quinta-feira, 30 de junho de 2016

Maravilhamento

«I’m an idealist. I don’t know where I’m going, but I’m on my way.»
Carl Sandburg

Com quase meio século de existência, o(s) caminho(s) da (minha?) vida revela(m) o indizível e o inominável num crescendo maravilhamento… E é nesse contexto que assumo plena e integralmente a minha condição de Homem: «eterno viandante incansável para um porto infinito, no tempo e para além do tempo, no espaço e para além do espaço» (António Quadros).
[FP, 29/06/2016]


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Walk by yourself

«You see, you are not educated to be alone. Do you ever go out for a walk by yourself? It is very important to go out alone, to sit under a tree – not with a book, not with a companion, but by yourself – and observe the falling of a leaf, hear the lapping of the water, the fishermen’s song, watch the flight of a bird, and of your own thoughts as they chase each other across the space of your mind… If you are able to be alone and watch these things, then you will discover extraordinary riches which no government can tax, no human agency can corrupt, and which can never be destroyed.»
Jiddu Krishnamurti

Ó Sofia Cameira Afonso (2016)

Freedom

Amigo Júlio Carrapato, mais do que um paladino da liberdade foste um libertário. Não serás esquecido... RIP.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Pé-firme

Ó PC (2005)

«Mais que tudo quero ter
pé bem firme em leve dança
com todo o saber de adulto
todo o brincar de criança.»
Agostinho da Silva


segunda-feira, 20 de junho de 2016

O eterno retorno


Peregrinar pode ser enveredar por um processo de redenção, numa busca de autenticidade, dando especial importância à geografia do(s) caminho(s), aos astros/constelações e aos encontros significativos!... Como uma iniciação: uma arte que emerge sob a forma de poesia numa (re)ligação com as forças etéricas do (micro e macro) Cosmos. O que está oculto é precisamente aquilo que se encontra (escondido?) à vista de todos e os percursos não s(er)ão mais do que vias de desvelar frases feitas:
· Estar vivo é o contrário de estar morto;
· Uma viagem de mil quilómetros começa com um (simples) passo;
· O caminho faz-se caminhando;
· Parar é morrer;
· Peregrinar é um eterno retorno.

Hoje será certamente um dia auspicioso: o Solstício de Verão coincide com a Lua-cheia, fenómeno que só se repete com alguma raridade (à escala humana). Será, por isso, um tempo oportuno para (re)iniciar algum caminho re-levante...

Ultreia et sus eia.


«El Camiño se abre a todos,
Enfermos y sanos,
No sólo a católicos, sino aún a paganos,
A judios, hereges, ociosos y vanos,
Y más brevemente, a buenos y profanos.»

Parabéns GT

Parabéns Green Trekker :)

Ó GT (2016) 

domingo, 19 de junho de 2016

Slow down

«We live in a fast-paced society. Walking slows us down.»
Robert Sweetgall 


Ó Pedro Cuiça (Madrid, 2014)

sábado, 18 de junho de 2016

Strong legs

«Strong legs, good health»… Pernas fortes será certamente meio caminho andado para alcançar uma saúde de ferro. Meio caminho porque, a crer na Didáctica Magna de Comenius1, o nosso corpo mantém-se vigoroso não só através de «exercícios sérios e de jogos» mas também mediante uma «dieta moderada», baseada em «alimentos simples», e um retemperador repouso. «Se alguém observa estas três coisas (alimentar-se sobriamente, exercitar o corpo e ajudar a natureza) é impossível que não conserve durante muitíssimo tempo a saúde e a vida, salvo caso de força maior.»2

1. João Amós Coménio (1592-1670)
2. Cf. COMÉNIO, J. A.. Didáctica Magna – Tratado da arte de ensinar tudo a todos; Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985: 201.

Ó Pedro Cuiça - Way Home (Santos - Lisboa; 17/06/2016)

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Eco-sofisticação



...por esta e por outras, vou hoje a pé para casa!
Afinal são só pouco mais de 20 quilómetros de 
eco-sofisticação :) 



Free Walking

O andar é como a realidade: não é a preto e branco (e, muito menos, cinzento) mas, sim, multicolor. E é precisamente essa notória e notável característica, de ser uma actividade multifacetada (e, por-tanto, plena de possibilidades e de cambiantes), que faz com que o andar seja algo tão fascinante quanto a realidade. Que andar seja algo tão real e concreto quanto a vida; que andar seja viver, que andar plenamente seja viver plenamente, sem predefinições, preconceitos e, menos ainda, proibições! E é precisamente e também por isso (e muito mais), que andar, tal como viver, se pode e deve fazer – na verdade se faz – de diversas formas consoante as circunstâncias, os tempos e os espaços, em que decorra. Por isso se pode andar, e anda, em atenção plena ou na mais plena desatenção (ou distracção, como se queira), no mais completo silêncio ou sob uma entusiástica e peripatética troca de ideias. Por isso se pode andar lentamente, como acelerar ou até parar. O andar (walking) quer-se livre (free) e gratuito (free).


