sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Caminhadas Higiénicas (II)

 

7:00

Mal sabia eu que estaria numa espécie de “semi-clausura”, desde março, e agora confinado em casa num estrito isolamento profiláctico de 14 dias!... Na próxima terça-feira, quando finalizar a “quarentena”, já poderei ir "APANHAR AR", dizem as autoridades: num passeio pedonal e higiénico de curta duração e perto de casa. Também poderia ir passear o cão, se o tivesse, mas já me basta eu! E eu, com a vontade que ando de andar, andaria até ao fim do mundo em BUSCA DE VASTOS ESPAÇOS DE AR LIVRE. É nestas circunstâncias que damos MAIS VALOR À LIBERDADE?

 

Pedro Cuiça (4 de Março de 2020) © Lisboa

11:00

Para minha surpresa, deram-me hoje alta e poderei finalmente sair do lazareto em que se transformou a minha casa… Há exactamente cinco anos escrevi o seguinte post no Facebook: «Há quem leve o cão a passear mas, no meu caso, fui eu que me levei hoje a passear pela multifacetada e cosmopolita Lisboa. Deve ter sido porque me estava a sentir algo engaiolado [no trabalho], como um animal doméstico (mais precisamente aquilo que os anglo-saxónicos chamam “pet”)! Agora, depois de uns bons quilómetros de caminhada, estou pleno de mundo e de fantástica luz invernal… apesar do jardim que me surpreendeu em Al-fama se encontrar à sombra.»


 Pedro Cuiça (27 de Novembro de 2015) © Jardim das Pichas Murchas (Lisboa) 

19:00

Faz hoje também exactamente cinco anos que publiquei no Face um poético hino de Miguel Torga ao poder da… liberdade?

 

«MENIR

Salve, falo sagrado,

Erecto na planura

Ajoelhada!

Quente e alada

Tesura

De granito,

Que, da terra emprenhada,

Emprenhas o infinito!»

Miguel Torga in Diário XIV, Coimbra, 1995, p. 1461 (Outeiro – Monsaraz, 31 de Maio de 1986)


OBOD © Menir do Outeiro (Monsaraz - Alentejo) 


Caminhadas Higiénicas

 



Quando publiquei o post Cuidem-se e cuidem, a 16 de Março, no começo da pandemia de Covid-19, destaquei a importância de «implementar uma alimentação adequada, exercício físico moderado e as necessárias horas de sono, usufruir de ar livre e radiação solar» para fortalecer o sistema imunitário e enfrentar os tempos que aí vinham. Nesse contexto, destaquei o artigo Coronavirus and the Sun: A lesson from the 1918 Influenza Pandemic, de Richard Hobbay, no qual é dada uma especial relevância ao ar livre e à radiação solar no combate a pandemias virais: «A combination of fresh air and sunlight seems to have prevented deaths among patients; and infections among medical staff. There is scientific support for this. Research shows that outdoor air is a natural disinfectant. Fresh air can kill the flu vírus and other harmful germs. Equally, sunlight is germicidal and there is now evidence it can kill the flu vírus.»

Foi, pois, com particular alegria que constatei, no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a alusão a um artigo científico, da autoria de portugueses, que demonstra o potencial da radiação UV na inactivação do SARS-CoV-2: Potential of Solar UV Radiation for Inactivation of Coronavirus Family Estimated from Satellite. Neste contexto, tomamos a liberdade de transcrever, na íntegra, a notícia publicada, no dia 23 de Novembro, no site do IPMA:

 

«O IPMA informa que foi recentemente publicado na revista internacional “Photochemistry and Photobiology”, um artigo científico que demonstra o potencial da radiação UV na inativação do SARS-CoV-2 (Covid-19): Potential of Solar UV Radiation for Inactivation of Coronaviridae Family Estimated from Satellite.

Trata-se do primeiro trabalho publicado numa revista científica internacional sobre a relação do SARS-CoV-2 (Covid-19) e um elemento meteorológico, neste caso a radiação solar. A investigação que arrancou durante o confinamento, de Março e Abril, resultou da cooperação entre o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto (CINTESIS), Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC) e a Universidade de Medicina Veterinária de Viena (Áustria). Pretende contribuir para orientação de políticas públicas no combate à propagação do vírus.

Estes resultados mostram que a radiação solar UV tem um elevado potencial para inativar esses vírus, dependendo fortemente da localização geográfica e da estação do ano. Nas regiões tropicais e subtropicais (ex.: São Paulo, 23,5°S), a fração diária de sobrevivência do vírus é inferior a 0,01 % durante todo o ano, enquanto que em latitudes mais elevadas (ex.: Reiquiavique, 64°N) essa fração apenas pode ser encontrada em junho e julho.

Por exemplo, em Lisboa e no período de março, seriam necessárias entre 3 a 10 horas para o vírus ser eliminado pela radiação UV; por outro lado, no Inverno temos tempos para esterilização superiores a 20 horas, ou seja, um dia não chega para esterilizar superfícies no exterior.

Com este estudo - e todos os trabalhos feitos sobre a influência dos fatores meteorológicos sobre o novo coronavírus – prova-se ser a radiação UV efetiva na inativação do vírus.

Estes dados têm importantes implicações potenciais práticas, em termos de recomendações de Saúde Pública, de forma a minimizar o potencial de contágio através de diferentes superfícies e mesmo no potencial de contagiosidade do SARS-CoV-2.
É ainda argumento para potencial recomendação à população para poder usufruir de exposição solar nesta época de Outono, Inverno e até início da Primavera, altura em que os níveis do Índice UV raramente são maiores que 5, pelo que não são nocivos para a pele ou de risco significativo para aumento de números de Cancros da Pele, nomeadamente para exposições em tempo moderado. Adicionalmente poderia haver recomendação para colocar o maior número de objetos, utensílios, roupas, entre outros, à exposição solar que possa ocorrer nestes meses. O estímulo de caminhadas ao ar livre, em particular em dias de Sol, é de incentivar pelos benefícios psicológicos e físicos, em particular neste tempo de Covid 19.

Adicionalmente a este artigo é de referir que, neste ano de 2020 os níveis do Índice UV foram muito elevados  durante todo o mês de Maio (8 a 10, numa escala de 0 a 11, na maioria das localidade de Portugal (Continente e Ilhas) altura em que se assistiu a forte redução do número de casos Covid 19 e redução da letalidade ao mesmo, mantendo-se estes níveis baixos ate meados de Setembro, altura em que os níveis de UV reduziram significativamente. Desde essa altura até esta data, os níveis de UV tiveram naturalmente uma redução significativa em cerca de 60%, período em que se assistiu ao recrudescimento do número de casos e taxa de mortalidade. Naturalmente que esta incidência tem a ver com múltiplos fatores, nomeadamente encerramento ou abertura de atividade económica, abertura de escolas, etc.

Os autores do estudo foram: Fernanda Carvalho (IPMA), Diamantino Henriques (IPMA), Osvaldo Correia (Dermatologista, Presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo, Professor Afiliado da Faculdade de Medicina do Porto; Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto – CINTESIS) e Alois Schmalwieser (Universidade de Medicina Veterinária de Viena, Áustria).»



NOTA: o destaque a negrito de algumas palavras é da nossa "autoria".