terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Pensar (como um)a Montanha



«Uma boa definição de homem, para além de suas limitações físicas, seria a de que é um ser de embrionária liberdade, cujo dever, cujo destino e cuja justificação é o da liberdade plena; plena para ele, plena para os outros, plena para os animais, plenas para as ervas, plena talvez até para seixo e montanha
Agostinho da Silva (1999: 262-263 in MARTINS, 2016: 112)

Um enquadramento filosófico sobre algumas evoluções marcantes no pensamento humano, no âmbito da estética e da ética, que se traduziram, em três séculos, numa mudança radical de paradigma: da alta montanha horrível à beleza das montanhas. Das paisagens montanhosas, em segundo plano, dos quadros de Leonardo da Vinci, passando pelas montanhas sagradas de Nicholas Konstantinovich Roerich, às abordagens holísticas da paisagem de Jan C. Smuts. Das éticas antropocêntricas às correntes de pensamento e às éticas ambientais com notórias influências na origem do montanhismo: os pré-romantismo e o romantismo, o transcendentalismo de Concord, a preservação da natureza de John Muir, a ética da Terra de Aldo Leopold e a ecologia profunda de Arne Naess. Do alpinismo/montanhismo enquanto actividade de ascender/escalar montanhas aos multifacetados desportos de montanha…
Um caminho percorrido para chegar à questão: qual a feição do sentir/pensar (como um)a montanha nos dias de hoje? Uma reflexão não só pertinente como fundamental face às alterações climáticas com que temos de nos confrontar. A guerra-pacifista actual passará inevitavelmente pela preservação das montanhas e esse é o grande desafio lançado pela Organização das Nações Unidas no Dia Internacional das Montanhas 2018 sob o mote “As montanhas são essenciais para as nossas vidas”.


«Um uivo vindo das profundezas ecoa de orla em orla rochosa, rola montanha abaixo e extingue-se na longínqua escuridão da noite. É a erupção de uma dor selvagem e desafiadora, cheia de desdém por todas as adversidades do mundo. (…) por trás dessas óbvias esperanças e medos reside um significado mais profundo que só a montanha conhece. Só a montanha viveu o bastante para escutar objectivamente o uivo do lobo
Aldo LEOPOLD (2008: 128)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEOPOLD, Aldo. Pensar como uma Montanha. Águas Santas: Edições Sempre-em-Pé, 2008. ISBN 978-972-8870-10-2
MARTINS, Pedro. A Liberdade Guiando o Povo. Sintra: Zéfiro, 2016, pp. 190. ISBN 978-989-677-138-6


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