No talking, just walking

«In Plum Village, the practice center where I live in southwest France, we don’t talk when we walk. This helps us fully enjoy walking one hundred percent. If you talk a lot, then it’s difficult for you to experience your steps deeply, and you won’t enjoy them very much. The same is true when you drink a cup of tea: if you’re concentrated and you focus your attention on the cup of tea, then the cup of tea becomes a great joy. Mindfulness and concentration bring about pleasure and insight.»

Thich Nhat Hanh
(in How to Walk (2015); Berkeley: Parallax Press, p.29)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Glad you could make it


She had set off yesterday to find a Yanomani village in the mountains and said she would be back that night. But no one had seen her. I cast around, through the shanties and bars the miners had erected, among the groups of men in the bottom of the pits, without success. I found my friend Paulo, a mechanic who had defended the indigenous people in arguments with the other miners, and we struck up the valley to look for her. The river ran orange and dead, choked by the forest clay disturbed by the mines. Around it, the valley was a wasteland of pits, spoil heaps and toppled trees. The miners who worked a stake called Junior Blefé told us that Barbara had passed through the previous day but had not returned. A man with a drinker’s face and a black eye knew how to find the village and agreed to guide us. We set off, running, into the mountains.
Soon after we entered the darkness of the forest we began to find the prints of Barbara’s plimsolls, a day old, overlain by the naked tracks of the Yanomani. I kept my eyes on the ground, but every so often Paulo would stop and shout. ‘Look at the water, look at those trees: so beautiful, isn’t that beautiful?’ I would stand and gaze for a moment, and see trees weighed down above clear water by moss and epiphytes, damselflies pausing in spots of light.
We ran on, following Barbara’s footprints, slipping on the clay path. By midday we started to climb steeply; my breath came as if drawn trough a sheet. Soon I saw light ahead of us: we were reaching the top of a mountain. From its crest we saw women on the far side of the valley, dressed only in loincloths, moving through banana groves, carrying baskets of fruit. Hills stepped away into silence, forested, undisturbed. We remained hidden among the trees for a few minutes, then we walked down to the lap of the valley and up into the gardens, calling out in Portuguese that we were friends. They stood still and watched us come close. I put out my hands and they shook them with shy grins.
‘White woman,’ I said. ‘Have you seen the white woman?’ I mimed Barbara’s height and long hair.
They laughed and pointed up the slope behind them, into the forest. We began to run again, over the mountain and down into the next valley. We stumbled, exhausted, along the valley floor, tripping on roots, blundering into trees. We turned a corner of the path and stopped.
In the glade beside a stream a crowd of people sat or knelt, the honey of their skins cooled by the stained-glass light of the forest. The women wore feathers in their ears, the painted spots and stripes of wildcats; and jaguar’s whiskers: stems of dried grass piercing their noses and cheeks. In the middle of the circle, radiant as a flower in the green dark of the forest, was Barbara.
She turned and smiled. ‘Glad you could make it.

[in MONBIOT, George. Feral – Rewilding the Land, Sea and Human Life. London: Pinguin Books, 2014, pg. 3-4]



quarta-feira, 8 de junho de 2016

Dar tempo ao tempo

É gratificante constatar o actual interesse pela caminhada como actividade retemperadora do bem-estar e da saúde dos praticantes. Mais curioso do que interessante é deparar com apologistas dos benefícios da marcha e que simultaneamente defendem uma espécie de «caminhadas instantâneas» que, por um lado, satisfazem as necessidades prementes de exercício físico e, simultaneamente, não comprometem os afazeres de quem se acha tão ocupadíssimo!… Sendo certo que «antes pouco do que nada», uma prática integrante e integradora de caminhada passará necessariamente por um (re)ajuste do dia-a-dia no que concerne não só à vivência (e portanto à disponibilidade) do tempo como também à implementação de efectivos estilos de vida verdadeiramente impactantes, mormente no que concerne a uma alimentação natural e a um sono revigorante.

