«(…) entre muitas tribos que em tempos foram
indígenas da América do Norte, um rapaz só podia adquirir a compreensão
necessária para entrar na sociedade dos homens adultos empreendendo uma demanda solitária de uma visão – só
tornando-se vulnerável às forças selvagens da terra e, se necessário,
implorando uma visão a essas forças. A “Deambulação”
iniciática empreendida pelos aborígenes australianos é, uma vez mais, apenas um
mais-do-que-humano em busca de ensinamentos que devem vitalizar e sustentar a
comunidade humana.
Nas culturas indígenas orais, a própria natureza é
articulada; a natureza fala. A voz
humana numa cultura oral compartilha sempre, em alguma medida, as vozes dos
lobos, do vento, das ondas – ou seja, compartilha o discurso envolvente de uma
terra animada. Não há qualquer elemento da paisagem que seja definitivamente
desprovido de ressonância e força expressiva: qualquer movimento pode ser um
gesto, qualquer som pode ser uma voz, um enunciado com sentido.»
David ABRAM: A
Magia do Sensível – Percepção e Linguagem num mundo mais do que humano.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007, p.120
Ó Pedro Cuiça - Grand Canyon (Arizona - USA)
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