«Uma boa definição de homem, para além de suas limitações físicas, seria a de que é um ser de embrionária liberdade, cujo dever, cujo destino e cuja justificação é o da liberdade plena; plena para ele, plena para os outros, plena para os animais, plenas para as ervas, plena talvez até para seixo e montanha.»
Agostinho da Silva (1999: 262-263 in MARTINS, 2016: 112)
Um enquadramento filosófico sobre algumas evoluções marcantes no
pensamento humano, no âmbito da estética e da ética, que se traduziram, em três
séculos, numa mudança radical de paradigma: da alta montanha horrível à beleza
das montanhas. Das paisagens montanhosas, em segundo plano, dos quadros de Leonardo
da Vinci, passando pelas montanhas sagradas de Nicholas Konstantinovich Roerich,
às abordagens holísticas da paisagem de Jan C. Smuts. Das éticas
antropocêntricas às correntes de pensamento e às éticas ambientais com notórias
influências na origem do montanhismo: os pré-romantismo e o romantismo, o
transcendentalismo de Concord, a preservação da natureza de John Muir, a ética
da Terra de Aldo Leopold e a ecologia profunda de Arne Naess. Do alpinismo/montanhismo
enquanto actividade de ascender/escalar montanhas aos multifacetados desportos
de montanha…
Um caminho percorrido para chegar à questão: qual a feição do sentir/pensar
(como um)a montanha nos dias de hoje? Uma reflexão não só pertinente como
fundamental face às alterações climáticas com que temos de nos confrontar. A
guerra-pacifista actual passará inevitavelmente pela preservação das montanhas
e esse é o grande desafio lançado pela Organização das Nações Unidas no Dia
Internacional das Montanhas 2018 sob o mote “As montanhas são essenciais para
as nossas vidas”.
«Um uivo vindo das profundezas ecoa de orla em orla rochosa, rola
montanha abaixo e extingue-se na longínqua escuridão da noite. É a erupção de
uma dor selvagem e desafiadora, cheia de desdém por todas as adversidades do
mundo. (…) por trás dessas óbvias esperanças e medos reside um significado mais
profundo que só a montanha conhece. Só a montanha viveu o bastante para escutar
objectivamente o uivo do lobo.»
Aldo LEOPOLD (2008: 128)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
LEOPOLD, Aldo. Pensar
como uma Montanha. Águas Santas: Edições Sempre-em-Pé, 2008. ISBN
978-972-8870-10-2
MARTINS, Pedro. A
Liberdade Guiando o Povo. Sintra: Zéfiro, 2016, pp. 190. ISBN
978-989-677-138-6
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