Rui Calado © Biblioteca Municipal de Lagoa (14/12/2018)
«O montanhismo (…), para além da componente física, será também uma
profunda experiência emocional, uma
atracção pela liberdade dos vastos
espaços verticais, pela grandiosa beleza
do mundo mineral, pela simplicidade
e rusticidade. Subir montanhas será
igualmente um meio de (re)ligação à
natureza, uma forma de transcendência… (…) “Um
fraco desejo de regressar lá ao alto surge um dia em nós. Assim recomeça o encantamento.”»
Pedro Cuiça (2010: 27)
A tertúlia sobre O Sentimento da Montanha: do imanente ao
transcendente, que decorreu no final do dia 14 de Dezembro na
Biblioteca Municipal de Lagoa (Algarve), resultou de uma proposta (melhor seria
dizer “desafio”), por parte da Dra. Maria Luísa Francisco, para abordarmos a vertente
“espiritual” do montanhismo. Um desafio certamente, tendo em conta essa forma
pouco “usual” de aproximação a ambas as temáticas, fenómeno que aliás já tínhamos
tido a oportunidade de constatar aquando da apresentação de semelhante “matéria”
(!) na Casa do Fauno.
A abordagem em causa iniciou-se através de um enquadramento
filosófico efectuado numa perspectiva assumidamente ocidental, tendo em conta
que o montanhismo teve origem nos Alpes e os seus paradigmas foram exportados para
o resto do mundo, com claras influências na sua praxis até aos dias de hoje. O Oriente não tem, de todo, o
exclusivo da “espiritualidade” e, nessa matéria, foi explanada uma perspectiva
do montanhismo consentânea com a riqueza “espiritual” do extremo Ocidente que é
esta Finisterra ibérica ainda hoje conhecida por Lusitânia, mormente à luz
daquilo que é costume designar por “filosofia portuguesa”. Da Montanha perfeita
ao foco no cume enquanto ara dea, do
sacro ofício de ascender montanhas às razões que animam essa actividade do profano (vale) ao sagrado (montanha) até ao “porquê?” e ao “para quê?” subir
montanhas. Uma via que nos conduziu ao “como?” fazer essas prática com base em
três conceitos-chave: imaginação, jogo e totalidade. Por fim, a/o
Montanha(ismo) enquanto metáfora: o Monte Abiegno, a anábase celeste e a transformação
da experiência da Montanha num modo de ser ao estilo de Julius Evola.
«(…) la verdadera realización, la superación
del elemento instintivo e irracional, la plena y firme autoconsciencia, es
decir, la transformación de la experiencia de la montaña en un modo de ser. Es
entonces cuando surge (…) el sentido de que todo o marchar, todo ascender, todo
conquistar, todo osar, es el único medio contingente de expresión de una
realidad inmaterial, lo cual podría tener muchos otros medios: y esto sería la
fuerza de aquellos que, en el fondo, pueden decir a sí mismos que nunca
regresamos desde las cumbres hasta la llanura, de aquellos a quienes no les
importa ni el ir ni el volver, porque la montaña está en su espíritu, porque el
símbolo se ha convertido en realidad (…).»
Julius Evola in Meditaciones
de las Cumbres (1974)
Rui Calado © Biblioteca Municipal de Lagoa (14/12/2018)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CUIÇA, Pedro. Guia
de Montanha – Manual Técnico de Montanhismo I. Lisboa: Federação de
Campismo e Montanhismo de Portugal/Campo Base, 2010. ISBN 978-989-96647-1-5
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