Nos dias que correm é recorrente falar-se de falta de tempo!... Apesar de existirem mil e uma invenções que pretensamente servem para acelerar processos – e, por isso, para poupar tempo (?) – nunca houve tanta falta de tempo como agora! Nesse contexto, será compreensível a opinião dos paladinos das «marchas instantâneas», «caminhadas paliativas» ou sucedâneos, contudo tal comporta uma manifesta incongruência. Os benefícios da caminhada passam precisamente pela «desaceleração» ou, melhor, pela vivência do aqui e do agora, para além do tempo passado ou futuro, independentemente do ritmo da marcha. Só desta forma poderão os praticantes atingir elevados níveis de atenção e de consciência, (re)ligando-se profundamente ao meio circundante e ao si (portanto ao todo), libertando-se de eventuais stresses e/ou distracções nefastas. Desta forma, caminhar poderá transcender o simples (mas poderoso) exercício físico de andar, tornando-se uma actividade holística, com assumidas e diversificadas componentes, designadamente de âmbito espiritual ou psicológico (como queiram). Desta forma, caminhar torna-se uma espécie de «máquina do tempo», uma forma de regresso à (nossa) Natureza, às origens, ao primal…


Ó Pedro Cuiça (Santa Rita - Algarve)

Os símios andam, por norma, menos de três quilómetros por dia, mas os seres humanos são caminhantes de fundo prodigiosos. Um ser humano audaz, George Meegan, percorreu recentemente o trajeto desde a extremidade austral da América do Sul até à parte mais setentrional do Alasca, fazendo uma média de 13 quilómetros por dia. Embora a jornada de Meegan tenha sido invulgar, a distância média diária por ele percorrida não está longe daquilo que os modernos caçadores-recolectores andam quando forrageiam (as fêmeas fazem uma média de nove quilómetros e os machos 15 quilómetros). 
[LIEBERMAN, 2015: 111]

Os inconvenientes da falta de tratamento das causas de uma doença têm vindo a ser discutidos e debatidos desde há séculos, regra geral no contexto da doença de um paciente. Segundo o dicionário, o sentido da palavra “paliativo” (usada pela primeira vez no século XV) prendia-se com cuidados que «aliviam os sintomas da doença ou condição sem lidar com a causa subjacente». Além disso, muitos biólogos evolutivos e antropólogos explicaram como a cultura e a biologia interagem entre si ao longo de vastos períodos de tempo, não só para estimular a mudança biológica, mas também para estimular a mudança cultural. (…) Todavia, falta-nos um bom termo para o pernicioso ciclo de retroação que ocorre ao longo de múltiplas gerações quando não tratamos as causas de uma doença de incompatibilidade, transmitindo, em vez disso, os fatores ambientais que causam a doença prevalente e por vezes a piora. Regra geral sou avesso a neologismos, mas creio que «desevolução» é uma palavra nova útil e adequada, pois, segundo a perspetiva do corpo, o processo é uma forma de mudança prejudicial (des) ao longo do tempo (evolução).
[LIEBERMAN, 2015: 235]

Uma forma muito simples de comparar o trabalho dos agricultores, dos caçadores-recoletores e dos povos pós-industriais modernos é avaliar o nível de atividade física (NAF). O NAF avalia o número de calorias gastas por dia (gasto energético total), dividido pelo número mínimo de calorias necessário para que o corpo funcione (o índice metabólico em repouso, IMR). Em termos práticos, o NAF é o rácio entre a energia gasta em dada altura e a quantidade necessária de energia para dormir um dia inteiro numa temperatura confortável de cerca de 25 graus centígrados. O nosso NAF será provavelmente de cerca de 1,6 se for um empregado de escritório sedentário, mas poderá baixar até 1,2 se passar o dia em repouso num hospital, e poderá subir aos 2,5 ou mais se estiver a treinar para uma maratona ou para a Volta a França em Bicicleta. Vários estudos descobriram que os NAF dos agricultores de subsistência de África, Ásia e América do Sul são uma média de 2,1 nos homens e 1,9 nas mulheres (variação: 1,6 a 2,4), apenas ligeiramente mais elevado do NAF da maior parte dos caçadores-recoletores, em média 1.9 nos homens e 1,8 nas mulheres (variação: 1,6 a 2,2).
[LIEBERMAN, 2015: 261]

Ó Pedro Cuiça (Castroeiro - Mondim de Basto, Jun. 2016)


Bibliografia

LIEBERMAN, Daniel. A História do Corpo Humano - Evolução, saúde e doença. Lisboa: Temas e Debates & Círculo de Leitores, 2015. ISBN 978-989-644-317-7