Pedro Cuiça © a pé (Praia de Faro, Agosto de 2013)
Catarse, sim!... Ou uma espécie de catarse que, para o caso, vai
dar ao mesmo! Kátharsis enquanto
libertação ou superação de um ciclo, enquanto purificação ou renovação
espiritual e/ou, apenas e tão somente, como reflexão de fim/início de nova
viagem/voltinha neste ci(r)c(u)lo que é a vida.
Nestas alturas da roda do ano é costume as pessoas fazerem balanços
e/ou planos ao estilo “ano novo, vida nova”. Diremos, contudo, “nem tanto ao
mar, nem tanto à terra”! O que nos move não são datas calendarizadas e nas
quais amestradamente se reage sob maneirismos estandardizados e, por isso, supostamente
adequados, e muito menos fazer votos inconsequentes de pretensas mudanças de
formas de vida. Portanto, mais do que o final/início de ano, torna-se para nós significativo
salientar o facto de o blogue Pedestris ter cumprido, no passado
dia 15 de Novembro, cinco anos de existência neste espaço virtual que é a
Internet. Ou nem isso: esta tratar-se-á de uma catarse (ou espécie de catarse) pedestre talvez resultante, simplesmente, de uma mera sensação (na
verdade, convicção) de que algo está a acabar e outro tanto (ou mais?) a
começar…
O Pedestris surgiu como resultado de um «sentimento de que um
novo “ciclo pedestre”» se abria. Como
foi escrito na “inauguração” do blogue: «Depois de apresentar, em jeito de fim
de ciclo, Ecosofia PC – Um ensaio de andanças mais além», em Outubro de
2013, «na Cooperativa Terra Chã, situada nas faldas da Serra de Candeeiros (a
ancestral Serra da Lua), e dos eventos que se lhe seguiram, tornou-se inadiável
dar, por fim [ou início], mais este passo… Deve ser por estar uma Lua Cheia
fantástica :)».
Agora que estamos em quasi Lua Nova e que, passados cinco anos, voltamos a registar um inequívoco sentimento
de mudança, consideramos que chegou a altura de manifestar o despontar de «novos
caminhos» e que, à semelhança de 2013, fazemos votos de que estes possam ser ainda
«mais desafiantes e estimulantes». Desiderato que, aparentemente, não será
fácil de concretizar, tendo em consideração as excepcionais inovações das
formas de fazer, sentir e pensar a prática pedestre (tal como a teoria) no
ciclo que agora de certo modo acaba. Na verdade, esse é um terminus apenas aparente porque não menosprezamos e muito menos rejeitamos
tudo aquilo que está inerente ao ciclo anterior, tal como aos outros ciclos
associados a quatro décadas (mais precisamente 39 anos) de actividades de ar
livre em geral e de pedestrianismo/montanhismo em particular. Assumimos toda a
carga de experiências e de conhecimentos, tal como dos diferentes estilos de fazer/estar,
mas não nos esquivamos a renovadas “levezas” do ser e, sobretudo, ao imprescindível
entusiasmo… Ademais quando nem sequer rejeitamos revivalismos, mormente sob
outras (ou até as mesmas) roupagens.
O Pedestris irá, por isso (e muito mais), continuar a ser um
blogue sobre e para “Caminheiros Andantes”, aqueles que andam ou demandam andar
encantados… Sobre a Arte de Caminhar numa perspectiva holotrópica e ecosófica,
andar no mais profundo contacto com/ser a Natureza. No entanto, e de certa
maneira, ao contrário do que aconteceu no dealbar do ciclo anterior,
torna-se-nos difícil, senão impossível, precisar os caminhos ou sequer esboçar os
rumos que iremos agora palmilhar. Talvez isso se deva a que, ao contrário do
anterior luminoso plenilúnio, nos encontramos agora na simulada escuridão de
uma Lua Nova! Caminhos, desta feita, mais misteriosos, metafísicos e/ou que
almejam ir par’além da Natureza? Ou, então, ainda mais concretos, terra-a-terra
e exigentes a nível corporal? Ou, ainda,
a plena liberdade de vivenciar a congruência de abordagens paradoxais? Quem
sabe?
Diremos que só nos resta aguardar para ver quais as novidades que,
a nível profissional e associativo (e também em solitário!), (d)aí (ad)virão. De
resto, nenhuma dúvida nos assalta de que esses caminhos, sejam eles quais
forem, irão continuar a constituir uma «renovada motivação para escrever e
partilhar vivências». Escrever (n)o Pedestris resulta de uma íntima necessidade
intelectual de reflexionar e teorizar acerca do Caminhar/Caminho(s)… Trata-se,
pois, de uma actividade eminentemente solitária, uma espécie de monólogos que,
por vezes, até podem adquirir a faceta de catarse :) Daí que pouco ou nada
contribua para a nossa motivação, satisfação ou até gozo, que reiteradamente
nos move, o número de leitores que tenhamos ou possamos vir a ter. Não iremos,
todavia, concluir esta catarse pedestre
sem deixar de saudar os nossos (poucos) seguidores indefectíveis e todos
aqueles que encontraram ou venham a encontrar no nosso “escrevinhar” algo de
útil, ou até de inútil, ao seu “por-vir”. Bem hajam!
Ana Margarida Cuiça © mais do que a pé também a nado
(Praia de Faro, 27 de Dezembro de 2018)
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