sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Caminhadas Higiénicas

 



Quando publiquei o post Cuidem-se e cuidem, a 16 de Março, no começo da pandemia de Covid-19, destaquei a importância de «implementar uma alimentação adequada, exercício físico moderado e as necessárias horas de sono, usufruir de ar livre e radiação solar» para fortalecer o sistema imunitário e enfrentar os tempos que aí vinham. Nesse contexto, destaquei o artigo Coronavirus and the Sun: A lesson from the 1918 Influenza Pandemic, de Richard Hobbay, no qual é dada uma especial relevância ao ar livre e à radiação solar no combate a pandemias virais: «A combination of fresh air and sunlight seems to have prevented deaths among patients; and infections among medical staff. There is scientific support for this. Research shows that outdoor air is a natural disinfectant. Fresh air can kill the flu vírus and other harmful germs. Equally, sunlight is germicidal and there is now evidence it can kill the flu vírus.»

Foi, pois, com particular alegria que constatei, no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a alusão a um artigo científico, da autoria de portugueses, que demonstra o potencial da radiação UV na inactivação do SARS-CoV-2: Potential of Solar UV Radiation for Inactivation of Coronavirus Family Estimated from Satellite. Neste contexto, tomamos a liberdade de transcrever, na íntegra, a notícia publicada, no dia 23 de Novembro, no site do IPMA:

 

«O IPMA informa que foi recentemente publicado na revista internacional “Photochemistry and Photobiology”, um artigo científico que demonstra o potencial da radiação UV na inativação do SARS-CoV-2 (Covid-19): Potential of Solar UV Radiation for Inactivation of Coronaviridae Family Estimated from Satellite.

Trata-se do primeiro trabalho publicado numa revista científica internacional sobre a relação do SARS-CoV-2 (Covid-19) e um elemento meteorológico, neste caso a radiação solar. A investigação que arrancou durante o confinamento, de Março e Abril, resultou da cooperação entre o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto (CINTESIS), Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC) e a Universidade de Medicina Veterinária de Viena (Áustria). Pretende contribuir para orientação de políticas públicas no combate à propagação do vírus.

Estes resultados mostram que a radiação solar UV tem um elevado potencial para inativar esses vírus, dependendo fortemente da localização geográfica e da estação do ano. Nas regiões tropicais e subtropicais (ex.: São Paulo, 23,5°S), a fração diária de sobrevivência do vírus é inferior a 0,01 % durante todo o ano, enquanto que em latitudes mais elevadas (ex.: Reiquiavique, 64°N) essa fração apenas pode ser encontrada em junho e julho.

Por exemplo, em Lisboa e no período de março, seriam necessárias entre 3 a 10 horas para o vírus ser eliminado pela radiação UV; por outro lado, no Inverno temos tempos para esterilização superiores a 20 horas, ou seja, um dia não chega para esterilizar superfícies no exterior.

Com este estudo - e todos os trabalhos feitos sobre a influência dos fatores meteorológicos sobre o novo coronavírus – prova-se ser a radiação UV efetiva na inativação do vírus.

Estes dados têm importantes implicações potenciais práticas, em termos de recomendações de Saúde Pública, de forma a minimizar o potencial de contágio através de diferentes superfícies e mesmo no potencial de contagiosidade do SARS-CoV-2.
É ainda argumento para potencial recomendação à população para poder usufruir de exposição solar nesta época de Outono, Inverno e até início da Primavera, altura em que os níveis do Índice UV raramente são maiores que 5, pelo que não são nocivos para a pele ou de risco significativo para aumento de números de Cancros da Pele, nomeadamente para exposições em tempo moderado. Adicionalmente poderia haver recomendação para colocar o maior número de objetos, utensílios, roupas, entre outros, à exposição solar que possa ocorrer nestes meses. O estímulo de caminhadas ao ar livre, em particular em dias de Sol, é de incentivar pelos benefícios psicológicos e físicos, em particular neste tempo de Covid 19.

Adicionalmente a este artigo é de referir que, neste ano de 2020 os níveis do Índice UV foram muito elevados  durante todo o mês de Maio (8 a 10, numa escala de 0 a 11, na maioria das localidade de Portugal (Continente e Ilhas) altura em que se assistiu a forte redução do número de casos Covid 19 e redução da letalidade ao mesmo, mantendo-se estes níveis baixos ate meados de Setembro, altura em que os níveis de UV reduziram significativamente. Desde essa altura até esta data, os níveis de UV tiveram naturalmente uma redução significativa em cerca de 60%, período em que se assistiu ao recrudescimento do número de casos e taxa de mortalidade. Naturalmente que esta incidência tem a ver com múltiplos fatores, nomeadamente encerramento ou abertura de atividade económica, abertura de escolas, etc.

Os autores do estudo foram: Fernanda Carvalho (IPMA), Diamantino Henriques (IPMA), Osvaldo Correia (Dermatologista, Presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo, Professor Afiliado da Faculdade de Medicina do Porto; Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto – CINTESIS) e Alois Schmalwieser (Universidade de Medicina Veterinária de Viena, Áustria).»



NOTA: o destaque a negrito de algumas palavras é da nossa "autoria".

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