terça-feira, 18 de dezembro de 2018

O Sentimento da Montanha


Rui Calado © Biblioteca Municipal de Lagoa (14/12/2018)

«O montanhismo (…), para além da componente física, será também uma profunda experiência emocional, uma atracção pela liberdade dos vastos espaços verticais, pela grandiosa beleza do mundo mineral, pela simplicidade e rusticidade. Subir montanhas será igualmente um meio de (re)ligação à natureza, uma forma de transcendência… (…) “Um fraco desejo de regressar lá ao alto surge um dia em nós. Assim recomeça o encantamento.”»
Pedro Cuiça (2010: 27)

A tertúlia sobre O Sentimento da Montanha: do imanente ao transcendente, que decorreu no final do dia 14 de Dezembro na Biblioteca Municipal de Lagoa (Algarve), resultou de uma proposta (melhor seria dizer “desafio”), por parte da Dra. Maria Luísa Francisco, para abordarmos a vertente “espiritual” do montanhismo. Um desafio certamente, tendo em conta essa forma pouco “usual” de aproximação a ambas as temáticas, fenómeno que aliás já tínhamos tido a oportunidade de constatar aquando da apresentação de semelhante “matéria” (!) na Casa do Fauno.
A abordagem em causa iniciou-se através de um enquadramento filosófico efectuado numa perspectiva assumidamente ocidental, tendo em conta que o montanhismo teve origem nos Alpes e os seus paradigmas foram exportados para o resto do mundo, com claras influências na sua praxis até aos dias de hoje. O Oriente não tem, de todo, o exclusivo da “espiritualidade” e, nessa matéria, foi explanada uma perspectiva do montanhismo consentânea com a riqueza “espiritual” do extremo Ocidente que é esta Finisterra ibérica ainda hoje conhecida por Lusitânia, mormente à luz daquilo que é costume designar por “filosofia portuguesa”. Da Montanha perfeita ao foco no cume enquanto ara dea, do sacro ofício de ascender montanhas às razões que animam essa actividade do profano (vale) ao sagrado (montanha) até ao “porquê?” e ao “para quê?” subir montanhas. Uma via que nos conduziu ao “como?” fazer essas prática com base em três conceitos-chave: imaginação, jogo e totalidade. Por fim, a/o Montanha(ismo) enquanto metáfora: o Monte Abiegno, a anábase celeste e a transformação da experiência da Montanha num modo de ser ao estilo de Julius Evola.

«(…) la verdadera realización, la superación del elemento instintivo e irracional, la plena y firme autoconsciencia, es decir, la transformación de la experiencia de la montaña en un modo de ser. Es entonces cuando surge (…) el sentido de que todo o marchar, todo ascender, todo conquistar, todo osar, es el único medio contingente de expresión de una realidad inmaterial, lo cual podría tener muchos otros medios: y esto sería la fuerza de aquellos que, en el fondo, pueden decir a sí mismos que nunca regresamos desde las cumbres hasta la llanura, de aquellos a quienes no les importa ni el ir ni el volver, porque la montaña está en su espíritu, porque el símbolo se ha convertido en realidad (…).»
Julius Evola in Meditaciones de las Cumbres (1974)

Rui Calado © Biblioteca Municipal de Lagoa (14/12/2018)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUIÇA, Pedro. Guia de Montanha – Manual Técnico de Montanhismo I. Lisboa: Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal/Campo Base, 2010. ISBN 978-989-96647-1-5


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