para la Información De Excursiones. Dentro dessa temática destacamos igualmente a
publicação de La Seguridad en Montaña3, resultante dos trabalhos desenvolvidos durante o VII Seminario de Parques Nacionales y Deportes de Montaña que decorreu, de 15 a 17 de Novembro de 2013, no Centro Nacional de
Educación Ambiental de Valsaín (Segóvia – Espanha). O evento, organizado pela
Federación Española de Deportes de Montaña y Escalada (FEDME), em colaboração
com o Organismo Autónomo de Parques Nacionales, reuniu 64 especialistas
(representantes de 15 Comunidades Autónomas), entre montanheiros e gestores
ambientais, que estabeleceram algumas linhas mestras em matéria de segurança.
Notas:
1. Surgiram notícias em vários suportes informativos, como a TVI, o Diário de Notícias ou o Observador, entre outros.
2. Nesse contexto, destacamos a tese
de mestrado Turismo e Riscos na Ilha da Madeira – Avaliação, Percepção, Estratégias de Planeamento e Prevenção (2010), da autoria de Daniel Márcio
Fernandes Neves.
3. Documento na versão inglesa: Safety in the Mountains.
3. Documento na versão inglesa: Safety in the Mountains.
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