sábado, 21 de abril de 2018

Pássaros Voam

...voam e também andam

«Entre. Respire e ganhe asas para voar.
A presente exposição de Ruben Art, feita de inquietação e premência, reúne um conjunto de obras com uma temática comum e recorrente.
A cor, pura e decidida, fixa no espaço a memória ancestral e mitológica, ao mesmo tempo que cada traço abre uma nova e renovada oportunidade de leitura.
Anunciando e anunciando-se, o pássaro, elemento fulcral da obra, mensageiro dos deuses, símbolo de leveza e liberdade, liga a terra e o céu, não através do voo, mas através do próprio olhar.»
(texto d’A Exposição Pássaros voam)

Ruben Art ©  Escultura Verde - Walk Like a Blackbird


A primal experiência perceptiva numa primeira aproximação. A visualização imediatista das diversas peças expostas numa fulcral abertura às emoções. A busca da mera imagem eidética ausente, dentro do possível, de associações mentais e, daí, preservada de contaminações simbólicas. Só depois, numa segunda volta, a abertura à livre interpretação do simbolismo. A combinação de formas e de cores despoletam emoções mas também encerram significados. Será essa transferência simbólica da emoção que permitirá definir este tipo de arte?
Pintura esquemática de realidades imaginais expressas através da simplificação e/ou da unidade do efeito principal. Arte simbólica que indiciará uma tendência de progressão do “esquema” na direcção da abstracção ou, quiçá, daí recorrente. Um voo para fora da realidade, para novas ou renovadas realidades. Um domínio notável do absoluto, através da manipulação de elementos fundamentais da estrutura do universo físico, numa pureza mística reiteradamente sob a forma de pássaros, por vezes à lua. É esta tensão entre o realismo esquemático e o abstracionismo, enquanto derivados da natureza, que surge sob a forma pura ou essencial, despida de elementos acessórios.
O facto de sinais concretos poderem exprimir estas imagens – composições de linhas, cores, volumes, etc. – não implica a não utilização da palavra abstracto. Serão esses intensos elementos, de forma e cor, que conferem a estas obras de arte o seu poder estético. Esta nossa leitura resulta não só do produto final expressivo, mas também das origens e dos processos da sua criação que deduzimos; estádios que não deverão ser separados, a nosso ver, numa obra de arte. Nas palavras de Ruben, a sua arte é uma «simbiose do expressionismo alemão com a cultura pop e de rua (grafitti
Impressionante é também a vivacidade das cores e a sua abordagem. Aqui não estamos perante a harmonia ou o confinamento a um conjunto de cores restrito, nem sequer “dependentes” de um tom dominante. O surpreendente segredo residirá no aglomerado vibrante de oposições primárias, revelando mais a riqueza da saturação do que a subtileza da transição. Cores separadas ou até extravasando os intensos e salientes traçados negros das formas.
O contraste entre o vitalismo manifesto nos títulos das obras, sobre os actos/acções de voar e de andar, e as estáticas representações dos pássaros também despertou a nossa atenção. Tal remeterá, mais uma vez, para a arte geométrica, de formas invariavelmente rígidas: aquilo que, ao fim ao cabo, Wilhelm Worringer (1881-1965), identificou como “tendência para a abstracção”. Esta tendência para o abstracionismo de Ruben, a que já tínhamos aludido, ao invés de divagar em torno de experimentalismos livres, trata-se todavia de um estilo pictórico de uma uniformidade – na diversidade – e coerência notáveis. Coerência, desde logo, na temática tendo por elemento base “o pássaro”, com destaque para o black bird, ademais de um estilo muito próprio.
A arte, digna desse nome, implica sempre um acto de criação original: a invenção de uma realidade que antes não existia. A função essencial da arte manifestar-se-á, portanto, num padrão efectivo, resultante da intuição pessoal do artista, que não constituirá expressão estética coerente antes de este ter encontrado a sua forma expressiva. A arte é portanto muito mais do que o processo técnico de utilização de meios através dos quais se reproduz ou representa: o quê? A arte tem por fim revelar não o objecto em si mesmo mas o significado que passa a assumir quando um olhar singular sobre ele pousa. O enorme olhar que cada pássaro retribui a quem o vê também revelará um outro sentido/significado ao/do próprio observador? Vão e vejam!
Esta é uma exposição a visitar e a revisitar, a ver e rever. E não é certamente porque os pássaros também andam, o que muito nos apraz…

Ruben Art ©

INFORMAÇÕES
Local: Edifício 4 de Outubro – Rua da República nº 70, Loures
Período de exposição: 19 de Abril a 30 de Junho de 2018
Horário: terça a sexta-feira (10.00-12.00/13.00-18.00) e sábados (9.00-14.00); encerra aos domingos, segundas e feriados
Entrada Gratuita

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